17 de agosto de 2012

No litoral goianense


Por Clênio Sierra de Alcântara

Fotos: Ernani Neves

Durante dois dias eu percorri a zona costeira da cidade de Goiana, litoral norte de Pernambuco. Mais do que simplesmente conhecer as praias, eu pretendia entrar em contato com a área urbanizada dos lugares que esperava visitar. De um modo geral o que eu vi não me agradou nem um pouco.










O passeio teve início por Atapuz – o leitor deve ter notado que quase sempre eu insiro fotos de templos católicos nos relatos de viagens; não se trata de mera simpatia por eles, como alguns podem pensar; como geralmente eles pertencem ao grupo das construções mais antigas dos lugares onde foram erguidos, eu os procuro a fim de ver como outros edifícios e logradouros se estabeleceram a partir deles; quase sempre tais prédios também são os mais velhos, são os que demarcaram a ocupação territorial a partir da construção eclesiástica -, uma comunidade que só há pouco foi contemplada por uma estrada de acesso asfaltada. De Atapuz se avista a extremidade norte da Ilha de Itamaracá. Para os amantes da pesca, Atapuz enche os olhos com os tantos barcos que se vê por ali; e com a quantidade de peixes – eu vi muita manjuba – trazida à terra pelos homens do mar. Só deixei esse lugar depois de tomar caldinho de sururu; e de comer uma peixada de camorim no bar do Robson.









De volta à estrada minha parada seguinte foi em Carne de Vaca, última praia pernambucana antes da Paraíba. Percorrendo o lugar fiquei encantado com as diversas casas e estabelecimentos comerciais cujas paredes e muros são revestidos por conchas, o que lhes confere um aspecto bem interessante.






Buscamos alojamento em Ponta de Pedras, outra praia da região; e nos hospedamos na Pousada São João.











No dia seguinte tomamos o rumo da Barra de Catuama. O lugar é muito bonito, mas, infelizmente, também apresenta sérias deficiências, a começar pela ocupação desordenada da encosta – cada um querendo ser o dono do pedaço; e danem-se as leis e os turistas – e o acúmulo de detritos em suas margens ocupadas por rústicos bares. A única passagem que encontramos para descermos a pé até a beira da barra estava bastante degradada devido às chuvas.





Saindo dali percorremos um trecho da praia de Catuama propriamente dita. Novamente aqui nos deparamos com residências tomando de forma desorganizada os espaços, como se mais ninguém pudesse usufruir deles.





Percorremos, por fim, a praia onde ficamos hospedados, que é, diga-se muito honestamente, o único desses lugares visitados que apresenta um mínimo de infraestrutura, embora ela não seja ideal. O fato é que o distrito que dá nome à praia apresenta equipamentos como praças, mercados, lanchonetes, etc.; mas não espere o visitante grande coisa. Mesmo a praia em si não é muito convidativa; boa parte de sua extensão foi ocupada por construções grotescas que impossibilitam o trânsito de banhistas pela “faixa de areia”, quando a maré está alta.







Aimúde se diz que o Brasil ainda não foi descoberto pelos próprios brasileiros no que concerne ao turismo. De minha parte – ah, como eu gostaria de dispor de mais recursos financeiros para poder viajar pelo país afora – eu permaneço querendo percorrer o território nacional sem me fixar nos “destinos mais badalados”. Que o país peca e muito no quesito infraestrutura, tanto no turismo urbano como no rural, está fora de discussão; e é uma lástima quando, de maneira desonesta, os órgãos públicos e as agências de viagem fazem as chamadas propagandas enganosas. Já me decepcionei várias vezes com famigerados “cartões-postais”.




Ao ser convidado para ir conhecer o litoral de Goiana eu relutei em aceitar tal convite. Isso porque não eram boas as referências que eu tinha a respeito desse destino turístico. De qualquer forma o que me motivou, de fato, a pegar a estrada foi o espírito de aventura, foi a fantasia de que eu encontraria algo atrativo nos lugares que visitasse. Devo-lhes dizer que os encontros com as igrejas foram todos encantadores; não por elas em si, enquanto edifícios de tijolo e cimento; mas pelo que elas me fazem imaginar como estudioso dos processos de formação de cidades.













De maneira geral, as praias goianas são carentes de infraestrutura urbanística e de equipamentos como hotéis e pousadas, bares e restaurantes, postos policiais e de saúde, mercados, enfim, elas são necessitadas daquilo que todo turista, que todo visitante precisa para se sentir bem alojado, para se sentir bem servido e com um mínimo de segurança policial.





 Dentro desse universo de coisas ainda deve ser bastante lamentado - não apenas pelos pelos turistas, mas também e principalmente pelos moradores - o fato de a balsa que faz a travessia do canal do Rio Goiana, que separa as praias de Carne de Vaca e Acaú - esta na Paraíba -, está há meses sem funcionar, obrigando a população a recorrer ao longo percurso da BR 101 para chegar a tais lugares. Dada a precariedade de vários trechos percorridos – esgoto a céu aberto, estradas esburacadas, ocupações irregulares, sujeira nas ruas, etc. – eu diria que muito precisa ser feito para tornar tais lugares em destinos turísticos realmente atraentes.

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