Por Clênio Sierra de Alcântara
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Fotos: Arquivo do autor
Rainha Lia pronta para convocar o povo para dançar ciranda |
Ontem, na Ilha de Itamaracá,
a cirandeira Maria Madalena Correia do Nascimento, nacional e
internacionalmente conhecida como Lia de Itamaracá, a rainha da ciranda,
recebeu com grande gosto e entusiasmo as homenagens que os seus súditos fiéis
trataram de lhe render, louvando a data do seu aniversário, ocasião em que ela
completou 74 anos de idade. Naquela ilha do litoral norte pernambucano, o 12 de
janeiro é um dia mais do que especial, porque é um dia no qual ilhéus e gentes
vindas de outras paragens se irmanam a fim de celebrar o nascimento de uma
mulher negra e de origem humilde que se fez artista de primeira grandeza,
segurando firme e defendendo com garra e uma dedicação pouco vistas o folguedo
ciranda, levando o seu canto e a sua dança para diversas cidades deste país e
também da Europa, ao longo de mais de cinquenta anos de carreira.
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A festa rolando na casa de Beto Hees (o de camiseta vermelha) |
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Dona Glorinha comandando a galera |
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A boneca de Lia chamando os passantes na rua |
O dia 12 de janeiro é Dia
Municipal da Ciranda, em Itamaracá, uma homenagem e um reconhecimento mais do
que justo a uma artista que, como ela própria costuma dizer, carrega o nome da
ilha nas costas aonde quer que vá. E para celebrar a data, o dia de ontem foi
marcado por uma série de atividades. E eu, que faço o possível para não perder
de vista os passos da realeza, me juntei ao séquito nos eventos comemorativos.
Ainda pela manhã Lia
compareceu à Praia do Forte em companhia do saxofonista Tom Jaime e do grupo
Nossa Cultura Tem Som, formado por alunos da Escola Estadual Alberto Augusto de
Morais Pradines, para juntos entrarem ao vivo durante a transmissão do NE TV 1ª
Edição, da Rede Globo. Logo que viram negona sob um sol escaldante esbanjando
simpatia em diálogo com o repórter Bruno Fontes, convidando o povo para tomar
parte na festança da noite, curiosos e fãs foram se achegando para engrossar o
coro da ciranda ou simplesmente curtir o agito à beira-mar.
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Luciene, Chica e Nivaldo |
Encerrado esse primeiro
compromisso Lia foi tomar parte na muito animada festa que o seu produtor Beto
Hees preparou para ela na casa dele, na Praia de Jaguaribe, o ponto da ilha
onde ela também mora. Pense num movimento bom danado. E tanta gente boa tanta
reunida: Dona Glorinha, que é outro exemplo admirável de vida; Iza e o seu
apego genuíno às miudezas das tradições valorosas; Telma, que me deu um abraço
revigorante; Marquinho e Babá a postos para o que desse e viesse; a baiana
Neide esbanjando um sorriso que não cabia em seu rosto; Chica, Nivaldo e Toinho
entornando todas; o negão Sabonete no comando do batuque; Biu Baracho exibindo
o brilho de uma preciosa herança paterna; Luciene Loyce revelando as múltiplas
faces de seu talento de ave canora; a garotinha Camily Vitória, que apareceu
toda tímida por ali; Tony Boy desfilando com seu novo visual... E a peixada,
gente? Nossa, eu comi de ficar com o bucho duro.
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O casal vinte da ilha: Lia e Toinho |
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Luciene soltando a voz |
A noite foi chegando. Lia ainda
soltou a voz ao lado de Luciene, no que foi um dos momentos mais bonitos e
encantadores do dia de celebração, antes de ela ir para a rua engrossar o
cortejo que seguiu em direção ao Centro Cultural Estrela de Lia onde logo mais
teria início as apresentações do 1º Festival de Ciranda e Coco promovido pela
Prefeitura Municipal.
Ao fim do cortejo, Lia saiu
de cena para ir recarregar as baterias e se preparar para a outra etapa dos festejos.
Enquanto isso, a área do Centro Cultural foi pouco a pouco sendo tomada por uma
verdadeira multidão que afluía para ali sem negar que estava atendendo a um
chamado.
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Noé, Lia e Jorge |
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Jane e Dona Glorinha |
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Eu e minha rainha num registro feito por Marcos Paulo, o Marquinho |
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Biu Baracho mandando ver no microfone |
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Luciene e a garota Camily Vitória |
Começaram as apresentações
do festival. Dona Anjinha do Coco, grupo Nossa Cultura Tem Som, Noé da Ciranda.
E o público aproveitando tudo. Até que, perto das 22:00 h, armou-se um aparato
no palco, com direito a bolo e velas, para que nós recebêssemos a
aniversariante. E Lia apareceu maravilhosa. O mestre de cerimônia Siloé, com um
estilo que é todo dele, não poupou elogios à negona. E ela chegou chegando toda
pimpona. E cantamos o “Parabéns a você”. E ouvimos os discursos de ocasião.
Pouco depois, Liz fez-se completamente dona da festa botando todo mundo para
dançar. Eta noitada boa! E ainda teve Totinha do Coco.
















Penso que toda vez que
reverenciamos os nossos ídolos, fazemos reverência também àquilo que em cada um
de nós é mais caro e necessário, que é o prazer e a satisfação de estarmos de
alguma forma apegados à plenitude da vida. E não há nada que pague isso. E celebrar
Lia de Itamaracá é celebrar uma porção de coisas: o feminino, a negritude, a
resistência, o talento, a cultura popular, a superação, a esperança, a comunhão
e principalmente a alegria.
Muitos vivas para nós. Muitos
vivas para Lia. Muitos vivas para o bom da vida.
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