21 de fevereiro de 2013

Canalhocracia: que é?

Por Clênio Sierra de Alcântara


O apego desmedido ao poder e à liturgia do cargo produziu no mundo político brasileiro casos exemplares – quase patológicos – de indivíduos que parecem não conseguir viver sem estar numa posição de comando. Talvez o modelo pleno e acabado de um político dessa espécie seja o senador José Sarney. Octogenário, escritor de livros que só ele lê, o senhor José Sarney, cujos familiares estão há décadas fazendo de todo o Maranhão uma extensão dos quintais de suas mansões, continua querendo nos fazer crer que ele tem muito que oferecer ainda ao Brasil e aos brasileiros. Não, senhor José Sarney, vossa excelência nada tem a oferecer ao Brasil e aos brasileiros, porque vossa excelência já foi presidente deste país e, como tal, quase fez os pobres desta nação passar fome com seus planos econômicos desastrosos. Se vossa excelência não conseguiu sequer dar jeito na miséria em que vivem muitos dos maranhenses, como pode continuar acreditando que tem algo a oferecer ao resto do país?

Outra figura política modelar é o senador Fernando Collor. Quando esse senhor esbraveja, defronte às câmeras de TV, com os olhos carregados com a fúria dos impolutos, pode levar um incauto a pensar que está diante de um político digno e intelectualmente honesto. Senhor Fernando Collor, vossa excelência possui uma extensa folha corrida de maus serviços prestados à nação e continua querendo posar de bastião da moralidade e da ética?

Não, eu não vou fazer deste artigo um “rol de injustiçados”. Os cidadãos verdadeiramente esclarecidos deste país sabem que no Congresso Nacional brasileiro reina a política mais ordinária e mesquinha; e que ali, se muito, apenas 10% dos parlamentares estão realmente empenhados em fazer política com P maiúsculo, sem mancomunarem-se com o lado negro da força e sem estarem alinhados com os defensores empedernidos do que há de mais vil e daninho nos escaninhos dos gabinetes de Brasília.

Recentemente a banda podre do Congresso Nacional voltou a soltar fogos de artifício no céu brasiliense em razão da conquista de um feito obtido com a manobra de sempre: empurrando goela abaixo do Governo mandachuvas de partidos majoritários para presidirem o Senado e a Câmera federais: tudo em nome da chamada governabilidade.

O dia em que ocorreu o retorno do senhor Renan Calheiros à presidência do Senado ficará assinalado nos anais da política nacional como o dia em que a ética e a moral foram enterradas em covas muito profundas. Como é que um parlamentar que renunciou à presidência do Senado, anos atrás, sob acusações graves de improbidade administrativa retorna à mesma como se nada disso tivesse acontecido e num momento em que é acusado de fazer uso de notas fiscais frias? E como se isso por si só não fosse uma afronta aos princípios básicos da regência daquela casa, como se isso não fosse uma afronta aos cidadãos e à ordem democrática, o senhor senador Renan Calheiros ainda teve a petulância de evocar a defesa da ética em seu primeiro discurso como presidente. Não tenho dúvida: ele estava a debochar de todos nós enquanto discursava.

Aos parlamentares do Congresso Nacional brasileiro que são mais sujos do que pau de galinheiro e que vão à tribuna estufar o peito portando-se como defensores da moral e dos bons costumes, quero dizer que, de peito aberto, podemos falar eu e você, leitor, que ganhamos a vida honestamente, sem desviar dinheiro da merenda escolar, sem receber milhões e milhões oriundos de negócios escusos, sem comprar o apoio de quem quer que seja, sem viver, enfim, subtraindo dos cofres públicos a riqueza que poderia fazer deste Brasil um país de menos desigualdade social.

Estão corretíssimos os meus camaradas do bloco carnavalesco Quanta Ladeira – vejam o vídeo no YouTube – quando dizem que o senhor Renan Calheiros retornou à presidência do Senado “para provar que o brasileiro é otário, é otário, é o-tá-ri o”.





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