20 de julho de 2024

O Museu de Arte Sacra de Pernambuco

Por Sierra


Fotos: Arquivo do Autor
O Museu de Arte Sacra de Pernambuco, localizado no Alto da Sé, em Olinda, é um exemplo de como a preservação da memória pode atravessar séculos e continuar despertando o fascínio das pessoas para as coisas do passado  



No começo desta semana eu me peguei pensando em voltar ao Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), que fica no Alto da Sé, em Olinda. Eu disse voltar porque esse foi o primeiro museu que eu visitei na vida; e isso ocorreu em 1985, numa excursão da Escola Polivalente de Abreu e Lima, onde eu estudava, quando tinha 11 anos de idade.

As tramas da memória são mesmo um espanto: enquanto há acontecimentos de tempos remotos que nós vivenciamos que conseguimos recordar com grande riqueza de detalhes,  de outros nós simplesmente não nos recordamos, como se eles não tivessem ocorrido em nossas vidas. Pois é exatamente isso  que se deu comigo com relação ao Maspe. Eu recordo que houve a excursão escolar, que eu fiquei muito contente quando embarquei no ônibus, em Abreu e Lima, e desembarquei, em Olinda, e o instante em que eu e os meus colegas ficamos defronte ao museu prontos para entrar e conhecê-lo. Daí em diante eu não me lembro de mais nada.




O acervo do Maspe é de uma riqueza realmente impressionante; e documenta vários séculos da arte sacra em Pernambuco










Ontem, à tarde, ao largar do trabalho, eu me dirigi até o Alto da Sé, localidade turística das mais visitadas de Olinda, para outra vez adentrar no Maspe, depois de trinta e nove anos. E eu confesso que, se não fosse a minha familiaridade com a bela fachada do antigo Palácio Episcopal que abriga o museu, porque eu já passara por ali inúmeras vezes, tudo o mais figuraria como algo novo e completamente desconhecido, visto que minha memória da visita ocorrida em 1985 simplesmente se apagou. Eu confesso também - é preciso que eu diga isso - que certa emoção me invadiu quando eu adentrei naquele imóvel. Emoção essa por reconhecer que, transcorridos quase quarenta anos, foi o cultivo de uma vida interior e o interesse pelas artes e pelas questões do patrimônio histórico e artístico que me conduziram àquele lugar.














Paguei o ingresso de R$ 5,00 - a recepcionista me falou que o valor estava promocional para todo o público visitante -, guardei a mochila no armário e comecei a percorrer os salões, os grandes salões do térreo e, depois, os do primeiro andar, para apreciar o belo acervo que é composto por pinturas, esculturas, sinos, móveis, vestes e objetos litúrgicos. Tudo ou quase tudo disposto num projeto museológico que confere às peças expostas não somente uma atmosfera de excepcionalidade como também potencializa o caráter de sacralidade.







O próprio prédio onde o Maspe foi instalado e inaugurado em abril de 1977 - a edificação passou muito tempo em estado de abandono; até que a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) iniciou um trabalho de restauração em abril de 1974 que durou três anos - é por si só merecedor de uma visitação. A edificação que, antes de passar a ser a residência do primeiro bispo diocesano de Olinda, Dom Estêvão Brioso de Figueiredo, que chegou a então vila em 1676 - neste mesmo ano a vila foi elevada à cidade -, era a Casa de Câmara do lugar, passou por várias reformas em 1725. De acordo com o Padre Antonio Barbosa, para quem o Palácio Episcopal é um "marco perene de valor histórico e cultural", em 1785 a edificação foi novamente ampliada e restaurada; e completou: "De 1825 a 1829, o décimo sexto bispo de Olinda, Dom Tomás de Noronha, aumentou e construiu varandas e sacadas, dando-lhe suntuosidade palaciana" (Padre Antonio Barbosa. Relíquias de Pernambuco: guia aos monumentos históricos de Olinda e Recife. São Paulo: Editora Fundo Educativo Brasileiro, 1983, p. 5, ambas as citações).



Este painel documenta fotograficamente vários períodos da história do antigo Palácio Episcopal



Eu exibindo uma satisfação imensa por poder desfrutar do privilégio de apreciar um equipamento cultural tão bem cuidado como o é o Maspe









Durante a minha visita ao Maspe, que goza de uma localização realmente privilegiada- dá para ver o mar de suas sacadas -, minha atenção ficou dividida em apreciar os itens do acervo e as feições do prédio: suas janelas, portas, salões e telhado. A mim me pareceu que ali há espaço para abrigar muito mais peças: oxalá algum colecionador de arte sacra faça uma generosa doação para aumentar o acervo desse importante equipamento cultural pernambucano. Também a  mim me pareceu que um dos salões do primeiro andar não ficou bem ambientado com as peças que nele foram arrumadas - algumas delas de tempos recentes -; em mim elas causaram certo estranhamento, porque eu as enxerguei como objetos que destoam  do conjunto maior que integra o acervo.



Nesta e nas fotos seguintes diferentes aspectos da arquitetura do antigo Palácio Episcopal que abriga o Maspe















O elevador, discretamente instalado, em nada comprometeu a estrutura do prédio; e proporciona acessibilidade ao primeiro andar a todos os visitantes que não podem acessar escadas



Ah, e eu não posso deixar de dizer, eu que já vi tantos oratórios em minha vida, que eu fiquei fascinado pelo grande oratório em que foi reproduzida a crucificação de Jesus Cristo com várias esculturas formando uma cena que é de encher os olhos. É uma peça muito bonita e encantadora. 


























Outra coisa: eu fiz questão de adquirir, na recepção, um exemplar do bonito catálogo que foi lançado em 2018 pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE) dentro das comemorações dos quarenta anos do museu.


O mar, a Catedral da Sé, a feira de artesanato e de comidinhas... Tudo isso no entorno do Maspe, proporcionando várias experiências aos visitantes








Bem localizado, expondo um acervo riquíssimo, retrato bastante representativo da arte sacra brasileira, e dispondo de um elevador como item de acessibilidade, o Maspe é uma dessas atrações que dizem ser imperdíveis. E é mesmo.

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