8 de novembro de 2025

As cidades e a Conferência do Clima

 Por Sierra



Foto: Jonathan Campos/AEN
Cenário de destruição em Rio Bonito do Iguaçu após a passagem de um tornado. Por mais que os alertas se mostrem tão evidentes e mortais, as políticas públicas de trato com o universo urbano continuam repetindo erros que, todos sabem, permanecerão fazendo mal ao planeta e, por conseguinte, a todos nós


A chamada Conferência das Partes (COP), conhecida como Conferência do Clima, um evento de alcance e interesse planetários promovido ela Organização das Nações Unidas (ONU) aportou em Belém, capital do Pará, que é considerada como a porta de entrada da Amazônia; e, nos próximos dias, todas as atenções do mundo que é envolvido com as questões de preservação do meio ambiente, do desenvolvimento econômico sustentável e dos impactos provocados pelas mudanças climáticas estarão voltadas para o que se discutirá ao longo do evento visando a mitigação dos estragos que a elevação da temperatura do planeta acarretará em praticamente todas as instâncias de nossas vidas.

Não nos faltam casos de desastres naturais, como enchentes e inundações que provocaram mortes de pessoas e animais e muita destruição em ambientes rurais e urbanos, como nós vimos no ano passado, no Rio Grande do Sul, e no caos provocado ontem na cidade paranaense de Rio Bonito do Iguaçu, que foi quase toda destruída por um tornado que, além da devastação, deixou seis mortos; não nos faltam bons exemplos no trato com o universo urbano e de como promover uma urbanização que ao mesmo tempo institua um cuidado com a natureza e um viver com dignidade que alcance toda ou a imensa maioria da população citadina; só que, infelizmente, ao lado de tantos bons casos, exemplos, aprendizados e conhecimentos, figuram também ações de degradação do meio ambiente, desordenamento e deterioração de espaços urbanos e a inércia e a incompetência de gestores públicos para promover melhorias abrangentes e globais nas cidades.

Convivemos com realidades muito distintas dentro de uma mesma cidade ou metrópole. Os contrastes são, no mais das vezes, por demais gritantes e revelam uma ordem de discurso existencial que insiste em manter desníveis tão acentuados. Numa mesma cidade você pode se deparar com bairros onde as casas estão 100% ligadas à rede de coleta de esgotos, o chamado saneamento básico, enquanto em outros bairros, saneamento básico é algo que não existe. Isso sem falar das localidades e dos subúrbios nos quais os serviços de abastecimento de água potável e de coleta de lixo são bastante irregulares e ruas não são sequer pavimentadas. E são esses tipos de realidades, esses contrastes de realidades, melhor dizendo, que marcam não somente o Brasil como também, eu acredito, a maior parte do mundo.

As cidades, em escala global, apresentam desafios estruturais que não são de hoje. Muito pelo contrário. Engenheiros, arquitetos, sociólogos, historiadores, urbanistas, enfim, vêm estudando e debatendo o trato com tais desafios há muitas décadas; e os problemas só se agravam à medida que as populações das cidades vão aumentando.

Recorrendo a um exemplo mais próximo de mim, que é o lugar onde eu moro, a Ilha de Itamaracá, uma cidade que integra a Região Metropolitana do Recife, eu vejo quão distante de um quadro urbano adequado ou, dito de outro modo, em sintonia com o que se espera para um espaço citadino tendo em vista as projeções científicas que atestam que as transformações impactarão o nosso cotidiano em praticamente todas as frentes, como saúde, alimentação, moradia, deslocamentos, etc. Ilha-cidade detentora de considerável área de Mata Atlântica, Itamaracá convive com 0% de saneamento básico, desordenamento urbano, ocupação irregular da beira-mar, ruas sem pavimentação e avanço de moradias em áreas de vegetação nativa, sem que o poder público interfira nisso e deixe que a situação se agrave cada dia mais.

Quem vem acompanhando o noticiário referente à COP30, desde meses atrás, deve saber que parte de Belém passou por um verdadeiro banho de loja para receber as delegações estrangeiras. O lucro e o poder do vil metal aguçaram a cobiça de muitos e os preços de hospedagens foram para as alturas. A cidade ganhou áreas de lazer novinhas em folha. O bonito e imponente Mercado de São Brás foi restaurado. Foram muitas obras; e o saneamento básico da cidade saltou de 19% para 39%, que é ainda um percentual muito baixo.

Por uma infinidade de razões que incluem falta de educação, negacionismo, corrupção na esfera pública e descaso puro e simples, as cidades, de uma maneira geral, são reflexos de um modo de viver intensamente consumista e que não está preocupado em como será o amanhã.

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