13 de abril de 2013

Da necessidade de ciclovias

Por Clênio Sierra de Alcântara




Sou eu que te levo pelos parques a correr,

Te ajudo a crescer e em duas rodas deslizar.

Em cima de mim o mundo fica à sua mercê

Você roda em mim e o mundo embaixo de você.

Corpo ao vento, pensamento solto pelo ar,

Pra isso acontecer basta você me pedalar”

A bicicleta. Toquinho/Murtinho



Vai amanhecendo pela ciclovia

Ver você correndo, a vida se irradia

O Leme, o Lido, a Barra, o sábado inteiro

O sol estende o seu tapete-luz só pra você passar”

Pela ciclovia. Jorge Vercilo/Marcos Valle





Nas últimas semanas dois assuntos correlatos não saíram da pauta da atual administração municipal do Recife: a reestruturação do sistema viário; e a criação de ciclofaixas.

Não é de hoje que o Recife vem sendo alvo de sucessivas intervenções que modificam substancialmente o seu espaço urbano de modo a atender as exigências do tráfego de veículos. O modelo de “modernização” e de “progresso” que os tecnocratas impuseram a essa cidade, quase sempre deu de ombros à sua morfologia particular e sacrificou o que nela é testemunho de sua evolução enquanto urbe, querendo eles nos fazer crer que o passado é irrelevante e que a memória urbana não tem nenhum valor.

Em meio a discussões de como promover a melhoria da trafegabilidade de veículos automotores, as ruas principais da cidade seguem congestionadas, o sistema de transporte público de passageiros não evolui e o Recife amarga a posição de terceira metrópole mais “entravada” do país.

Por anos a fio a parcela mais abonada da população recifense – note-se que as mudanças na estrutura física da cidade são na maioria das vezes iniciadas para atender, em primeiro lugar, as demandas reivindicadas pela classe média alta; as outras classes são beneficiadas por tabela – bateu pé junto aos burgomestres exigindo a criação de ciclovias e/ou ciclofaixas. De uns tempos para cá, essa gente endinheirada, que tem condições de adquirir bicicletas e equipamentos de proteção individual de primeira linha – são essas mesmas pessoas as principais compradoras de carros, o que parece um contra-senso -, pôs-se a organizar passeios ciclísticos – diurnos e noturnos -, obrigando a Municipalidade a demarcar ciclofaixas – a maioria temporária, em horários e dias específicos – em diversos logradouros da capital, tendo até implantado um sistema de aluguel de bicicletas que há anos faz sucesso em grandes cidades europeias.

Apontada como uma alternativa das mais acertadas para de alguma forma reduzir os cada vez mais exasperantes congestionamentos que, em dados horários, praticamente param a cidade, a bicicleta não encontrou ainda no Recife lugares seguros para trafegar. A classe média pode se dar ao luxo de exigir a criação de ciclofaixas para o seu lazer, mas muita gente faz uso das “magrelas” para ir ao trabalho e à escola e até mesmo como instrumento de trabalho. Sendo assim, criar ciclovias é garantir proteção e segurança para quem se dispuser a sair de casa montado numa bicicleta, seja com que propósito for.

Na opinião de um colega de trabalho, Tiago Rodrigues, que pedala regularmente pelas ruas e avenidas do Recife e cidades vizinhas, ciclofaixas não garantem a integridade do ciclista: “Os motoristas frequentemente desrespeitam essas faixas, passam por cima. É preciso construir ciclovias, porque elas são separadas da área destinada aos carros”, ele me disse. E sua assertiva é diariamente confirmada com os inúmeros atropelamentos que muitas vezes vitimam fatalmente os vulneráveis ciclistas.

Num muito bem arrazoado artigo publicado pelo Jornal do Commercio recifense (“A questão da mobilidade”. Jornal do Commercio, Recife, 10 de março de 2013, Opinião JC, p. 18), o professor de Engenharia de Transporte Dirac Cordeiro destacou que “é preciso conceber as cidades como espaço de apropriação pública e coletiva e não de forma privada”, porque, somente assim, “construiremos um modelo de mobilidade que garanta a vida”.

E aí, vamos pedalar?!

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