17 de maio de 2012

Fora da tomada


Por Clênio Sierra de Alcântara


Há dois anos eu “co-orientei” a elaboração de um trabalho de conclusão de um curso de especialização lato sensu – Curso de Especialização Tecnologias em Educação – do meu amigo Aldir Francisco. Intitulado “Educação para o século XXI – Reflexões acerca da introdução das tecnologias da informação e da comunicação em sala de aula”, o TCC buscou apresentar algumas indagações quanto à utilização das chamadas TIC’s no dia a dia da escola, tomando como referência a vivência dele com turmas de uma unidade de ensino da rede estadual pernambucana. Foi por sugestão minha que miramos uma realidade bem particular, porque acredito que certas políticas e/ou práticas que visem o universo ensino/aprendizagem têm de atender a contextos que, por vezes, não comportam completamente as diretrizes de um dado planejamento e/ou projeto pedagógico.

Recordo que, num dos nossos encontros – e levando em consideração a leitura de textos correlacionados que havíamos compartilhado -, Aldir Francisco comentou que algumas ideias e propostas não condiziam com a realidade docente dele.

Eu trouxe o assunto à baila porque me deparei com alguns dados de uma pesquisa levada a cabo pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OIE) e pelo Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed). O levantamento apurou que faltam computadores nas redes estaduais de ensino. A pesquisa percorreu 14 estados e o Distrito Federal; e apontou São Paulo com o pior índice: 45 alunos para cada equipamento; em seguida, apareceram Goiás – com 42 – e Acre – com 41. O Rio Grande do Sul apresentou o índice menos ruim: 12 estudantes para cada micro. Ainda assim, a rede gaúcha está distante da recomendação feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de, no máximo, 6 alunos por máquina.

Como se sabe, as TIC’s não compreendem apenas os computadores; elas englobam a TV por assinatura, a telefonia móvel, as câmeras digitais, etc. Mas são os computadores – em especial os conectados à internet – que oferecem as maiores possibilidades como ferramentas de práticas pedagógicas, dada a infinidade de recursos – texto, vídeo, som, edição, troca de mensagens, etc. – que eles disponibilizam. Uma vez que as escolas públicas não universalizam o acesso a tais equipamentos, como podem os alunos ser incluídos na chamada Era Digital? Como bem assinalou o Aldir Francisco no seu texto, em escolas onde muitas vezes falta o básico – carteiras, banheiros e até professores -, o acesso a computadores acaba sendo uma realidade não vivenciada por seus alunos; e, ao não inseri-los numa realidade cotidiana cada vez mais informatizada, essas escolas como que excluem seu corpo discente desse universo; a eles cabem recorrer à compra – quando podem – de um aparelho e/ou às lan houses.

O panorama da educação brasileira – e isso não é de hoje – continua pairando no horizonte como uma nuvem negra ameaçando a possibilidade do alcance de um verdadeiro desenvolvimento para este país. Ter atingido o posto de 6ª maior economia do mundo não tirou do Brasil o grosso das tantas mazelas sociais que ele encerra, o que mostra como a manipulação de números – índices, taxas, níveis de desempenho, etc. – é, por vezes, um exercício de abstração que em nada modifica o peso descomunalmente concreto da realidade estarrecedora que vivenciamos.

O slogan mais apropriado para esse (des)Governo que está aí, deveria ser este: “País rico é país que oferece educação de qualidade para seus cidadãos”. Ponto.

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