18 de janeiro de 2013

Feiras livres (4)

Por Clênio Sierra de Alcântara




Centro (Itambé - PE e Pedras de Fogo – PB). Lembrando o título de um dos famosos livros de Charles Dickens, pode-se dizer que se trata, essa feira que ocupa a área que une os municípios de Itambé e Pedras de Fogo, de uma verdadeira feira de duas cidades.



Fotos Ernani Neves
Do lado esquerdo Pernambuco; do lado direito Paraíba
 
                           
  

Conta-nos Sebastião de Vasconcellos Galvão em seu Dicionário corográfico, histórico e estatístico de Pernambuco que o povoado que viria a constituir Itambé foi se desenvolvendo nas proximidades de uma feira que existia em Pedras de Fogo. Essa feira pedra-foguense deve ser uma que existiu muito remotamente e cujo produto principal nela negociado era gado. Penso que essa tal feira ocupou um sítio que não é o atual; que ela era situada noutro ponto, possivelmente nalguma beira de estrada servindo mesmo como parada para abastecimento de viajantes que cruzavam os interiores nortistas.















É o mesmo Galvão que nos diz que Itambé apresentava uma “grande feira (ás 2ª feiras) de viveres e animaes”. Sou levado a crer que essa feira que ocorria às segundas-feiras date de fins do século XIX para o XX, uma vez que as informações colhidas por esse autor são basicamente dessa época – o volume 1 do dicionário veio a lume em 1908.









Quem percorre essa feira - eu a conheci na manhã calorenta de um sábado de setembro; e me informei com pessoas do lugar que o dia principal desse comércio ali é na segunda-feira - pode percebê-la como o grande elemento aglutinador da população das duas cidades. O pátio – na verdade é uma rua - não é muito largo, mas tem um bom comprimento. Diferentemente de outras feiras que eu conheço, que deixam bem definidas áreas para a comercialização de tais e tais produtos, ali eu vi bancos misturados: roupas, carnes, legumes e verduras sendo comercializados próximos uns dos outros. 







 


Estando ali não perdi a oportunidade de visitar os mercados públicos que ficam defronte  ao "pátio". O mercado de Pedras de Fogo, ainda que subutilizado, apresenta um comércio de mercadorias a granel; já o de Itambé está abandonado, o que é uma lástima, servindo apenas como depósito de bancos dos feirantes.


















Eu sempre vi os mercados públicos como complementos das feiras livres, porque, geralmente, eles oferecem produtos que não são encontrados nelas. De modo que é com enorme pesar que eu vejo bons prédios, como o são os de Itambé e de Pedras de Fogo, deixados a esmo pelas Municipalidades, como se tais equipamentos urbanos não tivessem importância.












Costumo dizer que, para se conhecer os hábitos alimentares das gentes mais simples que constituem parte da população de uma cidade, é preciso que conheçamos as feiras livres, porque, para além de “mercadorias de primeira”, como se costuma dizer daquelas que são mais caras, também são comercializados produtos bem modestos que enchem as sacolas dos compradores humildes. Conheço bem essa dinâmica porque já trabalhei num banco de feira; eu via como a falta de recursos por vezes impelia muitas pessoas a consumirem coisas que outras descartavam sem cerimônia. É um feirar  de sobrevivência esse; um feirar que muitas vezes ocorre no quase término da feira a fim de que se encontrem produtos ainda mais baratos.





As feiras livres continuam exercendo sobre mim uma forte atração; e tanto quanto os casarios antigos e as coisas pitorescas são elas os elementos que mais costumo buscar nas cidades que visito.

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