12 de agosto de 2012

Longe vai, impunidade, servir!


Por Clênio Sierra de Alcântara

Quanto vale uma vida humana? Há quem diga que tal vida não tem preço. Mas para o jovem Jhonatan de Sousa Silva, natural de Xinguara, no Pará, ela pode valer entre R$ 5.000,00 e R$ 100.000,00. Jhonatan é um matador profissional; e tendo apenas 24 anos de idade, já tirou a vida de 49 pessoas. Isso mesmo: 49 pessoas! A naturalidade com que ele desempenha sua profissão é tamanha porque ele a exerce desde a mais tenra idade; imaginem que ele estreou nesse ramo quando tinha somente 14 anos. Basta pagar que ele vai lá e pá, atira no indivíduo. E caso seja do desejo do cliente, além de abater com tiros, ele ainda corta as cabeças dos marcados para morrer. Jhonatan é um prodígio. “Ninguém morre de graça”, ele costuma dizer. E, com o perdão do trocadilho, não é de graça mesmo.

Para aqueles muito fervorosos que dizem que nada acontece na face da Terra sem o consentimento de um certo Todo-poderoso, Jhonatan, o fenômeno, afirma que é temente a Deus; e que reza todas as noites pedindo proteção para si, para os pais e os irmãos, para os dois filhos pequenos e para a namorada. Jhonatan é mesmo um assombro.

Num país onde pululam Pimentas Neves e no qual a impunidade é quase regra e não exceção, a atuação de um matador profissional com o potencial desse Jhonatan não choca a opinião pública e menos ainda as autoridades policiais e judiciárias. E não choca por quê? Ora, não são como Jhonatan que agem os inúmeros grupos de extermínio espalhados por este país afora? Não são inúmeros Jhonatans que fazem com que um estado como Alagoas ostente o desonroso título de lugar onde mais se cometem homicídios no Brasil? Não são Jhonatans as centenas de foragidos acusados de crimes de assassinato que as polícias não conseguem prender?

A escalada desse tipo de crime só faz aumentar em várias regiões do país, e o Estado continua apregoando uma justiça branda, uma justiça que acredita que pode transformar um homicida em cidadão de bem, destinando a ele um regime de progressão de pena e a maravilha de um regime semiaberto. Desde 2005 o país apresenta uma média de 26 brasileiros mortos por ano entre cada 100.000 habitantes, e o Estado permanece incapaz de efetivamente localizar e prender assassinos como esse jovem Jhonatan.

Quando tomei conhecimento do caso Jhonatan senti uma revolta indescritível. Jhonatan me pareceu ser a síntese deste país retrógrado, que insiste em se apresentar para o resto do mundo como nação progressista. Não dá para aceitar que alguém consiga dar cabo da vida de tantas pessoas sem ser detido pelas autoridades policiais. O que é isso, minha gente?! Até quando manteremos a cabeça baixa diante deste estado de coisas? Afinal de contas, para que servem as delegacias de polícia? Para intimidar os cidadãos corretos? Para fazer de conta que existe ordem neste país? O que mais me revolta é saber que existem muitos outros Jhonatans soltos por aí; e que eu e você, que agora me lê, podemos ter nossas vidas ceifadas por essas criaturas monstruosas.

Eu cometi um erro crasso quando, em artigo enfocando outras barbaridades ocorridas no estado natal da minha querida Jane Duboc, eu escrevi que o Pará é uma terra de ninguém. Eu errei porque não é só o Pará que é uma terra de ninguém: Pernambuco é uma terra de ninguém; Alagoas é uma terra de ninguém; o Rio de Janeiro é uma terra de ninguém; isso porque, meus camaradas, o Brasil é, todo ele, uma terra de ninguém.

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