8 de agosto de 2010

Joaquim Nabuco: político e cidadão de bem

Por Clênio Sierra de Alcântara

Imagem: Internet


Quando li os discursos de Joaquim Nabuco referentes às eleições de 1884 enchi-me de uma espécie de orgulho de todo inquietante e benfazejo. Nabuco, naquele Recife quase finessecular, esbanjava uma maturidade e uma confiança em seus princípios políticos que até hoje me soam como fundamentos de uma personalidade extremamente imbuída daquilo que os alemães denominam de zeitgeist. E, por aqueles dias, nada era mais urgente para ele do que lutar ferreamente, ao lado do também incansável José Mariano, contra a instituição escravocrata e todo o aparato que a sustentava.
Num discurso memorável feito no majestoso Teatro Santa Isabel, em 12 de outubro daquele ano, expôs de maneira contundente e segura, qual era o seu grande compromisso como político e cidadão consciente dos males que faziam do Brasil um país doente: “Penso [...] senhores, que nenhuma reforma política produzirá o effeito desejado em quanto não tivermos extinguido de todo a escravidão, isto é, a escravidão e as suas instituições auxiliares, antes de termos purificado o nosso ambiente do vapor pestífero que mata nelle tudo que é espontâneo e livre, tudo que aspira a subir e ousa levantar a cabeça”.
Ao cidadão Joaquim Nabuco, a quem Gilberto Freyre certa vez chamou de “o maior dos nossos historiadores políticos e talvez se pudesse também dizer, o maior dos nossos sociólogos políticos”, não faltou em nenhum momento um conhecimento profundo – insisto nisso – dos graves problemas sociais que assolavam o Brasil. Às acusações de que era falso, efeminado, mal-agradecido e, principalmente, “petroleiro”, isto é, revolucionário, anarquista, Nabuco respondia com a mesma retidão de caráter e com o mesmo empenho de político honesto que fez dele uma das personalidades mais celebradas de seu tempo. Nada do que diziam diminuía-lhe a estatura moral. Nada do que o acusavam o fazia desviar-se do compromisso que mantinha com a vida pública, porque acreditava piamente, conforme registrou em Minha formação, que “O adiantamento de um país prova-se pela extensão da idéia de que a política é inseparável dos mais vitais interesses da sociedade, e por aí, dos de cada um”.
Mestre Gilberto Freyre, que nutria por Joaquim Nabuco uma admiração que beirava a adoração, registrou em texto apresentado à Mesa da Câmara dos Deputados, como discurso, para ser dado como lido, em 20 de maio de 1947, que Nabuco esteve sempre empenhado em grandes obras ou grandes ações; que militou em defesa, além do abolicionismo, do federalismo, do americanismo, do anticaudilhismo e do antimilitarismo, como um aguerrido reformador social que era.
E será dentro das comemorações pela passagem dos 100 anos da morte do destemido abolicionista que a prestigiosa Fundação Joaquim Nabuco promoverá, nos próximos dias 19 e 20 de agosto, o Seminário Nacional Joaquim Nabuco e a Nossa Formação, que contará com a presença de palestrantes do porte de Alberto da Costa e Silva e Lilia Moritz Schwarcz, constituindo-se o evento numa grande oportunidade, para aqueles que não conhecem a vida, a ação e a obra de Joaquim Nabuco, de entrarem em contato com uma parte de seu legado.
Num momento, como o atual, em que na vida pública brasileira pululam casos e mais casos de políticos desonestos que avançam sobre os bens públicos como vorazes ratazanas, porque não têm projetos para o país, mas tão-somente para si próprios; numa época, como a presente, em que a classe política é vista com desconfiança até pelos menos instruídos e/ou ingênuos que creem que estado bom é estado paternalescamente forte, rememorar, trazer para esses dias politicamente tão perturbados a figura imponente de Joaquim Nabuco, aquele do qual já se disse que foi um “político que foi também homem de bem”, um político “que não separou nunca a ação da ética”, é, para mim, não só um dever de ofício, bem como uma ação de cidadania.
Louvemos Joaquim Nabuco não apenas pelo que ele foi e fez, mas também, pelo que ele representa.

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