26 de julho de 2011

Nova Escola: Educação como prática para o progresso

Por Clênio Sierra de Alcântara




Por qualquer ângulo que seja analisado é um verdadeiro espanto o fato de numa nação que, infelizmente, ainda não alçou a Educação à condição de sua grande prioridade, uma publicação destinada justamente a discutir esse tema e a auxiliar os professores no seu dia a dia nas escolas, indicando leituras de formação, propondo planos de aula, esclarecendo conceitos de renomados pensadores, revelando deficiências das unidades escolares brasileiras, analisando as políticas públicas destinadas ao setor e, sobretudo, mostrando práticas educacionais que deram certo nos quatro cantos do país, esteja completando 25 anos de existência.

Iniciativa das mais fecundas do fundador da Editora Abril, Victor Civita (1907-1990), que não se conformava com o panorama aterrador da Educação brasileira ao qual assistia – só para ficarmos com dois dados do período: cerca de 20% dos brasileirinhos que tinham entre  10 e 14 anos eram analfabetos; o Brasil não possuía um Plano Nacional de Educação -, a revista Nova Escola chegou pela primeira vez às bancas em março de 1986. Pronto: principiava-se naquele momento uma das trajetórias mais bem sucedidas do mercado editorial brasileiro. Ao longo desses 25 anos Nova Escola só fez crescer – em 2008 atingiu a marca de 1 milhão de exemplares de circulação mensal – e consolidar-se como a maior revista de Educação do país. Outro espanto no que diz respeito a essa importante publicação é que, ao longo de sua gloriosa existência, o que era bom foi ficando melhor. Atrelada à Fundação Victor Civita a Editora Abril conseguiu baixar o preço de capa da revista – seus leitores passaram a pagar tão somente o seu preço de custo -, formulou um site que é um prolongamento e tanto da versão impressa e, incentivo dos incentivos, criou o chamado Prêmio Victor Civita – Professor Nota 10, que todos os anos laureia as iniciativas mais eficientes de planos de aula, levados aos alunos por docentes empenhados em promover a melhoria do ensino/aprendizagem de suas disciplinas.


Se não me falha a memória foi em 1998 que eu comecei a ler Nova Escola; e, de lá para cá, guardo com carinho todos os exemplares. Lendo essa revista passei a ter um amplo entendimento de como a Educação é tratada pelos governantes brasileiros. Não que eu fosse um leigo no assunto. Pelo contrário. Toda a minha formação educacional se deu em escolas públicas, nas quais enfrentei toda a sorte de desmantelo: falta de docentes para algumas disciplinas; greves constantes dos professores; ausência de equipamentos esportivos e de apoio pedagógico, etc. Em meio a isso tudo é deveras vergonhoso o fato de ainda existirem neste país escolas que não dispõem sequer de água encanada e de luz elétrica.


Esse jubileu de prata alcançado pela revista Nova Escola é um acontecimento que deve ser festejado por todos aqueles que têm compromisso com o verdadeiro progresso deste país. É, também, uma oportunidade para que o Estado reflita sobre o papel primordial que a Educação tem para o engrandecimento dos seus cidadãos, pois, como deixam bem evidentes os dados compilados pela edição de aniversário dessa revista, muito ainda falta para que possamos algum dia dizer que o Brasil finalmente assumiu o maior compromisso que deveria desde há muito ter assumido com o seu povo, que é o de oferecer a ele uma Educação pública de reconhecida qualidade.

E para encerrar este artigo-homenagem eu quero repetir aqui um pensamento do educador Paulo Freire (1921-1997) que permanece bastante atual – aliás, o título deste meu texto é uma paráfrase do de uma de suas importantes obras: Educação como prática da liberdade – e que aparece no seu iluminador livro Pedagogia da autonomia: “Um dos piores males que o poder público vem fazendo a nós, no Brasil, historicamente, desde que a sociedade brasileira foi criada, é o de fazer muitos de nós correr o risco de a custo de tanto descaso pela educação pública, existencialmente cansados, cair no indiferentismo fatalistamente cínico que leva ao cruzamento dos braços”.


(Artigo publicado também in: O Monitor [Garanhuns], 14 de julho de 2011, Opinião, p. 02).
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário