1 de abril de 2011

Personas urbanas (3)

Por Clênio Sierra de Alcântara


"Eu não peço desculpa
E nem peço perdão
Não, não é minha culpa
Essa minha obsessão
Já não agüento mais
Ver o meu coração
Como um vermelho balão
Rolando e sangrando,
Chutado pelo chão [...]"

                       Eu não peço desculpa. Jorge Mautner


Ofensa.Não concordo com o senso coum que admite que um simples pedido de desculpas pode remediar males praticados contra quem quer que seja. Pedidos de desculpas não retiram bofetaaas desferidas. Pedidos de desculpas não apagam da memória ditos carregados de fúria e de preconceito.  Pedidos de desculpas não enxugam lágrimas. Pedidos de desculpas, enfim, não devolvem dignidade a ninguém.

Não aceito também aquela conversa fiada do tipo "fulano, eu falei aquilo porque estava de cabeça quente"; "falei essas coisas só porque eu tinha bebido". Sempre acreditei que "na hora da raiva" o que fazemos é tão somente pôr para fora aquilo que estava "engasgado, querendo sair". Ou seja, as pessoas aproveitam-se dessas ocasiões para expor insatisfações que elas deveriam revelar em conversas francas cara a cara, sem rodeios, porque poucas coisas são tão ruins, são tão daninhas  para os relacionamentos , para o convívio íntimo, do que a falta de franqueza.

Estou muitíssimo longe de ser uma pessoa perfeita. Ainda bem. Ainda bem porque, ao admitir que isso me é impossível de alcançar, ao mesmo tempo faz com que eu procure equilibrar os meus defeitos, o que nem sempre consigo, que fique bem claro. Entre os meus "grandes" méritos está o de procurar ser sincero o tempo todo, ainda que eu tenha plena consciência de que a verdade - eis o grande paradoxo do convívio social - por vezes desencadeia uma série de coisas ruins, porque muitas pessoas  estão sempre dispostas a ouvir uma mentira que as deixe confortáveis e felizes, do que uma verdade que as incomode, que as desestabilize.

Muito me aborrece tratar com pessoas que não se dispõem a pôr tudo em pratos limpos e, depois, partem para acusações de que foram traídas, ofendidas, enganadas e passadas para trás, quando, desde o início, as cartas foram postas na mesa e elas não quiseram e/ou não se dispuseram a examiná-las. É terrível quando isso acontece, porque, sem nehuma intenção, acabamos por ser tidos como "gente que não presta".

Ao pedido de desculpa eu prefiro sempre que o indivíduo passe a agir de outro modo, que é, para mim, a maneira mais adequada de se buscar corrigir posturas inconvenientes - isso, claro, quando estou disposto a permitir que a criatura continue a pertencer ao meu círculo de vivência.

Por favor, não me peçam desculpas! Para mim, pedidos de desculpas soam sempre como ofensas, porque, além de rememorarem o ocorrido, eles vêm carregados de falsidade, afinal, se a tal criatura não foi sincera antes, meu amigo, não será agora.

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