Por Clênio Sierra de Alcântara
Flor
de ir embora
é uma flor que se alimenta
é uma flor que se alimenta
do que a gente chora;
rompe a terra, decidida,
flor do meu desejo
de correr o mundo afora.
Flor de sentimento
amadurecendo,
aos poucos,a minha partida.
Quando a flor abrir inteira
muda a minha vida,
esperei
o tempo certo.
E
lá vou eu, e lá vou eu.
Flor
de ir embora, eu vou,
agora
esse mundo é meu.
Flor de ir embora. Fátima Guedes.
Autoconfiança. Não quero mais viver amparado em
muletas. Não mais. Nunca mais. Porque as muletas – não falo do objeto,
evidentemente; mas de pessoas em que nos apoiamos, nos escoramos – impedem que
façamos uso de nossa própria força, de nossos próprios julgamentos; e nos fazem
temer o desconhecido, o arrojado, a novidade, incutindo em nós um medo por
vezes paralisante do passo em falso, do fracasso, do quebrar a cara, do erro,
como se tudo isso não fosse inevitável. Uns recorrem às muletas por covardia; outros por
se julgarem incapazes de caminhar sozinhos; outros ainda para tirarem proveito
de comodidades; e ainda há os que são levados pelas muletas a crer que não
podem viver sem elas.
Cada um tem suas prioridades. Não é tolice
acreditar que se é o centro da vida de outra pessoa? A mim me parece que sim,
porque não há nada mais volúvel do que os sentimentos humanos. Existem pessoas
que entram num relacionamento e ludibriam o quanto podem o ser desejado. Dizem
que estão com você para o que der e vier, mas suas ações vão revelando que não
é bem assim. E quando você tenta argumentar, elas saem pela tangente. Tudo é
prioridade para elas – mãe, avó, irmão, sobrinhos, afilhados, amigos, um carro,
uma moto... -, menos você; você não passa de uma distração, de uma válvula de
escape, de uma garantia de obtenção de algum tipo de prazer.
Caro leitor, quando um passarinho quer construir
uma morada, mas não encontra a mesma disposição em sua pretendente, não deve ficar
voando de lá para cá e de cá para lá com destinos incertos, como se viver se
resumisse a fugas da realidade e não existissem as responsabilidades das contas
a pagar, das feiras a fazer e das tantas outras necessidades da vida prática.
Estou a poucos meses de completar quatro décadas
de vida. Nos últimos anos eu me deixei levar por uma muleta e hoje, quando olho
para trás, sinto uma raiva enorme de mim por não ter construído nada e só ter
perdido meu tempo. A esta altura de minha existência tenho reconsiderado uma porção
de coisas. Uma delas é justamente a crença de que não se pode ser feliz
sozinho.
O futuro não me intimida. Pelo contrário. Tenho
plena confiança no futuro; e isso faz brotar em mim diariamente – eu que para
muitos sou apenas carrancudo e chato e insensível e egoísta – pensamentos de
renovação e de liberdade, mesmo quando nuvens de abatimento e desolação cismam
em querer pairar sobre minha cabeça. A liberdade não me assusta, nunca me
assustou, porque ela sempre foi por mim desejada, porque ela é o fundamento da
minha verdade.
Começou a chover forte. Rompi o paredão da
represa: meu rio precisa correr caudaloso para sobrepor os obstáculos.
Você é cara muito inteligente. Sempre que posso dou uma olhada nos seus artigos. Continue escrevendo.
ResponderExcluirUm grande abraço.