14 de julho de 2018

O Museu da Misericórdia de Salvador

Por Clênio Sierra de Alcântara

Foto: Agência Bapress

Entre os muitos encantos que Salvador, a capital da boa Bahia, reserva ao visitante interessado em instituições culturais, se encontra uma casa majestosa, que é o Museu da Misericórdia, situado na Rua da Misericórdia, em pleno centro histórico.

O museu está instalado num conjunto predial suntuoso que compreende a Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, cuja construção primitiva remonta ao século XVII e que é o edifício-sede da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, uma instituição fundada em 1549, mesmo ano em que foi estabelecida a fundação de Salvador. Em tempos idos o conjunto abrigava também, junto com o hospital, uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição.

Foi no dia 18 de outubro de 2013, uma sexta-feira, que eu visitei o museu. Enquanto pagava o ingresso na recepção eu fui informado de que não era permitido fotografar ali; em razão disso, Ernani Neves resolveu não me acompanhar durante a visitação.

Antes de escrever sobre o acervo em si, eu quero dizer do quanto me impressionaram o projeto museológico, o apuro e a organização do espaço e o sistema de segurança que conferem ao museu um caráter de lugar realmente especial, um lugar no qual impera uma atmosfera de grandiloquência que, até então, eu não vira em nenhuma outra instituição museal que visitara. O apuro com que o ambiente era apresentado por si só constituía um convite para um passeio com vagar, de modo que, tudo o que estava exposto ali, se revelasse por inteiro aos olhos dos curiosos e interessados em diversos aspectos do passado que fora vivenciado na Bahia.

Enquanto eu percorria as salas do Museu da Misericórdia o sentimento principal que me tomou foi o da satisfação; senti-me privilegiado por estar num espaço no qual reinavam não somente um cuidado com a preservação de tantos elementos constitutivos de nossa história, mas também numa instituição que fora planejada para bem receber os que ela buscavam, como eu, para conhecê-la, porque os museus, ao contrário do que muitos pensam, não são depósitos de objetos velhos, antigos e que caíram em desuso; os museus, do tipo do Museu da Misericórdia, são, fundamentalmente, instituições que se valem de objetos – e não apenas deles – para nos pôr em contato com fragmentos e/ou grandes dimensões de realidades vivenciadas por nossos antepassados; e isso significa dizer, por extensão, que eles abrigam conhecimentos acumulados por anos a fio, por homens e mulheres cujos saberes foram responsáveis pela construção e vivência de uma dada realidade.

Enorme e variado o acervo do Museu da Misericórdia é constituído, entre outros, por peças que abrangem pinturas, ourivesaria, prataria, azulejaria, alfaias e paramentos, esculturas, arte sacra e mobiliário de um arco temporal que vai do século XVII até o XXI. Sem esquecer que o edifício em si, só ele, é uma atração à parte, com seus espaços muito bem cuidados que exibem detalhes de uma arquitetura requintada, como o acesso ao salão nobre e o próprio salão, que apresenta um forro de 170 metros quadrados de pinturas sobre madeira, paredes emolduradas com azulejaria portuguesa e altar barroco.

Patrimônio histórico nacional, o Museu da Misericórdia de Salvador, que é um primor de organização, deve figurar como um dos roteiros imperdíveis para todo aquele visitante que enxerga a capital baiana para além do seu Carnaval e de suas praias.

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