8 de agosto de 2010

Igaraçu para sempre

Por Clênio Sierra de Alcântara

Fotos: Ernani Neves

No inverno de 2004 visitei o sítio histórico de Igaraçu mais de uma vez com vistas a escrever um artigo destinado a um site de Arquitetura e Urbanismo. Foram dias de intensa pesquisa. Mas também foram momentos de profundo saudosismo, porque fora ali, quase que na “zona de preservação rigorosa”, que eu iniciei minha vida escolar, aos seis anos, na Escola Santos Cosme e Damião, com tia Esther.




Por aqueles dias, ao modo do que fizera Leandro Tocantins em Belém do Pará, entrei, por assim dizer, no âmago daquela parte da cidade: visitei as igrejas e conventos, o museu e a prefeitura; entrevistei pessoas sabedoras da história e da rotina daquele espaço; observei o estado precário de preservação do casario; enfim, registrei a maior quantidade possível de nuanças a fim de enriquecer o texto.
Em meio a um cenário onde eu pude observar, com pesar, inúmeros flagrantes de descaso para com a preservação de tão rico patrimônio histórico, como infiltrações em paredes, restos de material de construção abandonados junto a monumentos e certas gambiarras dando um jeitinho enquanto não chegava a solução adequada, duas coisas particularmente me perturbaram. A primeira delas foi o estado deplorável em que se encontrava o edifício conhecido como Sobrado do Imperador. Eu não conseguia entender como se permitira que o tal sobrado chegasse àquela situação quase que de completo abandono. O segundo caso dizia respeito a um imóvel localizado na praça na qual está instalada a prefeitura. À mercê das intempéries o edifício encontrava-se sem o telhado, sem madeiramento nem nada. Só as paredes de pé à espera da ruína. Na ocasião foi me dito que o caso estava na Justiça.






Pois bem, seis anos se passaram desde então. Durante esse tempo o Sobrado do Imperador foi inteiramente recuperado e teve restituída a sua imponência no alto da colina da qual se tem uma vista muito bonita. Quanto àquele imóvel, nada. Ele segue entregue ao desamparo, como se, vindo a desmoronar - o que provavelmente ocorrerá, caso não se tomem as devidas providências -, ele não fosse fazer falta àquele pequeno mundo de encantos que é o sítio histórico de Igaraçu.


Não sei a quantas anda o processo que envolve o dito prédio. O que me revolta como pesquisador, como historiador e principalmente como cidadão, é a lentidão com que segue o caso. Ao que parece, o tempo se encarregará de dar regozijo ao proprietário do imóvel, demolindo-o. E, isso vindo a ocorrer, será vã qualquer decisão judiciária em favor do patrimônio.



É sabido por todos aqueles que lidam com a preservação do patrimônio histórico – e aí está o Iphan lutando brava e heroicamente, desde 1937, com seu orçamento apertado e com seu pequeno corpo de funcionários – que ainda é difícil estabelecer uma relação de harmonia com proprietários de imóveis em áreas de preservação, porque, não raro, eles querem fazer intervenções que a lei não permite. E, às vezes, ocorre de, às costas da fiscalização, que não tem condições de estar em todos esses lugares, obras irregulares serem realizadas, desfigurando gravemente esses prédios.









Igaraçu – assim mesmo, com grafia antiga e apropriada – merece ser preservada com toda a sua riqueza e esplendor, porque é um patrimônio que diz muito dos primórdios da colonização portuguesa nessa parte da América, como sempre destaca o meu querido mestre Marcos Albuquerque. Não permitamos, não fechemos os olhos para o caso que envolve o aludido imóvel. Que o Ministério Público enfim resolva o litígio é o que espero: pela preservação de nossa história, pela preservação de nossa memória.






Nenhum comentário:

Postar um comentário