13 de janeiro de 2018

Quem vem lá? Quem vem lá? É a estrela e rainha Lia de Itamaracá

Por Clênio Sierra de Alcântara


          Fotos: Arquivo do autor   
  Rainha Lia pronta para convocar o povo para dançar ciranda






Ontem, na Ilha de Itamaracá, a cirandeira Maria Madalena Correia do Nascimento, nacional e internacionalmente conhecida como Lia de Itamaracá, a rainha da ciranda, recebeu com grande gosto e entusiasmo as homenagens que os seus súditos fiéis trataram de lhe render, louvando a data do seu aniversário, ocasião em que ela completou 74 anos de idade. Naquela ilha do litoral norte pernambucano, o 12 de janeiro é um dia mais do que especial, porque é um dia no qual ilhéus e gentes vindas de outras paragens se irmanam a fim de celebrar o nascimento de uma mulher negra e de origem humilde que se fez artista de primeira grandeza, segurando firme e defendendo com garra e uma dedicação pouco vistas o folguedo ciranda, levando o seu canto e a sua dança para diversas cidades deste país e também da Europa, ao longo de mais de cinquenta anos de carreira.


A festa rolando na casa de Beto Hees  (o de camiseta vermelha)



Dona Glorinha comandando a galera


A boneca de Lia chamando os passantes na rua




O dia 12 de janeiro é Dia Municipal da Ciranda, em Itamaracá, uma homenagem e um reconhecimento mais do que justo a uma artista que, como ela própria costuma dizer, carrega o nome da ilha nas costas aonde quer que vá. E para celebrar a data, o dia de ontem foi marcado por uma série de atividades. E eu, que faço o possível para não perder de vista os passos da realeza, me juntei ao séquito nos eventos comemorativos.


Ainda pela manhã Lia compareceu à Praia do Forte em companhia do saxofonista Tom Jaime e do grupo Nossa Cultura Tem Som, formado por alunos da Escola Estadual Alberto Augusto de Morais Pradines, para juntos entrarem ao vivo durante a transmissão do NE TV 1ª Edição, da Rede Globo. Logo que viram negona sob um sol escaldante esbanjando simpatia em diálogo com o repórter Bruno Fontes, convidando o povo para tomar parte na festança da noite, curiosos e fãs foram se achegando para engrossar o coro da ciranda ou simplesmente curtir o agito à beira-mar.

















Luciene, Chica e Nivaldo








Encerrado esse primeiro compromisso Lia foi tomar parte na muito animada festa que o seu produtor Beto Hees preparou para ela na casa dele, na Praia de Jaguaribe, o ponto da ilha onde ela também mora. Pense num movimento bom danado. E tanta gente boa tanta reunida: Dona Glorinha, que é outro exemplo admirável de vida; Iza e o seu apego genuíno às miudezas das tradições valorosas; Telma, que me deu um abraço revigorante; Marquinho e Babá a postos para o que desse e viesse; a baiana Neide esbanjando um sorriso que não cabia em seu rosto; Chica, Nivaldo e Toinho entornando todas; o negão Sabonete no comando do batuque; Biu Baracho exibindo o brilho de uma preciosa herança paterna; Luciene Loyce revelando as múltiplas faces de seu talento de ave canora; a garotinha Camily Vitória, que apareceu toda tímida por ali; Tony Boy desfilando com seu novo visual... E a peixada, gente? Nossa, eu comi de ficar com o bucho duro.





O casal vinte da ilha: Lia e Toinho







  
Luciene soltando a voz








A noite foi chegando. Lia ainda soltou a voz ao lado de Luciene, no que foi um dos momentos mais bonitos e encantadores do dia de celebração, antes de ela ir para a rua engrossar o cortejo que seguiu em direção ao Centro Cultural Estrela de Lia onde logo mais teria início as apresentações do 1º Festival de Ciranda e Coco promovido pela Prefeitura Municipal.

Ao fim do cortejo, Lia saiu de cena para ir recarregar as baterias e se preparar para a outra etapa dos festejos. Enquanto isso, a área do Centro Cultural foi pouco a pouco sendo tomada por uma verdadeira multidão que afluía para ali sem negar que estava atendendo a um chamado.



Noé, Lia e Jorge
   











Jane e Dona Glorinha
















  
Eu e minha rainha num registro feito por Marcos Paulo, o Marquinho


Biu Baracho mandando ver no microfone






Luciene e a garota Camily Vitória




Começaram as apresentações do festival. Dona Anjinha do Coco, grupo Nossa Cultura Tem Som, Noé da Ciranda. E o público aproveitando tudo. Até que, perto das 22:00 h, armou-se um aparato no palco, com direito a bolo e velas, para que nós recebêssemos a aniversariante. E Lia apareceu maravilhosa. O mestre de cerimônia Siloé, com um estilo que é todo dele, não poupou elogios à negona. E ela chegou chegando toda pimpona. E cantamos o “Parabéns a você”. E ouvimos os discursos de ocasião. Pouco depois, Liz fez-se completamente dona da festa botando todo mundo para dançar. Eta noitada boa! E ainda teve Totinha do Coco.

  




  












  












  









Penso que toda vez que reverenciamos os nossos ídolos, fazemos reverência também àquilo que em cada um de nós é mais caro e necessário, que é o prazer e a satisfação de estarmos de alguma forma apegados à plenitude da vida. E não há nada que pague isso. E celebrar Lia de Itamaracá é celebrar uma porção de coisas: o feminino, a negritude, a resistência, o talento, a cultura popular, a superação, a esperança, a comunhão e principalmente a alegria.

Muitos vivas para nós. Muitos vivas para Lia. Muitos vivas para o bom da vida.



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