10 de julho de 2011

Parque Dona Lindu: um bizarro cartão-postal

Por Clênio Sierra de Alcântara




Fotos: Ernani Neves

Um meu amigo insistiu tanto que eu acabei indo conhecer in loco, no primeiro domingo de julho, o horrendo parque que a Prefeitura do Recife erigiu na orla de Boa Viagem.




De fato, as imagens das telas das tevês e as fotografias dos jornais  não mentiam: o Parque Dona Lindu é um corpo estranho num lugar que merecia algo verdadeiramente atraente e acolhedor.





Em que pese a propalada falta de funcionalidade; e as acusações de que seus projetos muitas vezes encerram elementos arquitetônicos que seriam mais apropriados para países de clima diferente do que predomina no Brasil, eu sempre fui um admirador da arquitetura voluptuosa e cheia de curvas do mestre Oscar Niemeyer. Quando estive em Brasília, pela primeira vez, fiquei assombrado com o gigantismo dos edifícios do Plano Piloto; e com a beleza dos seus traços. Ousadia e beleza são, para mim, os característicos principais da obra niemeyriana.

 



Mas, de verdade, só encontrei ousadia e feiura no projeto do Parque Dona Lindu. Não bastasse o nome com o qual o batizaram - tudo bem, o Niemeyer não tem nada a ver com esse grandioso exemplo de mau gosto e despropósito -, um nome que não representa absolutamente nada para a história e a cultura do Recife, o parque em si e os edifícios que o constituem estão bem longe do que se espera do renomado arquiteto carioca. Parece que quase tudo lá foi feito sem muito pensar. O estacionamento é deficiente. O projeto paisagístico é um terror - que falta faz um Burle Marx! -: para que palmeiras imperiais ali, se o que deveriam ter sido plantadas eram árvores frondosas, que proporcionassem sombra a um lugar tão carente dela?! E o que dizer da altura em que ficou o teto da Galeria Janete Costa em seu mezanino? Claustrofóbica, não é? E sem esquecer de mencionar que o acabamento da cobertura dos dois edifícios que integram o conjunto - e que a meu ver se assemelham a um recipiente de guardar lentes de contato - resultaram em algo que muito lembra aqueles forros de gesso mal feitos.






A visita ao Parque Dona Lindu me fez compreender a razão da grita que muitos fizeram contra tal empreendimento. O Recife não merecia um parque como esse. Creio que, num arroubo entusiástico, o ex-prefeito da cidade imaginou que algo com a grife Niemeyer transformaria o lugar numa grande atração turística. Em parte ele estava certo ao pensar assim. Mas não se pode desculpá-lo. Nada ali justificam os mais de 30 milhões de reais que a Prefeitura do Recife utilizou para corporificar os traços do Niemeyer, cujo projeto deveria, sim, ter sido rejeitado, tamanha é a sua feiura e incompatibilidade com o sítio ao qual se destinou.


Houve um tempo em que as capitais brasileiras dispendiam altas somas com projetos e/ou equipamentos urbanísticos anunciados  como essenciais para o bom funcionamento de seus mecanismos estruturais e, por conseguinte, para o bem viver de seus moradores. Hoje, gastam-se milhões com projetos irrelevantes, assinados por arquitetos famosos - e não que faltem reais necessidades -, somente para, ao que parece, atender aos caprichos de seus burgomestres.

3 comentários:

  1. Parabéns Amigo, bela reportagem, completatmente apoiado em sua gigantesca crítica e muito bem embasada em fatos e títulos memoráveis.

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  2. Parabéns Sierra pelas belas críticas, politicamente acho erradíssimo os pontos que criaram esse parque, realmente, pra que ele serve afinal? senão para a apreciação completamente doentia dos burgueses que alí vivem, está absolutamente certo, apoiado.

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