28 de abril de 2012

Atravessando Mamanguape

Por Clênio Sierra de Alcântara

“Eu nada entendo da questão social
 Eu faço parte dela, simplesmente...
 E sei apenas do meu próprio mal,
 Que não é bem o mal de toda a gente [...]
 E enquanto o mundo em torno se esbarronda,
 Vivo regendo estranhas contradanças
 No meu vago País de Trebizonda... “.


                              Soneto V. A rua dos cataventos. Mario Quintana







Fotos: Ernani Neves



Diz-se que o topônimo Mamanguape é uma corruptela do tupi “mamã-guaba-pe”, que em português significa “onde se reúne para beber, bebedouro (de um rio ou lagoa)”. Leio que Mamaneguape teve um passado glorioso sustentado pela riqueza gerada pela cana de açúcar. Compreendendo primitivamente um território muitíssimo maior do que o atual, o prestígio dessa cidade paraibana era tanto que ela integrou o roteiro da visita feita pelo Imperador Dom Pedro II, que percorreu vasta porção das províncias do Norte do país em 1859.



Não é difícil encontrar em suas ruas vestígios desse passado de opulência. A dimensão predial da igreja matriz diz muito disso. Bem como outros edifícios que ainda conservam em suas fachadas traços arquitetônicos de muitos anos atrás.


Passei por ruas bastante movimentadas. E como sempre acontece nessas minhas viagens de lazer, descobertas e aprendizados, lamentei que o espaço antigo de Mamanguape apresente, quando não o abandono, alterações descaracterizadoras de suas feições originais.


As pessoas não mudam as fachadas de seus edifícios porque simplesmente têm horror ao passado e à história de sua cidade. As mudanças muitas vezes se dão, porque grande parte dos seus moradores associa o passado ao atraso; e, a partir do momento em que promovem alterações em suas casas e/ou estabelecimentos comerciais creem piamente que, assim, estão deixando-os modernos; e tudo o que é considerado moderno, bem sabemos, é tomado com símbolo de progresso.


Para mim nada é mais empobrecedor na paisagem urbana dessas pequenas cidades do que o apego desmedido de muitos para revestir as fachadas de suas moradas com azulejos. É um quadro horrível. Decerto que ninguém é obrigado a conservar inalteradas as feições físicas de seus imóveis, afinal, não se trata de áreas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Mas, ah, se essas pessoas soubessem o tanto de encanto que elas apagam ao desfigurar suas edificações!

Os carros percorrendo as vias. As pessoas convivendo – nem sempre de maneira harmoniosa – com os espaços da urbe. Os letreiros e as placas dos estabelecimentos comerciais com suas identidades visuais por vezes extremamente inadequadas para não dizer exageradas. O cantinho onde repousa o sossego – como a pracinha central – alheio ao torvelinho do vai-e-vem frenético dos automóveis e dos pedestres... Atravesso as cidades intuindo que posso rapidamente decodificá-las e compreendê-las em quase sua totalidade.


Mamanguape goza do privilégio de ser cortada por um trecho bem conservado da BR 101. E, como neste país, as riquezas econômicas continuam escoando majoritariamente por rodovias – certos aspectos do passado não são alterados de maneira alguma no Brasil -, essa cidade muito provavelmente alicerçará cada vez mais seu desenvolvimento nessa autoestrada, despontando como ponta de lança para fazer chegar mercadorias a um punhado de municípios do interior paraibano.

Creio que Mamanguape deva possuir vários encantos que o tempo escasso de minha viagem não permitiu que eu conhecesse.











Um comentário:

  1. Hoje Mamanguape é outra,está com o semblante alegre e cheio de harmonia

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