6 de julho de 2013

Patrimônio & Descaso (II)

Por Clênio Sierra de Alcântara

Quando não existe por parte da sociedade um entendimento de que a proteção e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural cabe a todos e a cada um de nós e não apenas aos órgãos públicos, flagrantes de abandono, dilapidação, desrespeito e destruição desses bens tornam-se corriqueiros e podem ser encontrados em diversos pontos das cidades.

Não devemos compreender um patrimônio apenas pelo que ele é fisicamente. Um sobrado histórico não é tão-somente mais um prédio em meio a tantas outras edificações que marcam determinado espaço urbano. Além da importância enquanto unidade representativa de um período específico da evolução urbanística, ele agrega uma série de informações tanto de ordem material quanto de palco de acontecimentos: que técnicas foram usadas em sua construção? De onde vieram os materiais? Quem elaborou o desenho de sua planta? Quem foram o mestre de obras e os seus auxiliares? Quem morou ou o que funcionou no sobrado?

As edificações que pontuam a paisagem urbana carregam - cada uma delas - inúmeras histórias. Decerto que seríamos completamente ingênuos se pensássemos seguindo a diretriz: tudo o que um dia existiu deve ser preservado. Por outro lado, devemos ter em mente que o caráter da preservação não deve ser pautado apenas pela proteção de exemplares isolados, porque, em alguns casos, só protegendo um sítio amplo, envolvendo várias edificações, faz sentido preservar – uma vila operária, por exemplo -, uma vez que é somente dentro de um conjunto que um prédio específico pode ser efetivamente compreendido – dentro de um conjunto e de uma ambiência.

Os prédios antigos compõem um acervo de valor inestimável para as cidades, quer eles estejam em espaços urbanos, quer eles se encontrem no meio rural. E toda vez que uma edificação que é depositária de parte da história de um determinado lugar desaparece, ela leva junto consigo testemunhos materiais que nem mesmo a descrição mais minuciosa poderá reconstituir.



Sobrado da Rua Siqueira Campos
Goiana - PE, junho de 2013





Goiana é uma das cidades mais antigas de Pernambuco. E abriga várias edificações tombadas pelo Iphan, em âmbito federal, e pela Fundarpe, em âmbito estadual. Em que pese o acervo arquitetônico deslumbrante que possui, essa cidade vem há anos assistindo ao desaparecimento de boa parte de seu casario pitoresco. Inúmeros são os casos em que os proprietários dos prédios promoveram reformas que eliminaram todo e qualquer vestígio de passado que suas edificações retinham; enquanto que outros deixaram seus imóveis simplesmente sucumbir ao transcurso do tempo.





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