Por Clênio Sierra de Alcântara
Uma das maiores pragas do nosso
tempo, o “politicamente correto” vem a cada dia lançando seus tentáculos
paralisantes sobre o que resta de vida inteligente no planeta Brasil. O receio
de vir a se tornar um “inimigo público nº 1” , por se emitir uma opinião sobre o que quer
que seja, tem feito com que muitos se calem e/ou então recorram a malabarismos
retóricos para dizerem coisas que até pouco tempo atrás eram consideradas prosaicas.
De minha parte eu nunca vou deixar de escrever algo como “Lima Barreto é um
importante escritor negro brasileiro...”, ainda que a “ditadura” do
politicamente correto proclame que, para que eu “não queime o meu filme”
perante certo estrato social, eu devo utilizar, em vez da palavra “negro”,
outra: “afrodescendente”. Por acaso trata-se de crime, trata-se de ofensa dizer
que uma pessoa negra é negra? Em mais de um lugar eu já li e/ou ouvi indivíduos
negros dizerem que não aceitam esse negócio de ser chamados de “afrodescendentes”,
porque eles são “negros” e têm orgulho de sua raça e sua cor; e o termo afrodescendente
não altera nada.
Talvez mais nefanda do que a
vigilância do politicamente correto – cuidado, leitor, podem tachá-lo de
maldito e preconceituoso se descobrirem que você anda frequentando este blog –
seja a postura de quem se põe em cima do muro de modo permanente. A covardia
causa comichão em mim. A
falta de comprometimento por vezes me exaspera.
Desculpem-me por este longo
preâmbulo. Apenas quis deixar bastante claro que não me submeto ao
politicamente correto e que, como historiador e, principalmente como cidadão,
repudio quaisquer ameaças à liberdade de expressão e ao livre pensar; bem como
repilo discriminações de toda ordem.
A matéria deste artigo, como
evidencia o seu título, é o meu completo apoio à iniciativa daqueles que
defendem uma mudança no corpo legal a fim de que seja instituída a redução da
maioridade penal neste país, porque estou entre os que creem que justiça branda
é uma justiça que se põe a favor do infrator, é uma justiça que protege o
assassino, o ladrão, o traficante de drogas, o estuprador. Contudo não sou tão
ingênuo para acreditar que o estabelecimento da redução da maioridade penal
provocará o decréscimo do número de crimes praticados por “cidadãos” menores de
18 anos de idade. O meu apoio a essa causa se fundamenta no fato de eu
considerar que as penas imputadas aos criminosos neste país são um acinte aos
cidadãos de bem que trabalham honestamente e têm suas vidas maculadas e/ou
interrompidas por indivíduos que agem muitas vezes confiantes de que a Justiça
de fato não será feita, porque eles, os infratores, é que receberão benefícios
de toda ordem: internação durante um período de no máximo três anos; regime de
progressão de pena; ingresso no regime semiaberto, etc. Enquanto isso, as
vítimas – as que conseguem sobreviver, evidentemente – permanecem carregando
seus traumas e se arriscando a toparem novamente com seus algozes nas esquinas
das ruas. Diga-me, leitor, isso é justiça?
Houve um tempo em que eu defendia
a instituição da pena capital no Brasil. Isso passou. Considero a aplicação da
pena de morte um retorno à barbárie. A Lei de Talião – aquela do “olho por
olho, dente por dente” – não se ajusta ao estágio de civilização que a maioria
das sociedades atuais alcançou. Por outro lado, eu continuo defendendo que os
autores de crimes hediondos não devem ter uma segunda chance em suas vidas;
para mim esses indivíduos não deveriam voltar ao convívio social e, sim,
terminarem seus dias atrás das grades, afastados, bem afastados de todos
aqueles que compreendem que a vida não é um direito e, sim, um privilégio, e
que, por isso, zelam por ela.
Aqueles que defendem a manutenção
da lei que considera os menores de idade cidadãos inimputáveis argumentam que a
redução da maioridade penal não reduzirá a ocorrência de infrações praticadas
pelos adolescentes; que “violência gera violência”; e que o que se deve fazer é
arranjar escola e emprego para esse pessoal. É o mesmo discurso de sempre: o
infrator é um sujeito que não teve oportunidades na vida; é um coitadinho; é um
indivíduo em processo de formação como pessoa. Essa cantilena é terrível. Na
vizinhança de minha casa conheço alguns casos de indivíduos que enveredaram pelo
mundo do crime mesmo tendo famílias que lhes sustentava. Vai ver eles
ingressaram na criminalidade porque seus pais não puderam lhes dar um tênis de
marca e nem um celular de última geração.
Num momento em que a banda retrógrada
do Congresso Nacional – permaneço acreditando que existe também gente de bem
ali – tenta emascular o Supremo Tribunal Federal e acompanhamos estarrecidos o
caso de uma dentista que foi queimada viva
por bandidos, espero que a discussão em torno da redução da maioridade
penal não se apague, que ela se mantenha acesa, que não venha à tona somente
quando a sociedade se ver chocada e abalada por mais um crime bárbaro que um
menor de idade praticou. É preciso que a luz do inconformismo diante desse
estado de coisas seja mantida sempre acesa, do contrário, mergulharemos todos
nas trevas do descaso, da impunidade, do pouco caso, da conivência e do pior de
tudo – do é assim mesmo.
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