21 de agosto de 2013

Personas urbanas (10)

Por Clênio Sierra de Alcântara


“Você mostrou pra mim
Onde encontrar assim
Mais de um milhão
De motivos pra sonhar, enfim
E é tão gostoso ter
Os pés no chão e ver
Que o melhor da vida
Vai começar”.

                    O melhor vai começar. Guilherme Arantes




Cumplicidade. Considero duas coisas essenciais num relacionamento – seja ele afetivo e/ou de amizade -: confiança e cumplicidade. E como cumplicidade requer confiança, penso que elas estão intrinsecamente ligadas.

Não é com qualquer um que podemos dizer: somos cúmplices. Cumplicidade é algo que vai se construindo paulatinamente, num crescendo cotidiano no qual a sinceridade é o maquinismo mais forte. Ser cúmplice é compartilhar muito mais do que segredinhos, alegrias, decepções, fracassos e desejos. Ser cúmplice é compartilhar com outrem a essência de que somos feitos sem medir as consequências.

Sinceramente eu não sou um cara dado a relacionamentos de amizade e/ou afetivos superficiais. Talvez seja de minha natureza a atração que exerço sobre pessoas verdadeiras: ou elas me amam ou me odeiam. Sem meio termo, sem restrições, sem remendos, sem estabelecer condições, sem cobranças, sem repreensões, enfim, sem querer podar ou anular em mim o que lhes desagrada.

Durante vários anos eu covardemente me esquivei das pessoas por pré-estabelecer que ninguém é de confiança e, por conseguinte, capaz de ser meu cúmplice. Custou para que eu me livrasse da crosta de medo que me envolvia e compreendesse que cada um de nós precisa se desarmar – embora não de todo – e aprender a confiar, a ser cúmplice, do contrário, não conseguimos fortalecer relacionamentos. Com o decorrer do tempo vamos percebendo que algumas pessoas se tornam verdadeiros portos seguros para nós.

Mas, quanto tempo é necessário para que a cumplicidade se estabeleça? Um, dois, cinco, oito, dez anos? Dez anos é bastante tempo, não é? Dez anos é uma longa duração. Dez anos é tempo suficiente para maturar muitas coisas entrelaçadas com a cumplicidade, como carinho e companheirismo. Penso, no entanto, que cumplicidade algumas vezes pode ir se estabelecendo desde o primeiro contato, dependendo da empatia e/ou simpatia que o interlocutor desperta em nós e vice-versa.

Ainda que eu seja tomado por muitos como um tremendo casca grossa, insensível e estúpido – basta dizer que por alguns eu sou chamado de Seu Lunga -, tive e tenho a fortuna de encontrar pessoas que me dão satisfações plenas de afeto e abrigo. Sempre preferi a verdade a mentira. E de uns tempos para cá passei a encarar certos aspectos da vida com o peito escancaradamente aberto, sem receio de acertar.


Não sei se “a alegria é a prova dos nove”, como dizia Oswald de Andrade. O fato é que estou inclinado a acreditar que dez anos de cumplicidade pode durar a vida toda.

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