Por Clênio Sierra de Alcântara
Foto: G1 Retrato fiel e acabado de nossa indigência social, as cadeias e presídios brasileiros passam bem ao largo de qualquer senso de humanidade |
A história horripilante da violência nossa de cada dia ganhou, na semana passada, uma dessas passagens macabras que deveriam ser tomadas como pontos definidores de uma reavaliação a respeito do que tem sido a baliza das ações do Estado brasileiro na esfera do vigiar e punir.
A privação da liberdade de ir e vir deveria por si só ser a pena justa destinada a todo aquele que cometeu um crime que se enquadre nessa sentença. Mas engana-se estupidamente quem acredita que ao ser detido e mandado para uma unidade prisional, no Brasil, o indivíduo estará verdadeiramente sob a tutela e guarda do Estado. Longe, bem longe disso. Ao ingressar num dos presídios estaduais deste país o apenado entra num grande inferno no qual a superlotação das celas e as condições degradantes e subumanas do cárcere são apenas um detalhe a demonstrar a falência do sistema prisional brasileiro.
Não estou entre aqueles que dizem que todo castigo para bandido é pouco. Mas também não apoio os defensores do abrandamento das penalidades para crimes de qualquer natureza, regime de progressão de pena, prisão domiciliar e quetais, que enchem a vista de criminosos em potencial que enxergam na legislação brasileira uma proteção – e eu ia quase dizia incentivo – para práticas criminosas. E nem acredito em ressocialização de assassinos e estupradores. Compreendo que unidades prisionais devam ser lugares que nunca façam o indivíduo que delinquiu pensar que o crime compensa e que, lá dentro, o espírito humano deixou de existir. Pelo contrário. Aos apenados deveria ser mostrado o quanto que a liberdade é um bem precioso; e que o processo civilizatório se estabeleceu nas sociedades para que todos nós abandonássemos a bestialidade e a barbárie e passássemos a procurar viver de maneira pacífica entre os nossos iguais.
Quando, ao iniciar o ano, fomos apresentados ao morticínio de mais de cinquenta detentos num presídio de Manaus, no Amazonas, e, cinco dias depois, um episódio da mesma natureza, desta feita ocorrido numa prisão de Boa Vista, capital de Roraima, ceifou a vida de quase quarenta apenados, novamente nos certificamos de que as autoridades públicas brasileiras tratam das coisas sérias com total descaso e nenhuma seriedade. As indagações são inúmeras, pertinentes e merecedoras de respostas satisfatórias: por que os agentes do Estado permitem a subjugação de presos por outros presos? Por que entram tantas armas, drogas e celulares nas prisões? Por que não se busca acabar com a superlotação dos presídios construindo outros?
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