20 de fevereiro de 2011

João Pessoa: cidade da harmonia

Por Clênio Sierra de Alcântara


Fotos: Ernani Neves                                      Hotel Tambaú




O meu primeiro encontro com João Pessoa se deu em 2002, quando eu acompanhei o artista plástico Emerson Pontes até o Centro Cultural, local onde estavam expostos os trabalhos selecionados na Bienal de Desenho da Paraíba, incluindo os dele. Foi um encontro bastante fugaz. Tão insípido e breve que eu não guardei em mim um aspecto sequer da cidade. Saímos da rodoviária rumo ao local da exposição. Almoçamos. E logo retornamos ao ponto de partida. Nada de city tour. Nada de descobertas. Foi como aqueles encontros entre pessoas dos quais não se consegue descrever, com precisão, um traço que seja do indivíduo, no outro dia.





Seis anos depois eu revi - eu a vi de fato, melhor dizendo - a capital paraibana sob muitos e variados ângulos. Não foi uma estada de algumas poucas horas, como no primeiro contato, mas de dias. Marcante em muitos sentidos, essa viagem, de certa forma, ao mesmo tempo em que fixou em mim a imagem da cidade da qual eu passei a gostar tanto - e à qual retorno sempre que posso -, significou um enfrentamento de medos, a vivência de situações tristes e embaraçosas e de uma nova postura para encarar as vicissitudes da vida. E digo até mais: a viagem impôs à minha pessoa uma força e uma coragem que, de verdade, ela não possuía.



Estação Cultural Cabo Branco


Minha estada mais recente na capital da Paraíba ocorreu no mês passado. As impressões contidas neste artigo são como que um apanhado das várias viagens que fiz para lá.






João Pessoa possui um centro histórico bem preservado. Foi com muito prazer que percorri o Varadouro, andando de lá para cá e de cá para lá, entrando nas igrejas seculares, visitando os espaços culturais, as praças e os sebos: Praça Antenor Navarro, Hotel Globo, Igreja de São Frei Pedro Gonçalves, Academia Paraibana de Letras, Igreja da Misericórdia, Centro Cultural São Francisco, O Sebo Cultural, Teatro Santa Roza... E me maravilhei com a vista do Rio Sanhauá, num espaço cuja atmosfera - eu estava em meio ao casario antigo - é de um quase encantamento.















Também percorri as praças da zona central, com seus prédios públicos suntuosos. Atravessei o Ponto de Cem Réis. E cheguei mesmo a ir até a Praça Venâncio Neiva. E foi ali que tive o meu primeiro espanto: contíguo ao imóvel onde está instalada a Superintendência do Iphan, vi um prédio dos tempos de outrora caindo aos pedaços.

Subi e desci as ladeiras da área comercial, um mundo que existe no entorno do Parque Solon de Lucena, um cartão-postal da cidade que está precisando passar por um grande processo de revitalização; uma revitalização que busque, principalmente, iluminar a área dos bares e disciplinar os proprietários desses estabelecimentos que, à noite, ficam disputando para ver quem põe o som no volume mais alto.


Parque Solon de Lucena






Uma das coisas que mais me atrai na capital paraibana - por vezes eu me pego pensando em ir morar lá - é a relativa proximidade entre o seu espaço central e as suas praias. As avenidas, como a Epitácio Pessoa, não enfrentam, felizmente, os congestionamentos exasperantes que há anos vêm tomando o Recife. E a orla possui uma característica que lhe confere um charme todo especial: uma lei proíbe a construção de prédios muito elevados ao longo da beira-mar.













Muito embora eu seja fascinado com o inesperado de avistar animais silvestres em seus habitats naturais, aprecio visitas a zôos e jardins botânicos. Estive no Parque Arruda Câmara  no dia em que, por muito pouco, uma ave desavisada - era uma rolinha - não foi devorada por um dos macacos. Visitei o lugar num dia de domingo. Havia muitas pessoas lá, dando bem a dimensão da importância desse espaço para o divertimento da população. Busquei ainda o jardim botânico, localizado noutro ponto do município, mas o encontrei fechado.

E, como não poderia deixar de fazê-lo, tomei o rumo da Ponta do Seixas  - o "extremo oriental das Américas", como muito bem  dizem os guias turísticos - para apreciar a vista maravilhosa que se tem lá de cima da Estação Cabo Branco, que é mais uma joia de arquitetura saída da prancheta de Oscar Niemeyer.





João Pessoa não é uma cidade perfeita. Andei pelo bairro chamado Mandacaru - eu ainda não conheci todos os outros- e achei aquilo lá uma coisa horrível. Além disso, vê-se aqui e ali um certo desleixo para com a destinação do lixo.









Gozando do status de ser capital de um estado e, ainda assim, apresentando, sob muitos aspectos - a arborização, abundante e viçosa, e a ausência de grandes congestionamentos de veículos reforçam isso -, ares de cidadezinha do interior - perdoem-me se exagero -, João Pessoa, apesar dos contrastes, é uma cidade harmoniosa, que cativa seus visitantes com sua história bastante rica, com suas praias bem cuidadas, com seu povo hospitaleiro e, sobretudo, com seu jeito singular de ser uma metrópole na qual as coisas da modernidade não têm o devaneio de querer suplantar as suas feições mais pitorescas.






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