4 de setembro de 2011

Sem o fiel da balança

Por Clênio Sierra de Alcântara



Não é preciso um grande esforço de imaginação para enxergar na forma arquitetônica do prédio do Congresso Nacional brasileiro, a figura de uma balança gigante...




                                                

De nada adiantam as maravilhas de cenários, os discursos empolados e a teimosia do Estado brasileiro em fazer o cidadão comum deste país crer que o Brasil vai muito bem, obrigado, porque a realidade é uma entidade insubordinada que insiste em peitar a fantasia: o "Brasil real" é sempre mais forte do que o "Brasil oficial" das propagandas institucionais.

O "Brasil grande" que o Estado insiste em propagandear continua nanico sob muitos aspectos que se seja examinado. Falo com absoluto conhecimento da matéria, porque sou um cidadão que vive honestamente do suor do seu emprego em uma cidade que é um retrato perfeito deste país das propagandas enganosas. Para começo de conversa urge dizer que quase a totalidade das ruas desta cidade não é pavimentada; e que por elas o esgoto corre a céu aberto porque, como se sabe muito bem, no Brasil, sanemaento básico não é item de primeira necessidade. Especificamente na rua onde moro, em tempo de chuva, a água dá quase no meio da canela. Num estado em que os índices de criminalidade - o crime de assassinato tem taxa de país em guerra civil - são assustadoramente elevados, as políticas públicas não têm conseguido frear as ações dos marginais. As dependências dos hospitais públicos continuam a assistir a mortes de pacientes nos corredores por falta de atendimento: faltam medicamentos, equipamentos e até algumas especialidades médicas. O hospital da minha cidade repete o que é feito em muitos outros: o seu estado precário faz com que os pacientes sejam orientados a buscar atendimento em outras unidades, da capital, como se as doenças pudessem suportar a via-crúcis das tentativas de se conseguir marcar uma consulta. E o que dizer das escolas públicas desta minha cidade? Vez por outra eu indago a um e outro aluno sobre a situação do quadro de professores e ouço a mesma cantilena: está faltando professor desta e daquela disciplina.





Diga-me, leitor, que país grande e rico é esse que o Governo Federal alardeia ser o Brasil, se nem o que é fundamental - segurança, saúde e educação - é oferecido a contento aos seus cidadãos? Que país grande e rico é esse onde as estradas, os hospitais, as escolas, as delegacias de polícias e diversos outros órgãos públicos operam, em sua maioria, sob condições as mais precárias?


Não há semana que não chegue de Brasília notícia de mais uma malfeitoria praticada pelos ditos donos do poder: o tráfico de influência, as notas fiscais frias, as negociatas, as licitações com cartas marcadas, os pagamentos por fora, os rateamentos dos butins, os enriquecimentos ilícitos, os loteamentos de órgãos públicos, os descalabros dos denominados atos secretos, os aumentos salariais descabidos, o engavetamento de projetos urgentes, a votação de projetos irrelevantes, o corporativismo protetor de corruptos, as compras de votos... Tudo contribuindo para que o país permaneça com os pés enterrados na lama da pobreza e do subdesenvolvimento. Tudo contribuindo, enfim,  para engrossar o coro daqueles que há tempos vêm proclamando: "Delenda est Brasília!!" - antes que os de lá arruínem por completo o Brasil.



... O diabo é que o prato da balança na qual as coisas boas deveriam ser postas está sempre emborcado.

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