20 de setembro de 2013

Justiça à prestação



Por Clênio Sierra de Alcântara



Desde que o escândalo que entrou nos anais da imprensa com o nome de “mensalão” começou a ocupar um amplo espaço na mídia, criou-se em torno do seu desdobramento uma grande expectativa: será que figurões da política e do mundo financeiro seriam de fato punidos; ou todos nós assistiríamos, mais uma vez, a um desses espetáculos judiciais alinhavados por chicanas e mais chicanas que resultam, quando muito, em penas de prestação de serviços comunitários?

Entre a denúncia do delito, o recebimento dela pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a redação do processo pelo ministro Joaquim Barbosa e o início do julgamento propriamente dito, transcorreram vários anos. Ocorreu que, no ano passado, o STF “concluiu” o julgamento; e os cabeças, os chefes da “quadrilha” do “mensalão” foram punidos com uma severidade que, para nós, tão desacostumados com resultados surpreendentes como aquele, foi um espanto.

Entre “vivas” e “louvações” ao enérgico Joaquim Barbosa – eu olho para ele e só me vem à cabeça a figura inconformada de Lima Barreto, o que só faz aumentar minha admiração por sua pessoa -, o povo parecia se sentir com a alma lavada. Doravante o Brasil era um país que não mandava para a cadeia apenas ladrões de galinha e quejandos: delinquentes de colarinho branco, a partir de então, também estavam sujeitos ao rigor da lei. Um suspirar profundo de satisfação certamente tocou cada um de nós. Sentíamo-nos orgulhosos e altivos. Era um tempo novo o que aquele julgamento prenunciava.

Quando a ressaca da alegria recolheu-se voluntariosa, demos de cara com uma realidade indesejada. Tomamos conhecimento de que, na verdade, aquele julgamento não estava de fato encerrado, que existia uma grande possibilidade de os principais personagens terem direito a um novo julgamento, que poderia, no final, livrar a cara de todos eles.

Não, eu não vou encher este mero artigo de opinião com um juridiquês que eu nem sequer compreendo. Não vou usar e abusar de citações catadas num canto e noutro para parecer que tenho um entendimento profundo da matéria em si. Para mim – e creio que para a maioria dos leitores que me acompanham – o que interessa saber é se os delinquentes que protagonizaram o “maior escândalo da história deste país” serão punidos ou não, e não uma explicação do que sejam “embargos infringentes”, porque saber do que eles tratam não vai diminuir em nada a nossa indignação, muito pelo contrário.

Muitos, como eu, aguardaram ansiosos pelo pronunciamento do ministro Celso de Mello, porque o voto dele decidiria se haveria ou não um outro julgamento. E quando eu ouvi, através da Globo News, que o ministro acatara os tais “embargos infringentes”, baixei a cabeça inconformado, abatido, decepcionado. Alguém lembrou de dizer, no calor da hora, que se fizera a justiça que deve ser feita  num estado democrático de direito. Não sei se o fulano que disse isso pensou nos milhares de indivíduos que estão mofando nas penitenciárias deste país sem nem sequer terem sido julgados.

Uma vez que o estrago estava feito e o remédio era esperar as cenas dos próximos capítulos, deixei a Bodega do Abel torcendo para que o novo julgamento do “mensalão” se arraste por 2014 adentro e corroa a campanha de reeleição da senhora Dilma Poste Apagado Rousseff. Há males que vêm para pôr fim a outros males.





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