20 de junho de 2013

As marchas de junho

Por Clênio Sierra de Alcântara

Fotos: internet

Finalmente parte da população inconformada com os desmandos deste Governo que aí está, resolveu sair às ruas e bradar em alto e bom som os motivos que têm feito com que várias cidades brasileiras venham, desde a semana passada, abrigando manifestações contra o estado de coisas que emperra o progresso deste país. O avanço da mobilização é mais do que bem-vindo num momento em que, sob ameaça de elevação dos índices inflacionários que esmagam o poder de compra dos assalariados e provocam, por conseguinte, o aumento da dívida pública, o Governo central comporta-se como se vivêssemos no melhor dos mundos.



Recife

As tarifas dos ônibus aumentam sem que ocorra melhoria do sistema de transporte público; sem que os problemas que envolvem a mobilidade urbana sejam sanados; sem que a insegurança dos passageiros nas viagens seja sequer posta em discussão. O aumento das passagens foi o estopim de um movimento que está mostrando ao restante da população – principalmente àquela porção que recebe mesada do Governo – que as reivindicações são legítimas porque o quadro social vigente não é nada animador; o movimento está querendo mostrar para o cidadão alienado que, enquanto aquele hospital e posto de saúde sucateados aos quais ele acorre não lhes prestam atendimento, os cofres públicos despejaram bilhões de reais para construir estádios de futebol nos quais a Fifa ditou as regras; o movimento quer explicar ao cidadão que está alheio às mazelas sociais que, enquanto milhões de nordestinos sofrem com as conseqüências da seca, o Governo central se empenha ferreamente em articulações políticas visando à reeleição dessa presidente que já foi classificada por um jornalista como a “mais inepta da história”; o movimento quer esclarecer para o cidadão comum que, enquanto o Governo enche as burras com impostos como IPVA e multas de trânsito, o sistema viário segue sendo uma verdadeira vergonha nacional, estando a BR 101 em estado de calamidade pública e com uma obra de duplicação que se arrasta há muitos anos; o movimento quer, enfim, fazer com que o cidadão acorde para a realidade e se dê conta de que o Governo que aí está não tem, de fato, um plano de melhoria das condições de vida para o povo, e sim, um plano de perpetuação no poder; por isso a criação absurda de mais ministérios – como se achasse pouco a inoperância dos existentes -; por isso a ocupação das diretorias da estatais pelos seus apaniguados. Quanto ao povo, ah, quanto ao povo – como diria aquele personagem Justo Veríssimo, criação do saudoso Chico Anysio -, eles querem que o povo se exploda. Daí porque os altos índices de criminalidade andam de mãos dadas com a impunidade; daí porque existem ainda neste país escolas sem luz, água e merenda; daí porque pessoas morrem nos corredores dos hospitais; daí porque as obras de transposição do Rio São Francisco não são concluídas.

Atente-se para o fato de que alguns espíritos de porco, por iniciativa própria ou a mando de não sei quem, estão maculando a legitimidade dos protestos promovendo saques e quebra-quebras. Assim não pode.




Brasília
É claro que são múltiplas as interpretações que podem ser tiradas das passeatas que tomaram as ruas de grandes cidades brasileiras nos últimos dias. A análise que fiz desse movimento foi essa. As marchas de protesto e reivindicação evidenciam que há um clamor por mudanças no seio da população que não se deixa iludir pelas propagandas edulcoradas do Governo. O cidadão comum, que acompanha a vida através da televisão, pode facilmente acreditar, por exemplo, que o país é uma potência petrolífera; mas quem procura se informar por outras fontes sabe muito bem que faz um bom tempo que este país vem importando combustíveis.




Recife

Não dá para ludibriar a todos por muito tempo. Por mais eficiente que seja a máquina estatal da dissimulação e da deturpação da realidade, ela não consegue fazer com que os fatos sejam prontamente ignorados, porque eles, os fatos, são como os exibicionistas, estão sempre querendo se mostrar.





Não foi por acaso que muitos dos manifestantes presentes nas marchas repudiaram toda e qualquer referência partidária. Há muito que os partidos políticos no Brasil deixaram de se alinhar com a sociedade e até mesmo com seus princípios doutrinários fundadores. A prova cabal disso é a criação incessante de siglas prometendo comprometimento com isso e aquilo, quando, na verdade, o compromisso é um só: eleger afiliados para que possam se apoderar da máquina pública. E danem-se os princípios doutrinários fundadores. E dane-se o povo.




E como não há partidos comprometidos com as massas, consequentemente não há lideranças às quais possamos recorrer. Infelizmente, no Brasil, político virou sinônimo de aproveitador, de corrupto. E não porque a população tenha má vontade para com eles; mas, sim, porque não são raros os casos de políticos flagrados pilhando os recursos públicos.

As marchas de junho estão deixando claro que a malversação com o dinheiro do contribuinte atingiu patamares absurdos. Essas pessoas estão cientes de que, diferentemente do que anunciam os cortesãos do Governo, o único legado que as obras da Copa do Mundo deixarão será um rombo desmedido nos cofres públicos.


É preciso protestar contra os desmandos. É preciso repudiar as negociatas. É preciso combater os delinquentes. É preciso punir os infratores. É preciso afugentar os enganadores. É preciso encarcerar os fraudadores. É preciso repelir os aproveitadores. É preciso fustigar os indiferentes.



Acorda Dilma Poste Apagado Rousseff! Não faça de conta que os protestos não são contra a senhora. A marcha da História vem vindo; e ninguém pode fazer com que ela deixe de seguir em frente. Felizmente chegará o dia em que a senhora vai ficar para trás.









Um comentário:

  1. Muito bom texto ,retrato real de um sistema injusto e cruel.Estamos vivendo um momento para se refletir.Agora
    pensso que as pessoas que gostam de futebol e tem maior poder aquisitivo deveriam gostar
    mais de si mesmas, por que carro blindado muros altos não as põem em segurança plena.Seria importante que todos boicotassem
    todos os jogos da copa. o povo tem que criar vergonha na cara. Eu só queria ver se ninguém comprassem os ingressos se não ia causar grandes transformações em nosso país.

    Att: Andrea Regina

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