20 de abril de 2013

Cidades desprotegidas


Por Clênio Sierra de Alcântara


As cidades, de maneira geral, são organismos complexos que, para bem se desenvolverem, necessitam de um conjunto de órgãos e de serviços que se interligam e conferem a elas um sustentáculo que lhes garante equilíbrio e vitalidade. Abastecimento de água e de energia elétrica; sistema de transporte público de passageiros; instituições como escolas, hospitais, bancos, supermercados e delegacias de polícia; equipamentos de lazer; etc. Tudo isso confere às cidades dinamismo e impulsionam uma série de atividades que visam ao bem-estar de seus habitantes. Urbanizar é civilizar.

Quando me refiro à questão da segurança que deve existir no espaço citadino, não me limito ao aparato policial; incluo nesse quesito o estabelecimento de uma instituição que, a meu ver, deveria estar presente na maioria dos centros urbanos do país: unidades de Corpos de Bombeiros.

Um estudo levado a cabo pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), com dados do ano de 2009, constatou que apenas 11% dos municípios brasileiros abrigam unidades do Corpo de Bombeiros, informação essa que só chegou ao grande público – normalmente os governantes não fazem publicidade de dados negativos, porque isso seria admitir sua incompetência, de forma que, levantamentos como o que foi realizado pelo IPT, a pedido do governo federal, têm seus resultados guardados para consumo próprio e só vêm à tona quando não dá mais para escondê-los – após o trágico acontecimento havido em Santa Maria (RS), em janeiro passado, onde um incêndio numa boate provocou a morte de mais de 240 pessoas.

As cidades que não dispõem de unidades do Corpo de Bombeiros têm de contar com os serviços daquelas que as possuem. Ocorre que, muitas vezes, a unidade acionada está localizada a dezenas de quilômetros do local do sinistro; dessa forma, o tempo-resposta do atendimento é prejudicado pela distância; e quando os bombeiros chegam já pode ser tarde demais. Avaliando essa calamitosa realidade, o Coronel Eduardo Casanova, comandante geral do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco e presidente da Liga Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (Ligabom), declarou recentemente que “É preciso que o governo olhe isso. As pessoas estão morrendo por falta de socorro” (Barbara Marcollini e Manuela Andreoni. “Bombeiros são para poucos”. Jornal do Commercio, Recife, 3 de março, Brasil, p. 24); pensamento esse que certamente é compartilhado por todos os cidadãos que têm consciência de que suas demandas não são atendidas, apesar da sufocante carga tributária que sobre eles recai.

Como se a ausência de unidades de Corpo de Bombeiros na maioria dos municípios brasileiros não fosse por si só um grande problema, muitas das que existem estão funcionando com efetivos mínimos e com equipamentos bastante ultrapassados e/ou danificados. Um retrato absurdo e vergonhoso desse Brasil que está gastando bilhões de reais para sediar a Copa do Mundo de Futebol (2014) e os Jogos Olímpicos (2016) foi mostrado em rede nacional pelo programa Fantástico, da Rede Globo, no último dia 7 de abril: quartéis com instalações precárias; e viaturas sem condições efetivas de uso colocadas na linha de frente dos combates a incêndios. Governos realmente sérios e comprometidos com a segurança de sua população não permitiriam esse estado de coisas.

No Brasil vigora uma desconfiança tal das pessoas para com as instituições governamentais, que nunca se deixa de torcer para que o temporal não venha, para que o acidente não ocorra, para que o incêndio não aconteça porque, sabem elas, que o desamparo será provavelmente a única coisa que os governantes lhes destinarão.

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