Por
Clênio Sierra de Alcântara
Normalmente
mais do que as boas, as más lembranças ficam a martelar nossa cabeça de modo
quase contínuo. Talvez isso seja um dos fundamentos necessários para a nossa
sobrevivência, porque, ao relembrarmos acontecimentos ruins, ficamos alertas
para que eles não mais se repitam; e nos policiamos de maneira que tiremos
deles alguma lição.
Levará
tempo, bastante tempo para que os abreulimenses nos recuperemos do grande
infortúnio que foi ver nossa dignidade, honradez e brio serem pisoteados por um
bando de vândalos que promoveram arrastões e saques, arrasando parte do
comércio da cidade de Abreu e Lima nos dias 14 e 15 deste mês de maio.
Percorrendo
as áreas onde os desordeiros atuaram pude observar o resultado de tanta
selvageria. E cada imagem e cada depoimento que eu ia colhendo me deixavam, igualmente
àqueles cenários, arrasado. Parecia que as ruas haviam sido palco de uma
guerra: tapumes, portas arrombadas, restos de comida, objetos danificados que
ficaram para trás durante a correria... Uma desolação só.
Em
certa medida o que se viu nas ruas de Abreu e Lima durante os dias da
paralisação dos policiais militares foi – para fazer uso de outra imagem
igualmente aterradora – como se por aqueles logradouros tivesse passado um furacão
de enorme intensidade, revirando e quebrando tudo o que encontrava pela frente.
Quando
a poeira levantada pela marcha dos vândalos baixou, comerciantes e funcionários
se puseram a arrumar os estabelecimentos, fazendo o cômputo dos prejuízos,
avaliando os estragos e buscando compreender como toda aquela selvageria
principiou e ganhou vulto. Lojas e supermercados depenados e uma população
envergonhada pela má conduta de um punhado de gente que, talvez, confiando na
impunidade que reina neste país, praticou a onda de crimes.
Às
vezes é preciso que sejamos confrontados com o terror para que reavaliemos o
curso que estamos dando às nossas vidas. Não há quem me faça acreditar que
todas aquelas pessoas que resolveram entregar, dias depois da prática dos
delitos, os objetos roubados na delegacia e/ou abandoná-los nas esquinas das
ruas, o fizeram motivadas pela vergonha e pelo arrependimento. Acredito, isso
sim, que a maioria daqueles indivíduos assim agiu temendo que seria de alguma
forma penalizada. Por outro lado, creio, também, que pelo menos parte dessas
pessoas esteja mesmo envergonhada e arrependida; e disposta a contribuir para o
reerguimento do comércio de Abreu e Lima e para levantar o moral do restante da
população abreulimense que acompanhou assustada, como diria Chico Buarque, essa
“página infeliz da nossa história”.
Tendo
isso em vista, eu proponho ao prefeito Marcos José, do alto desta minha humilde
tribuna, que convoque os abreulimenses – a boa, a pacífica, a honesta e
trabalhadora população abreulimense -, anunciando com carros de som em todos os
bairros da cidade, a participarem de uma Marcha da Dignidade, que se
concentraria na Rua Ananias Lacerda, em Caetés Velho , percorrendo toda essa artéria e a
Av. Capitão José Primo, até chegar à Av. Duque de Caxias, terminando o cortejo
na Praça Antônio Vitalino. E digo mais: sendo eu o prefeito de Abreu e Lima,
enviaria à Câmara de Vereadores a proposta para que todos os anos, no 14 de
maio, dia da emancipação política do município, a Marcha da Dignidade figurasse
como um dos eventos permanentes do programa de festividades promovidos pela
Prefeitura.
Um
acontecimento pode ter várias versões. Alguns fatos podem ser ocultados por
anos a fio. Porém a verdade em algum momento vem à tona, porque, assim como o
tempo que tudo vence, a História tudo abarca. Uma cidade que foi batizada com o
nome de um homem que lutou pela libertação política de vários países, não pode viver
prisioneira de um episódio ruim de seu passado – mas também não deve ignorá-lo,
sob pena de vê-lo se repetir.
Marchemos,
abreulimenses, marchemos, porque a confiança no futuro deve estar estampada no
rosto de cada um de nós!
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