16 de junho de 2011

Rua Duque de Caxias

Por Clênio Sierra de Alcântara


Fotos: Ernani Neves e imagens da internet
Augusto dos Anjos, um dos mais ilustres moradores da capital paraibana do tempo da belle époque



A imagem mais memorável que eu guardava - e guardo ainda, agora, em meio a outras - do universo da Rua Duque de Caxias, localizada no centro histórico de João Pessoa, era a de um Augusto dos Anjos fotografado nessa artéria como se, já naquele preciso instante, estivesse ele apressadamente a caminho da eternidade, ignorando o espreitar do verme, "esse operário das ruínas". Essa fotografia do poeta do Engenho Pau-d'arco é muito marcante para mim, porque ela me evoca - não sei por que - um Augusto dos Anjos que parecia carregar consigo alguma coisa dos felizes.



O aspecto de abandono do patrimônio histórico é algo desolador


Uma cidade não é só a projeção dos mais eminentes personagens que encontramos nela. Não é só a evocação memorialística de seu passado. Uma cidade é, também, a permanência dos seus mais representativos prédios antigos, das suas ruas e lugares mais pitorescos - tanto em nomes como em significados de uma época. Uma cidade é a representação  mais intensa daquilo que o engenho humano conseguiu erigir como marco da civilização. Uma cidade é o que foi, é o que está, é o que ainda vem, uma  vez que as cidades devem ser planejadas com vistas para o amanhã.




Ainda, claro, que sejam outros os operários de que fala a poesia augustina, eu os evoquei quando me deparei com os dois edifícios que estão prestes a ruir na Rua Duque de Caxias, caso os operários do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não apareçam para restituir-lhes a beleza de outros tempos.



Será que esses prédios resistirão às fortes chuvas?




A Rua Duque de Caxias é uma dessas artérias que carregam em si tantas referências existenciais, que possuem um simbolismo tão profundo para as cidades as quais pertencem que fica difícil imaginá-las destituídas dos elementos que as compõem. Atravessando parte do sítio histórico da capital paraibana - basta dizer que nela estão localizados a Igreja da Misericórdia e a Academia Paraibana de Letras, na qual está instalado o Memorial Augusto dos Anjos; e que ela segue pela Praça João Pessoa, espaço esse que abriga o Palácio da Redenção e a Faculdade de Direito, onde outrora funcionou o Liceu Paraibano, que contou com Augusto dos Anjos em seu corpo docente -, essa via abriga ainda um movimentado comércio popular. Quem passa por ela pode chegar a pensar que aquilo ali é quase que um resumo de toda a cidade.



A Rua Duque de Caxias é, também, um movimentado centro comercial

 

Em pleno sítio histórico assistimos a um descaso desse para com o patrimônio da cidade que é uma das mais antigas do país



As duas edificações que eu flagrei em estado tão deplorável estão parecendo - a comparação me foi sugerida pelo Augusto, me perdoem - um câncer instalado num corpo ainda muito vivo e dinâmico. Urge que o Iphan estabeleça alguma medida que sustente as paredes dessas construções até que as obras de restauração sejam iniciadas, porque, no estado em que se encontram, elas dificilmente resistirão às fortes chuvas que têm castigado a cidade.


Outro retrato de Augusto dos Anjos



Voltas Augusto, voltas! E destinas um pouco de tua eternidade a essas coisas  que só parecem estar impregnadas dela. 

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