16 de dezembro de 2023

Sobre não dar uma segunda chance

 Por Sierra


Imagem: iStock
Sabe a colmeia que basta você  mexer para que todas as abelhas fiquem assanhadas e prontas para se defender? Eu sou assim. Eu tenho comportamento de abelha. E eu não sou só mel, não, eu também tenho muito de fel e de amargor. Como eu repetidamente afirmo: cada um é o que é; e não tem como esconder o que se é o tempo todo


Sabe quando uma pessoa entra na sua vida e vai ocupando espaços em seus sentimentos e no seu coração sem necessariamente ser alguém que você intencione namorar ou ter um relacionamento ainda mais sério? Sabe quando uma pessoa vai se tornando importante para você e que desperta em você admiração, cuidado, respeito, torcida para que tudo na vida dela corra bem; que causa alegria em você quando ela conquista algo; que você por vezes fica com ânsia de reencontrá-la porque ela parece que ilumina a si e as pessoas que as cercam; e que provoca tristeza em você quando ela está atravessando maus bocados? Não duvido que você tenha tido e/ou tem pelo menos uma pessoa com esse perfil em sua vida.

Eu tenho e tive pessoas iluminadoras ao longo da minha vida. E só quem algum dia levou uma rasteira de alguém a quem sequer tanto bem sabe o quanto isso nos machuca e nos causa certa revolta misturada com raiva e tristeza. E é sobre isso que eu quero falar aqui hoje.

Eu sou muito temperamental. Sou mesmo. Sou e não nego isso nem se me colocarem num cadafalso sob o olhar de um carrasco. E ser temperamental me pôs e me põe em situações que no mais das vezes fazem com que eu aja de modo absolutamente férreo, determinado e sem querer fazer valer outra coisa que não seja a minha determinação e resolução para o caso.  Não é que eu aja sem pensar. Ocorre que, por vezes, esse pensar não me dá margem para amplas e demoradas reflexões. Sabe a colmeia que basta você  mexer para que todas as abelhas fiquem assanhadas e prontas para se defender? Eu sou assim. Eu tenho comportamento de abelha. E eu não sou só mel, não, eu também tenho muito de fel e de amargor. Como eu repetidamente afirmo: cada um é o que é; e não tem como esconder o que se é o tempo todo.

Eu sou duro e indiferente a uma porção de comportamentos de uns e outros com relação a mim. Por exemplo, eu, sinceramente, não me importo que me achem feio; que reprovem a minha conduta sexual; que digam que eu sou um fracassado; que condenem o fato de eu até agora não ter me casado; que profetizem que eu irei para o inferno por eu ser ateu; que me chamem de egoísta e individualista; que afirmem que eu não sei escrever; que eu sou um antissocial; que eu não passo de um recalcado revoltadinho; e que eu sou uma farsa. Nada disso me tira do sério e nem me incomoda. O que eu de maneira alguma relevo e nem ignoro é a falsidade e a mentira vindas de quem eu ofereço o melhor dos meus sentimentos. Isso nunca merece de mim uma reconsideração de ato e nem aceitação de pedidos de desculpas.

Um entre os vários defeitos que eu tenho é o de não conseguir dar uma segunda chance a quem me sacaneou. Eu me recuso terminantemente a dar outra oportunidade. Ninguém me peça para fazer isso, porque eu não darei outra chance a alguém que eu ofereci o melhor de mim e a criatura foi lá e me massacrou pelas costas, me apequenou, me caluniou, me humilhou e me destruiu em palavras em conversas com outras pessoas, parecendo até que eu era um dos seus inimigos e não alguém que sempre lhe estendia a mão e lhe abria toda a vida em confissões numa cumplicidade que para mim parecia ser legítima e recíproca.

O erro foi inteiramente meu, eu já reconheci isso. O erro foi meu por eu ter visto todos os indícios e sinais de deslealdade que a pessoa destinava a outros conhecidos dela e, ainda assim, ter acreditado e apostado que comigo seria diferente. Ora essa, por que comigo iria ser diferente? Eu sou alguém especial, por acaso? A pessoa quase todo o tempo deixava evidente que era do tipo que despreza, fala mal e maltrata quem nutre bons sentimentos por ela e que, por outro lado, idolatra e exalta todos aqueles que passaram como aves de rapina por ela, arrancando e subtraindo dela o que fosse possível. É claro que, com um histórico desse, ela não iria e nem poderia agir de outra forma comigo; e eu disse exatamente isso a ela quando decidi romper os laços que me ligavam a ela e não ela a mim, porque os sentimentos de cuidado, de proteção, de carinho, de compaixão e de bem-querer, infelizmente, trafegavam numa via de mão única.

Eu nunca esquecerei o que o Antônio Maria escreveu em seu diário a respeito do seu parceiro musical, Fernando Lobo: "Alegra-me hoje estar livre de todo o bem que lhe queria". Eu não posso dizer o mesmo em relação a essa mais recente criatura que foi tão cruel para com os bons sentimentos que eu lhe ofertava e tão ingrata para com as tiradas de sufoco que eu lhe proporcionei. Na verdade, num primeiro momento eu fiquei com raiva, uma raiva que acabou dando lugar a um lamento e a uma tristeza. Mas isso já passou. Felizmente isso já passou. E eu continuo crendo que quem saiu realmente perdendo foi ela, porque eu ganhei mais um livramento na vida. Uma das lições básicas de meu viver é esta: quem não nos quer bem só merece de nós desdém.

Eu precisava escrever isso como um meio de expurgar o que ocorreu. Tem gente que tem vergonha de contar que foi sacaneada, ludibriada, subtraída e enganada. Eu não. A bem da verdade, quando eu conto os meus sofrimentos, o peso dos infortúnios vai saindo de cima de mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário