8 de outubro de 2013

Bienal de livro ou feira livre?



Por ClênioSierra de Alcântara


A cada dois anos a história se repete: eu digo que não vou mais e acabo indo, porque meu apego aos livros é maior do que a minha vontade; e eu fico na torcida de que desta vez será diferente. Que tolo que eu sou!

Anteontem eu fui visitar a IX Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, montada no pavilhão do Centro de Convenções, em Olinda, e remoí cada um dos dissabores que venho apontando desde a primeira vez que compareci a esse evento. Não bastassem a profusão de lixo cultural destinados aos públicos infantil e adolescente – é quase insuportável ver tantos stands exibindo posters e revistas de ídolos infanto-juvenis -, a superabundância de revistas de artesanato e decoração, gibis, palavras-cruzadas, apostilas de concursos e uma invasão assustadora de editoras de publicações religiosas, a Bienal do Livro de Pernambuco está se transformando numa imensa feira livre onde são oferecidos desde quadros e doces caseiros até bolsas e outros acessórios.

A impressão que eu tenho é que os organizadores do evento se preocupam apenas em preencher o espaço, seja com o diabo que for; daí por que encontramos stands nos quais livros mesmo não aparecem. O fato é que essa bienal, que é vendida como a terceira maior do país, tornou-se um negócio bastante lucrativo; só com os vales-compra distribuídos pelos governosestadual e municipal para os profissionais da Educação, os comerciantes obtêm um bom ganho. Fazendo um cálculo assim por alto, pelo que eu tenho visto nas últimas edições do evento, 70% a 75% - estão vendo que eu não sou tão pessimista assim! – das publicações que são postas à venda ali não eram para ser sequer distribuídas de forma gratuita a professores quanto mais ser vendidas. Tudo bem que existam pessoas que adoram uma literaturazinha de autoajuda e tal, mas minha opinião é de que as compras feitas com os vales – leitor, esse dinheiro sai dos nossos impostos! – deveriam ser única e exclusivamente destinados à aquisição de livros técnicos da área de atuação do profissional e ponto. Quer ler Gabriel Chalita, Padre Marcelo Rossi, Augusto Cury, Dan Brown e Stephanie Meyer? Então pague do seu próprio bolso.

Diferentemente de muitos dos frequentadores da bienal – incluindo certo tipinho descompromissado de professor, que se esforça para não fazer nada – eu não compro livros a cada dois anos. Livros são artigos essenciais para mim; eles são elementos-chave dentro do que se convencionou chamar de qualidade de vida; de modo que, da mesma forma que eu vou ao supermercado fazer a feira do mês, mensalmente eu adquiro pelo menos dois títulos. Sinceramente, eu não sei se conseguiria viver sem ter a companhia dos livros. Por isso eu creio que para os amantes da boa leitura, um passeio por um evento como a Bienal do Livro de Pernambuco cause no mínimo um mal-estar. Só não vê quem não quer que nessa bienal, o livro é mero coadjuvante, um pretexto para se atrair compradores para um sem-número de outras coisas. E como a ideia é ocupar, é vender espaço – o valor do aluguel do metro quadrado no pavilhão não é para qualquer um -, inventam-se outros chamarizes como palestras e lançamentos de obras que às vezes são canceladas sem que se dê nenhuma satisfação à plateia.

A mim me parece que o único acerto dos organizadores desta edição da bienal foi homenagear o Tarcísio Pereira, o livreiro que durante anos comandou um ícone chamado Livro 7. De resto, a Bienal do Livro de Pernambuco é um espetáculo grotesco e desanimador. Qualquer sebo que comporte um bom acervo é mil vezes mais interessante do que essa bienal.

Se futuramente a Bienal do Livro de Pernambuco continuar nesse ritmo de mau a pior que a tem marcado em suas nove edições, e eu for convidado a palestrar ali – quase tudo é possível, ora pois –, recusarei dizendo em tom de pilhéria: “Chamem o Machado de Assis”. E se o meu interlocutor insistir afirmando: “Meu caro, Machado morreu faz muito tempo”. Eu completarei: “Ah, foi? Pior para você. Neste caso, chame o João Alberto”.

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