16 de março de 2013

Lições de violência e de permissividade

Por Clênio Sierra de Alcântara




Há anos diversos diagnósticos feitos por renomados especialistas vêm apontando os inúmeros males que fazem da educação escolar reinante no Brasil uma das mais atrasadas do mundo. Professores sem competência didática, escolas com infraestrutura deficientes, altos índice de reprovação e evasão, currículos fora da realidade... A lista é extensa.

Ainda há pouco o ministro da Educação Aloizio Mercadante anunciou como “prioridade das prioridades” de sua pasta a aprovação de uma medida provisória – a medida aguarda a chancela do Senado – que estabelece que toda criança seja alfabetizada até os 8 anos de idade. Quando se toma conhecimento de que neste país 1,4 milhão de crianças entre 7 e 14 anos ainda se encontram iletradas, constata-se que, em momento algum de sua história, o Brasil priorizou para valer a educação de seus cidadãos (Nathália Butti. “Desvantagem na largada”. Veja, São Paulo, 6 de março de 2013, p. 96-97).

Afora os males que eu mencionei lá no começo, as escolas brasileiras – públicas e privadas – têm sido cenários de recorrentes agressões físicas e verbais protagonizadas por professores e alunos. Recentemente foram divulgados dados recolhidos pelo Ministério da Educação (MEC) a partir de questionários aplicados durante a Prova Brasil, um exame realizado pelo MEC; os dados foram tabulados pela Fundação Lemman e pela Meritt Informação Educacional; e são referentes ao ano de 2011. De acordo com o levantamento, naquele ano, 4.195 docentes foram vítimas de agressões físicas praticadas por alunos dentro dos estabelecimentos de ensino. O MEC também apurou que alunos sofreram com esse tipo de violência partindo dos professores contra eles. Outro dado estarrecedor verificado pela pesquisa é o que diz que alunos vão para a aula portando armas de fogo e canivetes. O quadro é realmente assustador.

Egresso de escolas da rede pública de ensino eu não cheguei a presenciar casos de agressão física envolvendo alunos e professores, mas acompanhei, a olhos vistos, a degradação que ano após ano foi tomando a escola em que concluí o Ensino Médio e que, em outro tempo, era uma referência na cidade onde eu morava. Quando dela eu saí, na primeira metade da década de 1990, ela já era apenas uma sombra do que um dia fora.

Os dados do quadro de violência verificados nas escolas brasileiras são bastante preocupantes, para dizer o mínimo. Se essas escolas não conseguem fazer o que lhes cabe, que é transmitir adequadamente conhecimentos que permitam que seus alunos desenvolvam competências e civilidade, das duas uma: ou elas devem passar por um processo sério de reestruturação física e humana ou devem ser fechadas para o bem de toda a sociedade; porque, escolas que não ensinam a ler, a escrever e a fazer operações matemáticas e onde se estabelecem preponderantemente lições de violência, não estão servindo para o bem comum.

Com certo exagero Miriam Abramovay, coordenadora da área de Juventude e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, ao avaliar esse quadro de violência declarou que “Temos uma educação do século XIX para alunos do século XXI, com uma linguagem que não chega aos jovens. E isso cria conflitos” (Marcelle Ribeiro. “Violência entre aluno e professor preocupa”. Jornal do Commercio, Recife, 3 de março de 2013, Brasil, p. 20). A mim me parece que o grande problema, que o grande mal da sociedade do nosso tempo é a exacerbação de uma cultura da permissividade que, transposta para o ambiente escolar, faz com que nele se aplique não uma educação para a prática da liberdade – no sentido de autonomia intelectual, como pregava mestre Paulo Freire – e,sim, uma pedagogia da ignorância e do medo que fatalmente resulta em atraso social.

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