19 de fevereiro de 2012

A propósito de listas de material escolar

Por Clênio Sierra de Alcântara

Imagem Internet

A movimentação tem início ainda em dezembro, atravessa janeiro e se estende até os primeiros dias de fevereiro. O corre-corre é danado. As TV's fazem reportagens  mostrando as papelarias e livrarias lotadas. As reclamações dos entrevistados são as mesmas todos os anos: elevação de preço dos produtos; e a cobrança, por parte das escolas, de um e outro item que os pais julgam ser abusivos. Ouve-se um representante do PROCON, que alerta para o fato de que isso e aquilo não devem entrar nas listas, e que, portanto, a cobrança é indevida.

Conheço bem toda essa quase maratona em busca de material escolar - realmente algumas listas parecem intermináveis; e aqui e ali nos deparamos com cada pedido que beira o absurdo -, porque em dois períodos - nos anos de 1994 e 1995 - fui contratado por uma livraria e papelaria então localizada no bairro de Boa Viagem, no Recife. Era uma correria de louco. E não tínhamos hora para largar. Foi a partir dessa vivência  que comecei a refletir sobre o que exponho no artigo de hoje.

Em meio àquela multidão ávida por comprar a caixa de lápis de cor mais transada, o caderno que trouxesse estampado na capa o artista do momento e a borracha perfumada, eu cá com os meus botões me perguntava: será que todas essas mulheres e homens acompanham o desempenho escolar dos seus filhos, ao longo do ano, com essa mesma disposição, com esse mesmo entusiasmo. Duvidava e continuo duvidando que isso ocorra.

A velha discussão que põe lado a lado os papéis que cabem à escola e à família na educação de um indivíduo permanece. Existem pais que fincam o pé defendendo a posição de que é na escola que seus filhos devem aprender tudo da vida: do Teorema de Pitágoras, passando pela higiene pessoal até as regras do emprego do acento grave. Os pais desse tipo creem que basta pôr o filho na escolar e pronto. Quando muito eles - lá pelas tantas - perguntam se os filhos passarão ou não de ano. Tão-somente isso.

Não é preciso ser nenhum especialista em Educação para saber  o quanto a escola  é negligenciada pela maioria dos pais dos alunos no Brasil. Se houvesse um envolvimento de fato da parte deles, talvez, o grosso de nossas escolas não apresentassem estruturas físicas e resultados de ensino/aprendizagem tão lastimáveis. Não estou fazendo aqui exercício de "achismo". As estatísticas que tenho encontrado revelam dados completamente desanimadores; e dão bem a dimensão do que vai no arcabouço da educação no país como um todo.



Você, que agora me ler, por acaso sabe em que fundamento se apoia o plano pedagógico da escola em que seu filho estuda? Sabe se a escola tem um coordenador (a) pedagógico? E o que é que seu filho está estudando nas aulas de Ciências? De quantas reuniões de pais e mestres você já participou?

Numa de suas últimas edições a revista Nova Escola trouxe uma reportagem que mostra uma fotografia que é estarrecedora, para dizer o mínimo. Sabe onde é que os alunos da Escola Municipal São Gonçalo, de Caxias, no Maranhão, fazem suas necessidades fisiológicas? Debaixo de uma árvore. Você, leitor, faz ideia do quanto isso é degradante para qualquer pessoa e ainda mais para alguém que está em formação? O que é que uma escola que não possui sequer um banheiro pode proporcionar de bom a um aluno? Situações como essa são verdadeiros tapas na cara daqueles pais que acreditam que estando na escola, seus filhos estão no melhor dos mundos. Educar, meus caros, exige bem mais do que lápis, caderno e borracha.

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