22 de março de 2014

Feiras livres (8)


Por Clênio Sierra de Alcântara



Bairro da Prata (Campina Grande – PB). Quando, em outubro do ano retrasado, estive em Campina Grande, cidade paraibana que dista a cerca de 122 km da capital João Pessoa, não perdi a oportunidade de ir conhecer uma de suas feiras livres.




Fotos: Ernani Neves


Localizada no bairro da Prata, a feira livre desse lugar funciona num grande galpão coberto de dois pavimentos que é relativamente recente. Um senhor, que passava por ali no momento em que eu chegava, me contou que o terreno onde foi erguido o galpão era o antigo pátio da feira: “Mas era muito imundo e desorganizado. Agora está uma maravilha”, completou. Ele me falou ainda que a Rua Duque de Caxias, que atualmente abriga principalmente a feira do troca-troca, recebia também muitos feirantes. Severino Francisco, o Bibiu, 61 anos, músico e professor de História, também me prestou um depoimento: "A feira antiga era no pátio na área onde foi construído o pavilhão; os bancos eram montados e depois retirados: o pátio ficava livre quando terminava a feira. O pessoal agora diz que o lugar é moderno. Tudo é moderno. Eu gostava da feira antiga. Essa feira atual tirou as características da que existia. Você conheceu a feira antiga de Abreu e Lima? Pois era igual àquela".




Uns bancos são feitos de madeira; e outros de ferro


O galpão é enorme. E afora os bancos que são feitos de madeira e ferro, o prédio comporta vários boxes e banheiros. No pavimento superior foram concentrados inúmeros bares e restaurantes – é uma praça de alimentação.





A feira ocorre com maior movimento aos domingos, justamente o dia em que eu a visitei. E é bastante procurada pela população do lugar que pode encontrar ali uma grande variedade de produtos alimentícios, além de utensílios domésticos, eletroeletrônicos, calçados, etc.











Como nem todos os feirantes conseguiram espaço na área cercada, ruas do entorno abrigam bancos de vários dos excluídos. A dinâmica da rua é agitada.




Além da cerca: os feirantes excluídos do galpão comercializam nas ruas adjacentes
















A praça de alimentação do pavimento superior







Alguns dizem que a vida é igual a rapadura: é doce mas é dura




















Estávamos eu e o fotógrafo Ernani Neves conversando com José Fernandes, que negocia bolos e doces naquele lugar desde 1961, quando, caro leitor, se deu o seguinte incidente: manuseando uma faca para cortar os doces que havíamos pedido – doces deliciosos de coco e de jaca -, José foi surpreendido por um pinguço que, brigando com outro cachaceiro, tomou a faca do feirante para afrontar o rival, que seguia em direção dele empunhando uma pá. Tumulto e correria na feira. Em princípio eu tomei um susto danado; mas logo me encorajei e fui acompanhando os brigões no meio da multidão. Não demorou para que os seguranças do local agissem e pusessem os dois valentões para fora do recinto.





Eu conversando com o José Fernandes





Doce bom danado este




Este também























Depois do susto, sentamos para almoçar no box da Márcia, que, junto com sua esperta filha, nos serviu uma comida muito gostosa.

Embora não tenha a configuração de uma típica feira livre nordestina – com mercadorias espalhadas em bancos e pelo chão num pátio aberto -, a do bairro da Prata, em Campina Grande, ainda assim, mantém em seu bojo algo que é bem característico desse tipo de comércio popular: a preservação do caloroso contato entre vendedor e comprador que se estabelece logo de cara, sem formalidades, como se fôssemos velhos conhecidos.














Caro José Fernandes, se por acaso o senhor ler este texto, saiba que me senti privilegiado por ter encontrado tanta simpatia numa só pessoa - na sua pessoa. Até a vista!









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