29 de junho de 2024

Personas urbanas ( 32)

 Por Sierra


Sai da minha aba, sai pra lá.

Sem essa de não poder me ver.

Sai da minha aba, sai pra lá.

Não aturo mais você. 

                                          Sai da Minha aba. Alexandre Pires/Lourenço Olegário



Pessoas insuportáveis. De várias coisas nós não conseguimos escapar nesta vida: das doenças, dos impostos, da morte e de pessoas insuportáveis. Não dá para escapar o tempo todo delas, por mais que tentemos evitá-las, porque elas são quase que onipresentes.

Driblar, tentar evitar, se afastar e até correr e/ou mudar de caminho, se for possível, para não esbarrar em pessoas insuportáveis é um exercício que exige esforço permanente tanto físico como mental.

Tem gente que pensa e acredita que pessoas insuportáveis não sabem que são insuportáveis. Eu não acredito nisso. E digo mais: pessoas insuportáveis não apenas sabem que são insuportáveis como sadicamente agem e fazem de tudo para incomodar ainda mais você, para que você não suporte mais a presença indesejável dela, saia do seu eixo e perca as estribeiras.

As pessoas insuportáveis possuem um acentuado teor de malignidade. Elas não param e não se conformam até conseguir atanazar nem que seja um indivíduo por dia. Eu acredito verdadeiramente que elas traçam estratégias, que elas planejam, que elas maquinam o que vão fazer para manter o seu caráter de insuportabilidade. Elas não sossegam enquanto não atingem seus intentos. Não sossegam. Elas partem para cima de quem quer que seja que esteja ao alcance delas para dar início ao seu ritual sádico.

Não sei se vocês já perceberam que, geralmente, as pessoas insuportáveis têm algum grau de parentesco com o Google. Elas se consideram muito sabedoras, muito inteligentes e especialistas em vários assuntos; e, por conta disso, acreditam que têm algo a oferecer a você; que você deve parar o que estiver fazendo para dar toda a atenção a elas, dure isso o tempo que for; e que você se comportará como um tremendo de um mal-educado e de um ingrato caso as interrompa e diga-lhes que tem muito o que fazer.

Certamente há algo de doentio nas pessoas insuportáveis. Só pode haver. Não é possível que seja normal alguém que age o tempo todo assim; alguém que fala excessivamente, como se não precisasse respirar e que não cede espaço e que não deixa brecha para que você fale, para que você diga alguma coisa, para que você emita uma opiniãozinha de nada.

As pessoas insuportáveis, eu imagino, se sentem como se fossem um sol em torno do qual deve gravitar a massa restante. Elas querem ser o centro das atenções. Elas sempre têm as melhores ideias, projetos e indicações. Caso você consiga fazer um aparte e caso você consiga ser ouvido por elas, você será esmagado de uma vez pela avalanche de informações que elas despejarão sobre a sua cabeça que, a esta altura, já estará a ponto de explodir. E você vai querer dar um basta na situação; e anunciar que está muito apertado e precisando ir ao banheiro só para se livrar ainda que brevemente desses encostos.

Como por vezes o meu senso de autopreservação opera com uma carga de energia muito elevada, não é raro que eu, com a minha velha conhecida impaciência, enfrente valentemente alguns exemplares dessas pessoas insuportáveis e as afaste de mim de alguma forma. E mesmo que eu não consiga afastá-las de imediato, eu trato de deixar claro, claríssimo, que elas estão em incomodando, me chateando e me aborrecendo. Ah, leitor, eu não tenho mais idade para suportar certas coisas e certos tipos de gente, não.

Dia desses eu cheguei para uma criatura dessas e falei pausadamente e expliquei em detalhes como e por que ela era e é uma pessoa incômoda e insuportável. Ela me ouviu atentamente ou fez de conta que me ouviu. Ela me ouviu e, claro, não gostou do que eu disse. Eu precisava dizer tudo aquilo que falei para ver ser ao menos aquele indivíduo se tocava do quanto ele era e é incômodo para mim. Eu confesso que não demorou muito e ele retomou a sua rotina de insuportabilidade. E, já que falar não resolveu o negócio e eu não tenho como escapar totalmente dele, eu tratei de não me demorar onde ele se encontre e não alimento e nem dou mais combustível para o que ele fala, porque as pessoas insuportáveis querem exatamente isso, que você, caso ela permita a sua fala, faça alguma pergunta ou um comentário qualquer sobre o que ela falou. Se você fizer isso, você se lasca ainda mais, porque o discurso dela prosseguirá.

Será que existe uma receita? Será que existe um remédio? Será que existe um método facilmente aplicável para que nós possamos pelos menos suportar as pessoas insuportáveis sem sofrer alguma sequela? Eu creio que não. Mas eu não esmoreço. Eu sempre penso no meu bem-estar. E faço o que me é possível para ficar bem longe desse tipo de gente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário