Por Sierra
![]() |
Foto: Arquivo do Autor A maldita catraca gigante que está sendo instalada em ônibus da Região Metropolitana do Recife |
Quando eu ouço alguém dizer que faz de tudo na vida pra não precisar andar de ônibus, eu entendo inteiramente isso, porque não é um exercício de sobrevivência agradável depender do busão como único meio de transporte para ir e voltar do trabalho, dos estudos ou de qualquer outro compromisso. E a situação é ainda mais difícil se você toma parte como usuário num sistema de transporte público de passageiros de uma Região Metropolitana muito populosa como é a do Recife. Num cenário como o verificado nos terminais de embarque e desembarque da capital pernambucana e nos de suas cidades vizinhas ser dependente de coletivos é só para os fortes, porque os fracos não aguentam não.
Entra ano e sai ano e os usuários do transporte público não veem melhorias significativas no sistema. E o que é implantado como promessa de melhoria tende a desaparecer, como foi o caso do sistema de terminais integrados que possibilitava embarque e desembarque em vários coletivos, fazendo baldeação, com o pagamento de uma única passagem. Esse grande ganho foi tirado do passageiro; sob a alegação de perdas na arrecadação devido a fatores como gente que embarca pelas portas traseiras fora dos terminais e a diminuição de passageiros mesmo, de gente que tem recorrido a outros meios, como carros de aplicativo, os administradores do sistema resolveram penalizar os pagantes, instituindo um "embarque temporal", que consiste em poder embarcar em mais de um coletivo só que dentro de determinado tempo; e esse é um sistema que, além de tudo, é falho: não são raros os casos de pessoas que pagam pelo menos duas passagens para chegar aos seus destinos por razões como: falha do próprio sistema eletrônico, que diz que a pessoa já extrapolou o tempo, ainda que, na realidade, isso não tenha acontecido; e porque a pessoa enfrentou congestionamentos no percurso que a impossibilitaram fazer outro embarque dentro do tempo-limite para tanto.
Como é de praxe neste país, novamente coube aos que procuram levar a vida seguindo as regras de bom convívio social pagar pelo comportamento de maus cidadãos - sim, maus cidadãos, porque nem todos que burlam o sistema são indivíduos desempregados e desamparados pelo Estado e que não podem pagar uma passagem que não é barata - que fazem uso do sistema de transporte público de passageiros na Região Metropolitana do Recife.
Mais uma vez a alegando perda no volume de pagamento de passagens, porque, como eu disse, indivíduos embarcam pelas portas traseiras sem pagar nada e porque, além desses, existe outro tipo de infrator, que é o sujeito que, mesmo embarcando pela porta dianteira, não paga a tarifa, porque ele trata simplesmente de pular a catraca na maior cara-dura, seguro de si e de que não sofrerá nenhuma penalidade pela prática dessa infração, os administradores promoveram mais uma mudança para pior. E o que foi que as mentes brilhantes dos que administram o sistema resolveram fazer para tentar coibir mais esse problema que está a mexer com os bolsos deles? Penalizar o cidadão de bem impondo a ele um ofensivo e constrangedor obstáculo que ele obrigatoriamente tem de atravessar: uma catraca enorme que vai do piso ao teto do ônibus.
Embora não sejam exatamente uma novidade, porque já faz alguns anos que catracas desse tipo foram instaladas em coletivos de determinadas linhas, só que nas portas traseiras, as ofensivas e constrangedoras catracas gigantes começaram a ser instaladas em mais ônibus há pouco mais de um mês, causando indignação e revolta em vários usuários que consideraram a medida injusta, arbitrária e mesmo ofensiva. Semanas atrás correram as redes sociais e alguns sites de notícias a imagem de uma mulher que ficou com a cabeça presa ao tentar passar por uma maldita catraca gigante.
Eu mesmo, em mais de uma ocasião, tive problemas para passar por aquele verdadeiro monstrengo de ferro. O perrengue mais recente que aconteceu comigo ocorreu na última quarta-feira: quando eu estava passando com uma mochila e uma sacola de compras, a sacola ficou pesa. Um rapaz me auxiliou dizendo: "Essa catraca é terrível. Só Jesus na causa".
As catracas gigantes que estão sendo instaladas nos ônibus do sistema de transporte público de passageiros da Região Metropolitana do Recife - e contrariando a ordem do Ministério Público de Pernambuco para que elas fossem desinstaladas - são uma aberração total e completa; são algo ofensivo e eu diria até que opressor, porque elas fazem as vezes de um instrumento de tortura que pune e humilha todos aqueles que têm de passar por elas. Também chamadas de catracas elevadas e duplas, elas estão reconfigurando o lidar do usuário com o transporte público de passageiros; usuário que quase sempre é penalizado seja com tarifas caras, seja com viagens em ônibus superlotados, seja com atrasos nos horários de partida e de chegada, seja, enfim, com um senso de desumanidade e de desrespeito para com todos aqueles que diariamente, por não terem outra alternativa, precisam embarcar e desembarcar de ônibus para tocarem as suas vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário