10 de agosto de 2024

No Museu do Homem do Nordeste


Por Sierra


Fotos: Arquivo do Autor
Certamente um dos xodós de mestre Gilberto Freyre, o Museu do Homem do Nordeste possui um acervo admirável e está esperando a suas visita


Normalmente é tomado por uma grande curiosidade que eu busco ver exposições em museus, galerias e espaços culturais outros. E essa curiosidade se nutre não só pelo querer ver o que está exposto, mas também pela maneira como uma coisa e outra foram expostas.

Digo isso porque, para mim, pela experiência ampla que eu possuo como visitante de exposições, o projeto museológico, a iluminação, a disposição de cada item do acervo e o cenário como um todo tanto podem atrair como afastar o expectador para prestigiar uma exposição. Dito isso, segundo a minha avaliação como visitante, indiscutivelmente um museu se torna mais ou menos atraente conforme a conjunção entre as peças expostas e a forma ou formas como elas estão dispostas nos espaços que as recebe.









No último dia 21 de julho, aproveitando o evento inaugural das comemorações dos 75 anos de criação da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) - quando de sua criação, a sua denominação era Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais -, eu aproveitei a ocasião e o tempo disponíveis para visitar mais uma vez o Museu do Homem do Nordeste.

Um dos mais vistosos e visitados equipamentos culturais que faz parte parte da Fundaj, o Museu do Homem do Nordeste (MUHNE) é um dos grandes museus que existem no Recife. Ele está instalado no campus do bairro de Casa Forte, daquela instituição; e era, eu não tenho nenhuma dúvida disso, um dos maiores orgulhos e uma verdadeiro xodó de Gilberto Freyre, que apreciava museus - ele que visitou tantos por este mundo afora - de uma maneira até apaixonada, eu diria, porque os via como espaços de múltiplos significados, préstimos e importância não só para a preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural do país, bem como lugares onde modos de vida e de estar situado na sociedade também podem e devem ser preservados e mostrados.








Num texto originalmente escrito para um projeto de catálogo do MUHNE, o autor de Ordem e Progresso disse assim:

O Museu do Homem do Nordeste concorre para que se desenvolvam, entre nós, uma Antropologia e uma Sociologia do Homem da Civilização do Açúcar, sem deixar de apresentar o que, desses pontos de vista, é significativo noutras áreas de expressão socioeconômica da Região, como a sertanejamente agropastoril. Nenhum escolar ou estudante nordestino deve chegar ao fim dos estudos secundários, ou dos universitários, desconhecendo o que se encontra nesse museu-laboratório. Nenhum estudante universitário, nordestino ou brasileiro, de Ciências Sociais, de História, de Letras, de Artes, de Religião, pode dar-se ao luxo de ignorá-lo. Nem pode ignorá-lo o estudante estrangeiro que venha ao Brasil com o intuito de pesquisar, nesses setores, assuntos brasileiros. É museu essencial aos seus estudos, à sua formação, ao seu conhecimento da chamada realidade brasileira, ao seu conhecimento do passado social do Nordeste do Brasil (Gilberto Freyre. "Que é museu do homem? Um exemplo: O Museu do Homem do Nordeste brasileiro". In O Museu do Homem do Nordeste. São Paulo: Banco Safra, 2000, p. 16).





Entrei no MUHNE e me pus, com um misto de satisfação e desejo de aprender mais coisas, a percorrer os salões repletos de fotografias, móveis, instrumentos de tortura e castigos que foram utilizados contra negros escravizados, expressões de religiosidade popular, vestes e adereços de maracatu e de outros folguedos da chamada cultura popular, instrumentos de trabalho, quadros, etc. Uma miscelânea disposta em vários ambientes, todos eles despertando em mim e nos outros visitantes, eu não duvido disso, curiosidade, interesse, espanto e mesmo alguma alegria. 

Naquele domingo de visita ao MUHNE por algum instante eu fiz questão de me deter junto a um grupo que recebia acompanhamento de um dos monitores do museu. Apraz-me demais presenciar esses momentos de partilha de conhecimento. E flagrar pessoas visitando museus, ver pessoas de várias idades colocando museus em seus roteiros de passeios me alegra tremendamente e me faz pensar que, diferentemente do que dizem alguns, por causa do nosso apego desmedido aos telefones celulares, os museus continuam despertando o interesse de uma parcela da população que permanece acreditando que as experiências reais podem e devem sim ser conciliadas com os muitos apelos do mundo virtual.










Enquanto eu ia vendo as peças do acervo do MUHNE e fotograva um e outro objeto, eu festejava dentro de mim mais esse legado de mestre Gilberto Freyre, compreendendo a dimensão dessa sua obra como algo que é grandioso em vários aspectos. A existência do MUHNE significa não somente a compreensão da necessidade de manutenção de espaços museais, como ele, mas também a validade de preservação, salvaguarda e difusão de conhecimentos; conhecimentos esses que objetivem essencialmente promover a transformação social dos indivíduos.





Como parte do imenso legado humanista de Gilberto Freyre, o MUHNE é um pedaço do Nordeste e do Brasil que merece e muito ser visitado.

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