Por Sierra
A chamada Conferência das Partes (COP),
conhecida como Conferência do Clima, um evento de alcance e interesse
planetários promovido ela Organização das Nações Unidas (ONU) aportou em Belém,
capital do Pará, que é considerada como a porta de entrada da Amazônia; e, nos
próximos dias, todas as atenções do mundo que é envolvido com as questões de
preservação do meio ambiente, do desenvolvimento econômico sustentável e dos
impactos provocados pelas mudanças climáticas estarão voltadas para o que se
discutirá ao longo do evento visando a mitigação dos estragos que a elevação da
temperatura do planeta acarretará em praticamente todas as instâncias de nossas
vidas.
Não nos faltam casos de desastres naturais, como
enchentes e inundações que provocaram mortes de pessoas e animais e muita
destruição em ambientes rurais e urbanos, como nós vimos no ano passado, no Rio
Grande do Sul, e no caos provocado ontem na cidade paranaense de Rio Bonito do
Iguaçu, que foi quase toda destruída por um tornado que, além da devastação, deixou
seis mortos; não nos faltam bons exemplos no trato com o universo urbano e de como
promover uma urbanização que ao mesmo tempo institua um cuidado com a natureza
e um viver com dignidade que alcance toda ou a imensa maioria da população
citadina; só que, infelizmente, ao lado de tantos bons casos, exemplos,
aprendizados e conhecimentos, figuram também ações de degradação do meio
ambiente, desordenamento e deterioração de espaços urbanos e a inércia e a
incompetência de gestores públicos para promover melhorias abrangentes e
globais nas cidades.
Convivemos com realidades muito distintas dentro de
uma mesma cidade ou metrópole. Os contrastes são, no mais das vezes, por demais
gritantes e revelam uma ordem de discurso existencial que insiste em manter
desníveis tão acentuados. Numa mesma cidade você pode se deparar com bairros
onde as casas estão 100% ligadas à rede de coleta de esgotos, o chamado
saneamento básico, enquanto em outros bairros, saneamento básico é algo que não
existe. Isso sem falar das localidades e dos subúrbios nos quais os serviços de
abastecimento de água potável e de coleta de lixo são bastante irregulares e
ruas não são sequer pavimentadas. E são esses tipos de realidades, esses
contrastes de realidades, melhor dizendo, que marcam não somente o Brasil como
também, eu acredito, a maior parte do mundo.
As cidades, em escala global, apresentam desafios
estruturais que não são de hoje. Muito pelo contrário. Engenheiros, arquitetos,
sociólogos, historiadores, urbanistas, enfim, vêm estudando e debatendo o trato
com tais desafios há muitas décadas; e os problemas só se agravam à medida que
as populações das cidades vão aumentando.
Recorrendo a um exemplo mais próximo de mim, que é o
lugar onde eu moro, a Ilha de Itamaracá, uma cidade que integra a Região
Metropolitana do Recife, eu vejo quão distante de um quadro urbano adequado ou,
dito de outro modo, em sintonia com o que se espera para um espaço citadino
tendo em vista as projeções científicas que atestam que as transformações
impactarão o nosso cotidiano em praticamente todas as frentes, como saúde,
alimentação, moradia, deslocamentos, etc. Ilha-cidade detentora de considerável
área de Mata Atlântica, Itamaracá convive com 0% de saneamento básico,
desordenamento urbano, ocupação irregular da beira-mar, ruas sem pavimentação e
avanço de moradias em áreas de vegetação nativa, sem que o poder público
interfira nisso e deixe que a situação se agrave cada dia mais.
Quem vem acompanhando o noticiário referente à COP30,
desde meses atrás, deve saber que parte de Belém passou por um verdadeiro banho
de loja para receber as delegações estrangeiras. O lucro e o poder do vil metal
aguçaram a cobiça de muitos e os preços de hospedagens foram para as alturas. A
cidade ganhou áreas de lazer novinhas em folha. O bonito e imponente Mercado de
São Brás foi restaurado. Foram muitas obras; e o saneamento básico da cidade
saltou de 19% para 39%, que é ainda um percentual muito baixo.
Por uma infinidade de razões que incluem falta de educação, negacionismo, corrupção na esfera pública e descaso puro e simples, as cidades, de uma maneira geral, são reflexos de um modo de viver intensamente consumista e que não está preocupado em como será o amanhã.

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