1 de setembro de 2013

Apagão, apagões, Brasília



Por Clênio Sierra de Alcântara


Quarta-feira, 28 de agosto de 2013. Poucos minutos depois de eu ter me sentado a fim de pôr anotações e leituras em dia, eis que faltou energia elétrica.  Até aí tudo bem, eram 15:20 h e eu só pensei que o serviço logo seria restabelecido. Com a precaução própria daqueles que já viram muita coisa na vida, minha avó Maria da Conceição ligou seu radinho de pilha – de pilha! – para ouvirmos as notícias. Não demorou para que Graça Araújo, da Rádio Jornal, informasse que a queda no fornecimento de energia era na verdade um apagão que atingira todo o Nordeste. Quando ouvi a notícia – e as outras que se sucederam informando o caos que começava a se estabelecer no centro do Recife com a paralisação de semáforos, fechamento de lojas e tudo o mais – é claro que comecei a xingar em pensamento o desgoverno da senhora Dilma Poste Apagado Rousseff, querendo adivinhar qual seria a desculpa da vez para mais esse apagão energético.

Não me deixei abater. Não deixei minha fúria e indignação me levarem a começar a escrever naquele exato momento o meu testemunho sobre mais um apagão que acometera o Brasil. Ednaldo Santos, que entrou no ar após o término do programa de Graça Araújo, não perdeu a oportunidade de destilar a sua habitual e correta retórica contra as malfeitorias praticadas pelos donos do poder. Não se deve escrever com raiva, alguém já disse. Eu me segurei.

As horas foram se passando e nada de a energia voltar. Não me enfureci. Acendi algumas velas para iluminar a casa. E foi sob a luz de vela que dei continuidade às minhas leituras. A Rádio Jornal informava os lugares do Recife nos quais o fornecimento de energia estava sendo restabelecido. Exatamente às 18:18 h a energia voltou à minha casa.

Quarta-feira, 28 de agosto de 2013. Posto em votação no plenário o processo de cassação de mandato do deputado Natan Donadon, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por uma série de delinquências, e há algumas semanas vendo o sol nascer quadrado na cela de uma prisão, resultou em absolvição do parlamentar-bandido por seus seguidores de princípios.

Ignorando a moralidade que se espera de todo e qualquer cidadão eleito para ocupar uma função pública; ignorando a grita que desde junho vem tomando as ruas do país; ignorando em justa medida o anseio da sociedade de que tenhamos um Congresso Nacional livre de “fichas-sujas”, eis que honoráveis deputados resolveram mais uma vez nos dar um tapa na cara e fazer pouco caso de nossa indignação, mantendo com o delinquente Natan Donadon o status de deputado federal. Mesmo nas trevas Brasília é uma festa.

Leio aqui e ali que a absolvição do ilustre deputado-infrator foi articulada pela ala evangélica daquela casa. Sempre mantenho o alerta ligado com relação aos evangélicos que, não raro, têm uma visão retrógrada do que está ao redor deles. Em político evangélico eu só voto se for por engano – desde já eu anuncio: cara Marina Silva, a senhora não terá meu voto. Não se trata de preconceito; trata-se de precaução. Na campanha eleitoral do ano passado – só para ficar em mais um mau e estapafúrdio exemplo -, aqui na ilha onde moro, uma candidata a vereadora – se eu não fosse ateu daria graças aos céus por ela não ter sido eleita – distribuiu panfletos nos quais anunciava que só trabalharia para a parte evangélica da população. E quanto ao resto do povo? Que se danasse, ora pois!

Verdade seja dita: pior do que evangélico intolerante e contrário ao progresso do mundo – por favor, tenham vergonha de se esconderem atrás de uma Bíblia! -, é evangélico cúmplice de malfeitores, é evangélico que entra em conluio com delinquentes, é evangélico que usa seu cargo político para promover a degeneração da sociedade.

Quarta-feira, 28 de agosto de 2013. No vagar das horas – chovia nesta ilha chamada Itamaracá -, imersos na mansidão tenebrosa de suas consciências luciferianas, nobres, impolutos deputados federais brasileiros deram mais uma contribuição para que o Brasil permaneça chafurdando na lama pútrida da miséria moral, social e política.

Na crendice popular brasileira agosto é o mês do desgosto. O Congresso Nacional, que tanta descrença desperta no povo, faz com que todos os meses tenhamos muitos desgostos.

Quarta-feira, 28 de agosto de 2013. Um dia para jamais ser esquecido.

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