9 de setembro de 2023

E a ti, Pátria, salvaremos!

 Por Sierra


Imagem: Internet
Não existe remédio contra maus perdedores: vítimas de um autoengano sem fim, os apoiadores de Jair Bolsonaro, popularmente conhecidos por gado, bolsominions e patriotários, estão até agora fazendo pilhérias com o pouco público que se viu no desfile do 7 de Setembro em Brasília, público realmente pequeno quando comparado à multidão de delinquentes que ocupavam a Esplanada dos Ministérios atacando os pilares da democracia e pedindo de joelhos que os militares decretassem mais um golpe de Estado neste país


Não foi nada fácil e leve a semana que se encerra hoje. Muito pelo contrário. Foi difícil e pesadíssima: a começar pela tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, onde um ciclone devastou cidades e provocou mortes de pessoas e animais, mortes essas que, infelizmente, continuam sendo contabilizadas. Tudo muito, muito desolador. E a semana marcada por acontecimentos trágicos terminou com a ocorrência de um terremoto de grande magnitude no Marrocos, onde o número de mortos também segue sendo anotado.

Numa semana trágica que ainda teve um feriado nacional no meio - o Dia da Independência -, por pouco, muito pouco o anúncio de que o tenente-coronel Mauro Cid, o oficial do Exército brasileiro que, como ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi flagrado praticando delinquências em série, e que estava cumprindo regime de prisão preventiva, resolveu apresentar uma proposta de delação premiada - proposta de delação essa que foi homologada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e que, em virtude disso revogou a prisão do militar que, na tarde de hoje, foi posto em liberdade sob várias medidas cautelares, como ter de usar tornozeleira eletrônica -, quase que ia passar despercebido, não fosse o olhar diuturnamente vigilante da imprensa a nos pôr a par dos fatos.

Quem já leu pelo menos um bom manual de História do Brasil sabe o quão presente esteve o Exército em vários acontecimentos emblemáticos da vida nacional, como a derrubada da Monarquia e o estabelecimento de uma República que, como tanto já se disse, nasceu velha, e a decretação da Ditadura Militar, em 1964, ditadura essa que, empunhando a bandeira da soberania nacional frente aos inimigos comunistas, durou vinte e um intermináveis anos, período esse em que os ditos defensores da dita soberania nacional praticaram os crimes mais horrendos e covardes e repugnantes contra os referidos comunistas e outras gentes mais.

No grande tumulto que foram os episódios de escândalos de corrupção ocorridos durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva, o impeachment da presidente Dilma Rousseff na esteira de uma aversão quase que generalizada encampada pela imprensa contra o Partido dos Trabalhadores (PT) - eu, inclusive, engrossei o coro de descontentamento e reprovação - e a breve e medíocre passagem de Michel Temer pela presidência da República, a possível libertação de Luiz Inácio Lula da Silva e a sua vitória nas eleições gerais de 2018 deram ensejo para que, mais uma vez tomando o fantasma do comunismo como a ameaça a este país, as Forças Armadas, em geral, e o Exército, em particular, encampassem um escancarado e desavergonhado apoio - ninguém esqueceu o o tom ameaçador contido na mensagem que o general Eduardo Villas Bôas divulgou contra o STF - ao candidato Jair Bolsonaro, um egresso das fileiras do Exército e havia muitos anos um deputado federal chucro e inexpressivo que pulava de partido em partido, que bem servia aos propósitos do Exército de impedir que o PT voltasse a governar o país e que prometia destinar mundos e fundos às Forças Armadas, caso fosse eleito.

Contando com o apoio declaradamente evidente das Forças Armadas, de uma parcela enorme da população que emergiu das sombras e da lama defendendo pautas ultradireitistas, de uma multidão de desiludidos e/ou magoados com o PT, com a permanência de Lula na prisão e com uma até hoje mal explicada e duvidosa facada que teria sido desferida contra o candidato em Juiz de Fora (MG), Jair Bolsonaro foi eleito num segundo turno enfrentando o petista Fernando Haddad.

O desgoverno cruel, desumano, negacionista, anticientífico e anticultural de Jair Bolsonaro, apoiado descarada e desavergonhadamente também por muitos conhecidos aproveitadores da fá religiosa alheia, gente que faz de igreja franquias lucrativas para viver no bem bom, foi uma verdadeira festa para as Forças Armadas, em geral, e para o Exército, em particular, com aumento de salários e de verbas.

Como se fosse um perverso titereiro, Jair Bolsonaro, primeiro, disse o que os militares queriam ouvir e lhes destinou o que eles esperavam receber em troca do apoio: o presidente aparelhou o Estado com militares; escalou alguns deles como ministros; e fez deles, por assim dizer, coprotagonistas do desgoverno. Contudo, não demorou para que alguns deles demonstrassem incapacidade para os cargos que ocupavam - caso do general Eduardo Pazuello, que foi um desastre no Ministério da Saúde, que figurava como Ministério da Morte -; enquanto outros foram jogados para fora e abandonados pelo caminho, como o general Santos Cruz, que ocupava a Secretaria de Governo.

Mas o titereiro perverso Jair Bolsonaro queria humilhar um pouco mais as marionetes fardadas às quais ele tanto oferecera. E, aí, meu amigo, a rebordosa para o Exército veio na forma de um permanente clima de confronto em que o então presidente da República, que elas ajudaram a eleger, pôs a sociedade brasileira. Participando de frequentes eventos antidemocráticos para os quais arrastava os militares, Jair Bolsonaro pôs o Exército no olho do furacão das distopias que ele e o seu "gabinete do ódio" criavam para tentar, outra vez, impedir que o candidato Lula fosse novamente eleito, agora nas eleições gerais de 2022. Atacando o STF, a lisura das urnas eletrônicas e repetindo que o Brasil corria o risco de ser transformado em um país comunista, o energúmeno titereiro Jair Bolsonaro manipulou como quis e pôde as suas marionetes fardadas, repassando para elas, como se isso fosse legítimo e o anseio de todo um país, a tarefa de decretação de um golpe de Estado, quando veio o resultado final das eleições e Jair Bolsonaro viu-se perdedor, um mau perdedor, melhor dizendo.

A essa altura dos acontecimentos - e não esqueçamos que  o comandante das Forças Armadas, o general Paulo Sérgio Nogueira, a marionete principal do tenebroso espetáculo, ainda foi submetido à humilhação de averiguar se as urnas eletrônicas eram seguras ou não, como se ele e a sua equipe pudessem forjar um comunicado diferente do da Justiça Eleitoral - a imagem do Exército já estava mais suja do que pau de galinheiro. O titereiro conseguira o que planejara: colocou os seus apoiadores contra os militares verde-oliva, tendo muitos deles acampado defronte a quartéis; e, desde então, não são poucos os insultos que essa gente vem desferindo contra o Exército.

Mas tudo isso ainda não foi realmente tudo: no último dia 8 de janeiro o Brasil e o mundo assistiram ao medonho espetáculo de destruição de dependências das sedes do STF e do Congresso Nacional protagonizado por apoiadores de Jair Bolsonaro e contando com a anuência e conivência de militares, tendo vários dos fardados sido presos conforme as investigações foram seguindo. E foram essas investigações que levaram o tenente-coronel Mauro Cid também à prisão, lançando de uma vez o nome do Exército na lama: Mauro Cid, um oficial de alta patente do Exército brasileiro está sendo investigado por vários crimes que ele teria praticado enquanto exercia a função de ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

Vítimas de um autoengano sem fim, os apoiadores de Jair Bolsonaro, popularmente conhecidos por gado, bolsominions e patriotários, estão até agora fazendo pilhérias com o pouco público que se viu no desfile do 7 de Setembro em Brasília, público realmente pequeno quando comparado à multidão de delinquentes que ocupavam a Esplanada dos Ministérios atacando os pilares da democracia e pedindo de joelhos que os militares decretassem mais um golpe de Estado neste país. 

Não existe remédio que cure maus perdedores. Pilheriando contra o 7 de Setembro para manter a chamada patriotária acesa, esse pessoal quer fazer de conta que a divulgação de que o ministro Alexandre de Moraes homologou a proposta de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid não passa de mais uma invencionice da mídia progressista e comprada.

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