9 de novembro de 2024

Personas urbanas (33)

Por Sierra


Querem acabar comigo. 
Nem eu mesmo sei por quê [...]
Querem acabar comigo.
Isso eu não vou deixar.

                                        Querem acabar comigo. Roberto Carlos





Serenidade e raiva. Não é do meu feitio, eu não costumo me arrepender por ter dito a alguém o que eu disse num momento de raiva, porque, habitualmente, eu digo nessas horas o mesmo que eu diria num instante de serenidade.

Para mim, deixar sempre as coisas em pratos limpos é um mandamento existencial; é condição sine qua non para que eu fique em paz comigo e, se for possível, com quem quer que seja que esteja ao meu redor ou alhures. Pensando assim e agindo assim é que eu tenho conseguido atravessar o por vezes sufocante e engessador cotidiano.

Não é nada fácil lidar com pessoas como eu, que sou e/ou costumo ser assertivo para dizer o que verdadeiramente vai dentro de mim nem sempre pesando as consequências que isso trará. Eu sei que esse tipo de comportamento não é adequado num mundo que preza tanto a simulação e as falsas aparências. Contudo, eu não tenho por que agir de outra forma, porque eu ensinei à minha vida que quanto mais nós nos escondemos e negamos o que realmente somos e pensamos nós podemos até agradar e ficar de bem com uns e outros, mas nunca faremos o grande bem maior que é ficarmos em paz com nós mesmos, com nossas necessidades pessoais, como nossa ideia de liberdade.

Certamente você mais de uma vez passou pela situação de tentarem lhe constranger colocando você em enrascadas e/ou ciladas, digamos assim. Quem costuma armar situações embaraçosas e/ou vexaminosas geralmente possui um histórico dessa prática. São indivíduos  do tipo que sentem um enorme prazer em buscar de alguma forma humilhar e menosprezar alguém; e esse sadismo é constantemente retroalimentado porque esses sujeitos, no mais das vezes, costumam dispor de uma espécie de claque, de plateia que habitualmente aplaude ou se cala - e, quase sempre, quem cala, consente - diante do que eles fazem. 

Acontece que existem por aí também - talvez em menos número em relação aos sádicos - os que se recusam terminantemente a ouvir o chiste, a provocação, o desaforo, o xingamento, a piada, a tentativa de humilhação e o dito escarnecedor e ficarem calados. Eu, pelo menos, costumo ser assim. E quem age dessa forma tende a ser malvisto, o que é um paradoxo, um contrassenso. E por quê? Porque o costumeiro, o "normal" é que o humilhado, o ofendido, o verbalmente massacrado ponha o rabinho entre as pernas, amargue o dissabor, engula o desaforo a seco e figure como mais uma vítima do escárnio e da risadagem que descamba para a humilhação total.

Mas comigo não, violão. Eu não tenho como não deixar de ser alvo dessas criaturas abomináveis que são os sádicos, porém, eu não deixo a coisa ficar por isso mesmo, eu não admito sempre o "faz de conta que não foi comigo" e nem o "eu nem ouvi", porque tem situações que o melhor comportamento é o rebate; é o não deixar barato; é o dizer "não é assim, não, fulano, que a banda toca"; é o devolver a ofensa em igual ou maior medida; é repreender o interlocutor; é reagir. Não, gente, não dá para viver o tempo todo com sangue de barata, como se nós estivéssemos anestesiados e indiferentes a tudo de ruim que nos dirigem.

Houve mais de uma vez em que eu me calei e saí de fininho, porque o meu senso de preservação me fez ver que reagir naquele momento poderia me botar a perder. E, realmente, há situações em que é melhor se calar e digerir o que lhe disseram em tom ofensivo e humilhante. A razão costuma dizer que, nesses enfrentamentos, eu é que tenho a perder e não o meu oponente, porque quem, como eu disse, mete você em enrascadas e ciladas, tem um histórico terrível e dificilmente irá receber um corretivo que irá freá-lo permanentemente.

Nesse meu exercício de sobrevivência eu reconheço que de algum modo esse tipo de enfrentamento - e são tantos os enfrentamentos que surgem em nossa vida, não é? - criou em mim, em meu pensamento, melhor dizendo, uma espécie de crosta, de carapaça que me protege de certas tentativas de me derrubarem por meio de palavras. Vocês devem ter imaginado que não foi por acaso que eu resolvi tocar nesse assunto hoje. Ao longo desses meus 50 anos de existência eu já ouvi  - e ouço - muitas palavras ruins que a mim foram dirigidas, porque os haters, minha gente, não surgiram e nem nasceram na esteira da internet e das redes sociais: eles sempre existiram.

Eu não sou imbatível e nem invencível. Absolutamente. Só não pensem que eu sou do tipo que engole todo tipo de sapo e fica calado. Serenidade e raiva andam de mãos dadas comigo. E, no embalo do que diz a canção, eu preciso, por fim, avisar aos haters, virtuais ou não, que eles podem continuar tentando acabar comigo, mas isso eu não vou deixar que eles façam.

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