25 de abril de 2013

Personas urbanas (9)


Por Clênio Sierra de Alcântara


Flor de ir embora

é uma flor que se alimenta 

do que a gente chora;


rompe a terra, decidida,


flor do meu desejo

de correr o mundo afora.


Flor de sentimento


amadurecendo, 


aos poucos,a minha partida.

Quando a flor abrir inteira


muda a minha vida,


esperei o tempo certo.

E lá vou eu, e lá vou eu.

Flor de ir embora, eu vou,

agora esse mundo é meu.

                                              Flor de ir embora. Fátima Guedes.

  
Autoconfiança. Não quero mais viver amparado em muletas. Não mais. Nunca mais. Porque as muletas – não falo do objeto, evidentemente; mas de pessoas em que nos apoiamos, nos escoramos – impedem que façamos uso de nossa própria força, de nossos próprios julgamentos; e nos fazem temer o desconhecido, o arrojado, a novidade, incutindo em nós um medo por vezes paralisante do passo em falso, do fracasso, do quebrar a cara, do erro, como se tudo isso não fosse inevitável. Uns recorrem às muletas por covardia; outros por se julgarem incapazes de caminhar sozinhos; outros ainda para tirarem proveito de comodidades; e ainda há os que são levados pelas muletas a crer que não podem viver sem elas.

Cada um tem suas prioridades. Não é tolice acreditar que se é o centro da vida de outra pessoa? A mim me parece que sim, porque não há nada mais volúvel do que os sentimentos humanos. Existem pessoas que entram num relacionamento e ludibriam o quanto podem o ser desejado. Dizem que estão com você para o que der e vier, mas suas ações vão revelando que não é bem assim. E quando você tenta argumentar, elas saem pela tangente. Tudo é prioridade para elas – mãe, avó, irmão, sobrinhos, afilhados, amigos, um carro, uma moto... -, menos você; você não passa de uma distração, de uma válvula de escape, de uma garantia de obtenção de algum tipo de prazer.

Caro leitor, quando um passarinho quer construir uma morada, mas não encontra a mesma disposição em sua pretendente, não deve ficar voando de lá para cá e de cá para lá com destinos incertos, como se viver se resumisse a fugas da realidade e não existissem as responsabilidades das contas a pagar, das feiras a fazer e das tantas outras necessidades da vida prática.

Estou a poucos meses de completar quatro décadas de vida. Nos últimos anos eu me deixei levar por uma muleta e hoje, quando olho para trás, sinto uma raiva enorme de mim por não ter construído nada e só ter perdido meu tempo. A esta altura de minha existência tenho reconsiderado uma porção de coisas. Uma delas é justamente a crença de que não se pode ser feliz sozinho.

O futuro não me intimida. Pelo contrário. Tenho plena confiança no futuro; e isso faz brotar em mim diariamente – eu que para muitos sou apenas carrancudo e chato e insensível e egoísta – pensamentos de renovação e de liberdade, mesmo quando nuvens de abatimento e desolação cismam em querer pairar sobre minha cabeça. A liberdade não me assusta, nunca me assustou, porque ela sempre foi por mim desejada, porque ela é o fundamento da minha verdade.

Começou a chover forte. Rompi o paredão da represa: meu rio precisa correr caudaloso para sobrepor os obstáculos.

Um comentário:

  1. Você é cara muito inteligente. Sempre que posso dou uma olhada nos seus artigos. Continue escrevendo.

    Um grande abraço.

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