28 de junho de 2013

Ainda as marchas de junho

Por Clênio Sierra de Alcântara

Fotos: Ernani Neves


Sim, é verdade que tem gente afirmando por aí que as pessoas que estão saindo em protesto pelas ruas deste país, são bandos de desocupados, como fica a repetir um meu amigo que não sabe o que é andar de ônibus e nunca passou aperto financeiro na vida. O que ele e tantos outros não veem ou não querem ver é que esse clamor popular nada tem de irresponsável. Nós, o povo, estávamos por aqui diante de tantos desmandos praticados pelos administradores da coisa pública. Nós, o povo, queremos mudanças.















As marchas de junho continuam agitando os quatro cantos do país graças principalmente à convocação feita pelas redes sociais. As redes sociais não são habitadas somente por uma gente alienada cujo esporte favorito é bisbilhotar a vida alheia, escrever bobagens e comentar o que rolou nas novelas. Há vida inteligente ali; inteligente, corajosa, formadora de opinião e disposta a arregaçar as mangas e ir às ruas protestar contra as malfeitorias de nossos governantes. É por essas e outras que a liberdade de expressão proporcionada pela internet, em particular, e pela imprensa, em geral, incomoda a muitos dos lacaios deste desgoverno que aí está, que a todo custo ficam – nem por um segundo eles conseguem esconder seus impulsos autoritários – querendo amordaçar a imprensa e a própria rede mundial de computadores.


















Vivenciar os fatos em vez de apenas narrar e interpretar o que é visto de longe. Anteontem acordei cedo; fiz minhas obrigações do dia; comprei uma cartolina branca para registrar meu protesto particular em letras garrafais pintadas de verde, azul e amarelo – parafraseando o slogan do Governo central eu escrevi assim: “País rico é país sem políticos corruptos e inoperantes!!” -; almocei; vesti camisa preta em sinal de luto; e saí da minha zona de conforto, percorrendo os 47 quilômetros que separam a Ilha de Itamaracá, onde moro, do bairro do Derby, no Recife, embarcando em três ônibus. Fui até lá a fim de engrossar as fileiras de uma marcha de protesto programada para sair às 16:00 h.


















Não posso negar que um misto de emoção e apreensão me tomou enquanto eu caminhava para me juntar à multidão que só fui alcançar na altura do Bompreço da Av. Agamenon Magalhães, um dos principais corredores viários da capital pernambucana. Empunhando o meu pequeno protesto entoei junto com a massa alguns gritos de ordem como este: “Da Copa abro mão. Eu quero mais dinheiro pra saúde e educação”. A marcha seguia. A coisa estava bonita. Ordeira. Pacífica. Moradores de comunidades carentes de Santo Amaro e do Torreão se juntaram a nós.





De repente uma correria: policiais prenderam um rapaz em “atitude suspeita”. A marcha prosseguiu rumo ao Centro de Convenções, em Olinda, onde o Governador Eduardo Campos tem despachado, uma vez que o Palácio do Campo das Princesas encontra-se em obras de restauração. Novo tumulto: um adolescente descamisado saiu correndo e um rapaz que integrava a passeata partiu atrás dele. Furto? Bate-boca? Não sei.












À medida que nos aproximávamos do nosso destino, a euforia aumentava. Gritos de ordem contra o aumento das passagens de ônibus, contra os políticos que só pensam em si mesmos, contra a educação de baixa qualidade, contra a ineficácia da Justiça, contra os altos índices de criminalidade, contra o estado deplorável dos hospitais públicos... Muitas eram as demandas.













E eis que o democrata Eduardo Campos, e eis que o socialista Eduardo Campos frustrou nossas expectativas de chegarmos ao Centro de Convenções. O nobilíssimo governador Eduardo campos mandou que centenas de PM’s – Cavalaria, Choque, Rádio Patrulha – bloqueassem nossa passagem; bem afastados ficamos da sede provisória do executivo estadual. Alguns irresponsáveis lançaram pedras contra os policiais, mas logo foram contidos pela maioria ordeira É, governador, o senhor pode ter impedido que a marcha de anteontem seguisse em frente; mas não impedirá a realização de outras. É, governador, pelo andar da carruagem sua candidatura à presidência da República vai definhar tal qual o gado vitimado pela seca.





Bloqueados, permanecemos durante certo tempo nas proximidades do viaduto Engenheiro Roberto Pereira de Carvalho. Choveu um bocadinho. E já depois das 18:00 h começamos a nos dispersar. Eu não estava por perto quando um grupo entrou em confronto com policiais na Av. Cruz Cabugá; a esta altura eu esperava um ônibus para voltar para casa.



Por conta do barulho reivindicatório das ruas, caro leitor, aquela gente de Brasília que vive enclausurada tramando contra o progresso do Brasil, resolveu se conectar com a realidade – ou fazer de conta, porque não existe bicho mais dissimulado e traiçoeiro do que político brasileiro. O Senado e a Câmara dos Deputados deram suas “cotas de sacrifícios” engavetando projetos impopulares e tirando dos escaninhos outros, importantes, que ali estavam repousando havia anos. Princípio de operância e moralidade? É esperar para ver.




Enquanto isso os gastos exorbitantes com a realização da Copa do Mundo de Futebol seguem em escala ascendente. Nada contra o Brasil ser o país do futebol, do Carnaval e das bundas de fora. Mas, por que não ser também o país da educação de qualidade, da moradia decente e segura, da Justiça que pune de verdade, dos hospitais onde não se morre nos corredores?







Em meio a tudo isso, até a nulidade que atende pelo nome de Dilma Rousseff resolveu apresentar seu “pacotinho de bondades”. Sem essa, presidenta. Peça para sair. Diga que vai ali e não volte mais. Não seria um ato de fraqueza, não, pelo contrário. Senhora Dilma Rousseff, se vossa excelência tivesse um mínimo de autocrítica admitiria sua incapacidade para governar este ou qualquer outro país, estado ou prefeitura; e diria aos mandachuvas de seu partido que não aceita disputar a reeleição. Fazendo isso, senhora Dilma Roussef, esse seu governo que não consegue dinamizar a economia nem melhorar a educação, a saúde, a segurança pública e a infraestrutura, prestaria o único e relevante serviço à população desta nação que tem saído às ruas clamando por uma verdadeira paz e justiça social. Tenha dignidade e brio, presidenta. Não é de dirigentes como a senhora que este país precisa.



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