Por Clênio Sierra de Alcântara
As cidades, de maneira geral, são
organismos complexos que, para bem se desenvolverem, necessitam de um conjunto
de órgãos e de serviços que se interligam e conferem a elas um sustentáculo que
lhes garante equilíbrio e vitalidade. Abastecimento de água e de energia
elétrica; sistema de transporte público de passageiros; instituições como
escolas, hospitais, bancos, supermercados e delegacias de polícia; equipamentos
de lazer; etc. Tudo isso confere às cidades dinamismo e impulsionam uma série
de atividades que visam ao bem-estar de seus habitantes. Urbanizar é civilizar.
Quando me refiro à questão da
segurança que deve existir no espaço citadino, não me limito ao aparato
policial; incluo nesse quesito o estabelecimento de uma instituição que, a meu
ver, deveria estar presente na maioria dos centros urbanos do país: unidades de
Corpos de Bombeiros.
Um estudo levado a cabo pelo
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), com dados do
ano de 2009, constatou que apenas 11% dos municípios brasileiros abrigam
unidades do Corpo de Bombeiros, informação essa que só chegou ao grande público
– normalmente os governantes não fazem publicidade de dados negativos, porque
isso seria admitir sua incompetência, de forma que, levantamentos como o que
foi realizado pelo IPT, a pedido do governo federal, têm seus resultados
guardados para consumo próprio e só vêm à tona quando não dá mais para
escondê-los – após o trágico acontecimento havido em Santa Maria (RS), em
janeiro passado, onde um incêndio numa boate provocou a morte de mais de 240
pessoas.
As cidades que não dispõem de
unidades do Corpo de Bombeiros têm de contar com os serviços daquelas que as
possuem. Ocorre que, muitas vezes, a unidade acionada está localizada a dezenas
de quilômetros do local do sinistro; dessa forma, o tempo-resposta do
atendimento é prejudicado pela distância; e quando os bombeiros chegam já pode
ser tarde demais. Avaliando essa calamitosa realidade, o Coronel Eduardo Casanova,
comandante geral do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco e presidente da
Liga Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil (Ligabom), declarou
recentemente que “É preciso que o governo olhe isso. As pessoas estão morrendo
por falta de socorro” (Barbara Marcollini e Manuela Andreoni. “Bombeiros são
para poucos”. Jornal do Commercio, Recife, 3 de março, Brasil, p. 24);
pensamento esse que certamente é compartilhado por todos os cidadãos que têm
consciência de que suas demandas não são atendidas, apesar da sufocante carga
tributária que sobre eles recai.
Como se a ausência de unidades de
Corpo de Bombeiros na maioria dos municípios brasileiros não fosse por si só um
grande problema, muitas das que existem estão funcionando com efetivos mínimos
e com equipamentos bastante ultrapassados e/ou danificados. Um retrato absurdo
e vergonhoso desse Brasil que está gastando bilhões de reais para sediar a Copa
do Mundo de Futebol (2014) e os Jogos Olímpicos (2016) foi mostrado em rede
nacional pelo programa Fantástico, da Rede Globo, no último dia 7 de abril:
quartéis com instalações precárias; e viaturas sem condições efetivas de uso
colocadas na linha de frente dos combates a incêndios. Governos realmente
sérios e comprometidos com a segurança de sua população não permitiriam esse
estado de coisas.
No Brasil vigora uma desconfiança
tal das pessoas para com as instituições governamentais, que nunca se deixa de
torcer para que o temporal não venha, para que o acidente não ocorra, para que
o incêndio não aconteça porque, sabem elas, que o desamparo será provavelmente
a única coisa que os governantes lhes destinarão.
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