25 de abril de 2020

Pandemia versus pandemônio: algumas notas sobre o discurso e a ordem autoritária, a prática institucionalizada de crimes e o papel da resistência, da nossa resistência contra tudo isso

Por Clênio Sierra de Alcântara


Imagem: Internet
Enquanto isso na República Antidemocrática Bolsonariana: mantendo uma retórica conspiracionista, o senhor Jair Bolsonaro segue testando os limites das instituições democráticas e criando caso num período de tantas preocupações e incertezas provocadas pelo avanço da pandemia do coronavírus no país


I

No domingo passado, 19 de abril, Dia do Índio e também Dia do Exército Brasileiro, membros da tropa de choque da República Antidemocrática Bolsonariana, que se apresentam como ferrenhos defensores da honestidade, da ordem e da justiça e dos sempre evocados valores cristãos, promoveram em várias partes do país – no Recife os destemidos se concentraram defronte ao Comando Militar do Nordeste; e ali se viu até alguém empunhando uma bandeira dos Estados Unidos em meio a tanto verde e amarelo – protestos nos quais pediam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), intervenção militar imediata e até, imaginem, a decretação de um novo Ato Institucional Nº 5 (AI-5), um dos instrumentos legais mais hediondos de que os comandantes do país lançaram mão durante a Ditadura Militar para reprimir toda e qualquer manifestação que fosse contrária aos ditames do regime.

Em Brasília, a presepada criminosa dos bolsonaristas – sim, é crime, neste país, fazer exaltação da Ditadura Militar – contou com grande número de desocupados que exibiam faixas e cartazes dizendo o diabo daquelas instituições e afirmando que, contra tudo e contra todos – o que, claro, acredito eu, incluía, evidentemente, as ações de combate à pandemia do coronavírus, que já fez milhares de vítimas fatais por aqui -, o senhor Jair Messias Bolsonaro, ainda presidente desta malfadada nação, está certo e sempre tem razão em tudo o que diz e faz, afinal, um líder-supremo é inteligente e sensato e, portanto, nunca erra.

A patriotada ocorrida na capital federal teve lugar, não por acaso, bem em frente ao quartel-geral do Exército; os bolsonaristas foram cometer seus crimes diante de uma instituição que é sinônimo de disciplina e ordem. E como se tudo isso não fosse por si só um flagrante inconteste do que maus elementos são capazes de fazer escudados numa suposta defesa, como eu disse, da honestidade, da ordem e da justiça, eis que surge no meio da massa torpe , vil e ignara, a figura abjeta e nefasta do senhor Jair Bolsonaro, que não apenas foi cúmplice de uma ação criminosa como considerou, de bom grado, ser o porta-voz daquele acontecimento infame que buscava, por assim dizer, ao mesmo tempo testar os fundamentos da democracia e conseguir convencer os comandantes das Forças Armadas a aderirem ao motim e, assim, novamente, mergulhar o país num regime de exceção.

Do alto de uma caminhonete, o estúpido e mentecapto presidente da República brasileira falou àquela manada criminosa e arredia, que a apoiava integralmente, porque via nela os anseios de toda a sociedade; e num rompante que foi um misto de intimidação e desafio aos poderes legislativo e judiciário, vociferou exibindo o seu semblante que tem um quê do Nosferatu de Friedrich Wilhelm Murnau: “Nós não vamos negociar nada”.

“Mais uma vez o senhor Jair Bolsonaro agiu à revelia da ordem e do bom senso, incitou os militares de alta patente a cair numa armadilha, cometeu um crime previsto em lei e tudo ficou por isso mesmo”, eu cheguei a pensar. A sua atuação irresponsável e a sua retórica de conspiração continuam agravando no país uma polarização em meio à gravidade de uma ameaçadora e destruidora pandemia.

II

Note-se que o senhor Jair Bolsonaro fez o que fez naquele ato reprovável havido no último domingo, em Brasília, um dia depois de governadores de dezenove estados (AL, AM, BA, CE, ES, GO, MA, MT, MS, PA, PB, PE, RJ, RN, RS, SC, SP, SE e TO) divulgarem uma carta aberta à sociedade em defesa da democracia. Acontece que a democracia não é um regime do agrado do senhor Jair Bolsonaro que, desde sempre, fez e faz apologia do regime ditatorial dos militares e de alguns dos seus personagens. A democracia não interessa a Seu Jair, porque ela vai de encontro à sua sanha autoritária, ao seu incontrolável desejo de mando, à sua incapacidade de aceitar o contraditório e divergente e à sua vontade absurdamente grande de tudo impor e determinar sem que lhes façam qualquer mínima objeção. “Falta um pouco de inteligência a quem me acusa de ser autoritário”, disse ele, na segunda-feira, diante de apoiadores e repórteres na saída do Palácio da Alvorada; e, logo em seguida, soltou esta pérola que emulou a famosa “O Estado sou eu”, do rei Luiz XIV, e que já entrou para os anais da presidência e num possível livro de absurdos e disparates que alguém há de escrever sobre a República Antidemocrática Bolsonariana: “A Constituição sou eu”.

Ninguém nega que, em que pese o ranço autoritário e o espírito asinino que emana do senhor Jair Bolsonaro e contamina o seu incansável e abominável rebanho, há algo de muita burrice, mas também uma boa dose de nonsense no comportamento dessa fauna endiabrada e louca. Enquanto médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde estão enfrentando uma verdadeira batalha para salvar vidas de contaminados pelo coronavírus, a insensibilidade e a indiferença do senhor presidente diante dos acontecimentos o leva a dizer que “É a vida” e “Muita gente vai morrer”; e os idiotas dos seus apoiadores, alegando estarem em defesa da liberdade de ir e vir e da volta ao trabalho, estão protestando contra medidas de preservação da vida, que é o isolamento social, meio considerado mais eficaz para impedir a contaminação em massa pelo coronavírus.

III

O presidente Jair Bolsonaro deixa o tempo todo ver que não é um animal democrático e sim um bicho autoritário e mandão. O discurso que, não é de agora, ele faz de que não houve ditadura para toda a sociedade durante o regime militar - “Ditadura teve só para quem era criminoso, sequestrador, assaltante de banco e terrorista” (Thaís Oyama. “A febre Bolsonaro”. Revista Veja, São Paulo, Editora Abril, edição 2518, ano 50, nº 8, 22 de fevereiro de 2017, p. 58) -, e que é encampado por seus seguidores e apoiadores, uma gente que em grande parte – tiremos desse grupo os militares que atuam em causa própria, as filhas dos militares que nunca se casam no papel para não perderem a pensão, porque eles sabem e conhecem bem o enredo – provavelmente nunca leu qualquer livro que seja e muito menos um bom manual de História do Brasil, e que se “informa” por meio de áudios e notinhas que aparecem em grupos de WhatsApp e, talvez, por isso, sai por aí dizendo asneiras como pedir a decretação de um outro AI-5.

O longo período de vinte e um anos que durou a Ditadura Militar – os militares que nela atuaram e os defensores desse acontecimento o denominam de revolução ou contra-revolução -, de 1964 a 1985, é um dos mais terríveis capítulos de nossa História recente. Sobre ele existe uma vasta e diversa bibliografia que engloba desde análises feitas por historiadores e jornalistas até livros de memórias, levantamentos e entrevistas. E mesmo nessas publicações – e não poderia ser diferente -, fica evidenciado, nalguns casos, que o discurso do narrador é uma tomada de posicionamento pessoal com olhares de dentro e de fora do conflito, como, por exemplo, de ex-integrantes de grupos que atuavam na luta armada contra o regime militar imposto e que, é de bom tom dizer, queriam, também eles, implantar uma ditadura no Brasil, só que de fundamento comunista e/ou socialista.

Antes de passar para o próximo parágrafo, eu quero citar aqui uma reflexão feita por Michel Foucault a propósito do discurso, uma vez que é sobre discursos que também trata este meu artigo de hoje. Em 2 de dezembro de 1970, em uma aula inaugural no Collège de France, o renomado filósofo em determinado trecho de sua explanação disse aos ouvintes que: “É sempre possível dizer o verdadeiro no espaço de uma exterioridade selvagem; mas não nos encontramos no verdadeiro senão obedecendo às regras de uma ‘polícia’ discursiva que devemos reativar em cada um de nossos discursos” (Michel Foucault. A ordem do discurso. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. 9 ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003, p. 35). Se eu bem compreendi esse meu Foucault, a “polícia discursiva” de que ele fala, trata, na elaboração de um discurso, do compromisso – e eu diria que até do limite da abordagem – que estabelecemos com a fidelidade a respeito daquilo que será elaborado; um compromisso com a veracidade do que será tratado independentemente de quem sejamos como narradores numa esfera que abarque e/ou englobe diferentes abordagens e posicionamentos diante de uma mesma matéria, o que aqui, neste caso, são narrativas a respeito da Ditadura Militar. Eu também interpreto a mensagem foucaultiana como um indicativo de um policiamento mesmo da fala, no sentido de saber o que podemos e como podemos dizer algo sobre uma determinada questão e/ou assunto.

O historiador Jacob Gorender é o autor de um dos primeiros estudos sobre o período da Ditadura Militar que, sem meias palavras, não se furta de reconhecer, como narrador-ex-militante, que, no seu caso, ter partido para a luta em defesa dos seus ideais políticos e sociais teve um quê de ação equivocada e de ilusões perdidas. Sua narrativa é bastante reveladora das movimentações havidas em ambos os lados do combate. Gorender nos diz que pertenceu a uma geração de comunistas brasileiros que teve a má sorte de viver sua juventude sob o império dos mitos de Joef Stalin e de Luís Carlos Prestes. “Pagamos esmagador tributo a essa alienação coatora de energia criativa”, ele destacou. E, mais adiante, depois de descrever uma série de acontecimentos trágicos e episódios de tortura praticados pelos militares contra os ditos subversivos, ou seja, os contrários à vigência da ditadura, ele fez a seguinte reflexão que, a meu ver, vale como um balanço de tudo o que se viu enquanto durou o estado de exceção, além de apontar para o antes e depois dele: “Nenhum dos lados julga pelo mesmo critério as duas violências – a do opressor e a do oprimido. É perda de tempo discutir sobre a responsabilidade de quem atirou primeiro. A violência original é a do opressor, porque inexiste opressão sem violência cotidiana incessante. A ditadura militar deu forma extremada à violência do opressor. A violência do oprimido veio como resposta” (Jacob Gorender. Combate nas trevas – A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. 2ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1987; citações por ordem de aparição: p. 27 e 235).

Fernando Gabeira, que participou ativamente da luta armada, registrou em O que é isso, companheiro? o tamanho da dificuldade que seria arregimentar o povo, a massa em si, se o povo, se a massa, mesmo nos momentos de maior recrudescimento da repressão parecia, segundo ele, viver em uma realidade paralela, como se todos eles atravessassem um tempo de inteira e completa normalidade. De acordo com a sua avaliação, a grande ilusão da esquerda, naquele período, foi crer que “a luta contra o governo poderia ser feita independente do povo, por alguns grupos armados, dotados de muita técnica e, naturalmente, de ousadia” (Fernando Gabeira. O que é isso, companheiro? São Paulo: Abril Cultural, 1984, p. 60).

Assim como o militante jornalista Fernando Gabeira, Alfredo Syrkis igualmente participou de sequestros de autoridades estrangeiras e esteve na linha de frente dos embates. “Erros cometemos muitos – ele disse – e a validade do gesto moral não atenua a dimensão daquela derrota que custou muitas vidas queridas e valiosas (...) Ditadura nunca mais, de nenhum tipo ou coloração”, ele escreveu (Alfredo Syrkis. Os carbonários: memórias da guerrilha perdida. 5ª ed. São Paulo: Global Editora, 1981, p. 4 e 5).

Em entrevista concedida ao jornalista Geneton Moraes Neto, no Recife, em 20 de junho de 1983, Francisco Julião, o advogado e líder das Ligas Camponesas que almejava ver a reforma agrária alcançada “na lei ou na marra”, fez uma série de autocríticas; numa delas, disse que lhe faltou “uma melhor base teórica para conduzir o movimento de maneira a cometer o menor número possível de erros” (Geneton Moraes Neto. “O cavaleiro andante dos canaviais”. In Cartas ao planeta Brasil. Revan, 1988, p. 70-71)

Ao pedirem intervenção militar e a decretação de outro AI-5 e engrossarem a meia verdade dita pelo senhor Jair Bolsonaro de que a ditadura só atuou para combater criminosos, eles, os bolsonaristas, provam, como certa feita disse o historiador Marc Bloch, que a “incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado” (Marc Bloch. Apologia da História ou O ofício de historiador. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 65); e se eles não ignoram o passado, são mais do que bestas-feras ensandecidas, são pessoas sem um mínimo que seja de humanidade.

A sexta-feira 13 de dezembro de 1968, dia em que foi decretado o AI-5, marcou o início do período de maior dureza do regime ditatorial dos militares dentro daquilo que eles diziam ser um combate aos inimigos dos ideais democráticos. Eu aprendi que meia verdade é igual à meia falsidade, algo que faz o senhor Jair Bolsonaro e os seus cupinchas ao se referirem aos desmandos ocorridos durante a Ditadura Militar.

Não foi só contra criminosos e esquerdistas que atuavam na luta armada que os “homens da lei” se puseram em ação. E mesmo que fosse “só” contra “criminosos” e “esquerdistas” a atuação da força repressora do Estado não poderia ter violado as garantias e os direitos individuais, porque o Estado deve zelar e garantir o estabelecimento e a manutenção da ordem e da justiça; e não institucionalizar e promover a prática de crimes e a barbárie, mesmo porque, como lembrou José Roberto Guzzo, o AI-5 “não aboliu o Código Penal nem tornou legal o homicídio”, as torturas e as prisões ilegais (J. R. Guzzo. “Mundo morto”. Revista Veja, São Paulo, Editora Abril, edição 2586, ano 51, nº 24, 13 de junho de 2018, p. 110). Ainda de acordo com esse articulista, os militares não vão mudar de ideia e “Esperam, ao contrário, que o tempo traga cada vez mais gente para o seu lado”, que é o que temos visto nos últimos anos.

A Gloriosa – era esse o termo usado com ironia pelos adversários da Ditadura Militar – e seus líderes, no dizer de Paulo Francis, mataram muitas pessoas. “Quantas são as vítimas desconhecidas do regime militar, gente que às vezes foi torturada apenas porque era parente de algum garoto que se imaginava Che Guevara?”, ele perguntou em 1994. E, demonstrando que também acreditava que os militares agiram para impedir que outra ditadura sanguinária se instalasse no Brasil, ele sentenciou que entre os indivíduos que foram abatidos pelos militares da linha dura, “havia quem, se chegasse ao poder, mataria mais militares do que estes liquidaram civis” (Paulo Francis. Trinta anos esta noite: 1964, o que vi e vivi. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 9).

Na obra Brasil: nunca mais, que já teve inúmeras edições, podemos ler vários e vários relatos de práticas criminosas promovidas pelos agentes do Estado contra homens e mulheres. Em seu prefácio, o então Cardeal-Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, destacou que “a tortura, além de desumana, é o meio mais inadequado para levar-nos a descobrir a verdade e chegar à paz” (Dom Paulo Evaristo Arns. “Testemunho e apelo”. In Brasil: nunca mais. 13ª ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1986, p. 11).

Muitos foram os que morreram nos porões do regime militar em circunstâncias bastante suspeitas e depois de terem sido vítimas das mais cruéis, aviltantes e covardes sevícias, e que os áulicos da ditadura apresentavam como suicidas. Foi dessa forma que, segundo os militares, o jornalista Vladimir Herzog também morreu. De acordo com os comunicados oficiais, Vlado, como ele era conhecido, atentou contra a própria vida numa cela do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), um órgão subordinado ao Exército. Leiamos um trecho do que o comandante do DOI-CODI fez saber ao seu chefe sobre o que ocorreu ali naquele dia: “Participo-vos que, cerca das 16,30 horas de hoje (25 de outubro de 75), foi encontrado o corpo de Vladimir Herzog, enforcado na grade do xadrez especial nº 1, usando para tanto a cinta do macacão que usava (...) Tudo leva a crer que foi levado ao tresloucado gesto por ter se conscientizado da sua situação e estar arrependido da sua militância” (Apud Fernando Jordão. In Dossiê Herzog: prisão, tortura e morte no Brasil. 4ª ed. São Paulo: Global Editora, 1980, p. 20).

Mesmo numa obra como Ditadura à brasileira, onde o seu autor buscou, ao fazer comparações com outras ditaduras havidas no período no Cone Sul (Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile) dizer que a que se instalou no Brasil não foi tão severa como as que se instauraram naqueles países, é dito que o terrorismo praticado pela esquerda golpista/revolucionária deu motivo para o terrorismo de Estado, “e acabou sendo usado pela extrema direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva” (Marco Antonio Villa. Ditadura à brasileira – 1964-1985: a democracia golpeada à esquerda e à direita. Rio de Janeiro: LeYa, 2014, p. 11).

Vale ainda mencionar aqui um dos pesquisadores mais dedicados ao período ditatorial ora examinado, que é o jornalista Elio Gaspari, que em sua obra mais recente ressaltou que a repressão política era “abafada pela censura” e que alguns dos “oficiais [ou seja, membros das próprias Forças Armadas que queriam incitar uma perseguição aos esquerdistas] praticavam atos terroristas desde 1962”. (Elio Gaspari. A ditadura acabada. 1ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016; citações por ordem de aparição: p. 157 e 183).

Mas tudo isso que foi narrado até aqui não passa de conversa fiada e de puro revanchismo para o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, ídolo-mor tanto do senhor Jair Bolsonaro, que, imagino, deve ter uma foto dele no seu oratório residencial, quanto do seu rebanho da República Antidemocrática Bolsonariana. Segundo Brilhante Ustra, os “revanchistas” sempre lançam uma “denúncia” ou “criam um fato novo”, de preferência próximo a datas importantes para as Forças Armadas. Ele nos diz ainda que eram falsas as fotografias nas quais Herzog aparecia morto; que foram “enterrados” arquivos na sede do antigo DOI de Brasília; e que a equipe que escreveu o livro Brasil: nunca mais fez uma triagem dos casos privilegiando o que queria e distorcendo os fatos – ele enumera uma série de acontecimentos e ações -, “para que a Nação não tomasse conhecimento das atrocidades dos que pegaram em armas para implantar no Brasil a ditadura comunista” (Carlos Alberto Brilhante Ustra. A verdade sufocada: a história que a esquerda não quer que o Brasil conheça. 4ª ed. Brasília: Editora Ser, 2007, p. 25-26).

IV

O coronavírus não tem dado trégua por aqui. A escala ascendente de contaminação já provocou a morte de mais de quatro mil indivíduos, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde que, após a saída de Luiz Henrique Mandetta, deixou de fazer coletivas diárias de imprensa.

A contaminação e a mortandade vêm mostrando a fragilidade e o esgotamento do sistema público de saúde brasileiro, tendo em vista que – e isso é algo que os partidários do fim do isolamento social e aqueles que continuam indo para as ruas como se a vida e tudo o mais estivesse em plena normalidade não entendem e/ou fingem ignorar -, os leitos hospitalares, em geral, e os de UTI’s, em particular, não são exclusivos para os contaminados pelo coronavírus, e sim, para todo e qualquer indivíduo que seja acometido de uma doença grave e/ou que sofra um acidente que exija um atendimento de alta complexidade.

A consciência do que significa bem comum é tão precária entre nós que nem mesmo imagens de dezenas de covas sendo abertas por escavadeiras em cidades como São Paulo e Manaus conseguem convencer aqueles que não têm necessidade de sair, a ficar em suas casas e assim tentar diminuir o número de contaminados.

Os Estados Unidos assumiram nesta semana o triste e lamentável posto de país onde mais pessoas morreram em decorrência da covid-19: já são mais de cinquenta mil mortos.

V

O tempo é de terror; e ninguém de bom juízo questiona este fato aterrador e imobilizador que é a ação do contágio pelo coronavírus. Pessoas estão morrendo e sendo enterradas sem direito a velório e há quem insista em se manter contrário às medidas de tentativa de contenção. E há ainda gente que de maneira irresponsável atiça os ânimos e busca desqualificar quem prega o isolamento social.

Os ataques à Rede Globo continuam na ordem do dia. O senhor Sikêra Jr., que é uma mistura de palhaço de circo de periferia com mestre de pastoril profano e apresenta, na Rede TV!, um programa dito jornalístico e que, a bem da verdade, não passa de um entretenimento de baixíssimo nível, considera muito justo, adequado e correto a um só tempo bajular o senhor Jair Bolsonaro, apoiar o fim do isolamento social e desancar repórteres da emissora da família Marinho, que continua de pé, com sua linha editorial e sem fazer concessões ao establisment, ao contrário de suas concorrentes. O senhor Sikêra Jr., pasmem, mora em Manaus, cidade cuja rede de saúde pública está à beira do colapso, tantos são os casos de contaminados pelo coronavírus que dia a dia vêm surgindo. Uma vaia para o palhaço: uuuuuuh. Outra: uuuuuuh. Sikêra Jr., o seu sucesso financeiro como animador de televisão é uma prova inconteste de que o povão, a massa ignara deste país consome todo e qualquer lixo televisivo.

Como falar de um bajulador do porte circense de Sikêra Jr. sem mencionar o maior dos maiores, o senhor Silvio Santos, o homem que fez fortuna vendendo um carnê de mercadorias a incautos sequiosos de alcançar a felicidade e que desde sempre arruma um jeitinho de agradar o presidente do Brasil, seja ele quem for. Silvio Santos que, entre outras bizarrices, já saiu candidato à presidência deste país, dias atrás emitiu nota dizendo que, como sua rede de televisão é uma concessão pública – todas são, na verdade -, ele é um empregado do senhor Jair Bolsonaro. Servilismo e puxa-saquismo neste Brasilsil varonil – e eu ia dizendo viril, mas não ia pegar bem, não é? – tem nome e sobrenome: Silvio Santos.

Para completar o espetáculo degradante que é o desgoverno da República Antidemocrática Bolsonariana, bem que Seu Jair poderia contratar Sikêra Jr. como porta-voz da presidência e Silvio Santos como garoto propaganda do auxílio emergencial. Poderia até não prestar – mas, o que é que presta nesse desgoverno? -, porém eu creio que seria, no mínimo, muito, muito gozado ver o Sikêra com seus esgares anunciando mais uma malfeitoria do presidente e Silvio numa fila da Caixa Econômica Federal segurando seis notas de R$ 100,00 e dizendo: “Quem quer dinheiro?”.

Um adendo a este ponto: na quarta-feira, o nobre ministro das Relações Exteriores, senhor Ernesto Araújo, um dos desajustados aliados do presidente, escreveu no Twitter: “Não bastasse o coronavírus, precisamos enfrentar o comunavírus”. É o lenga-lenga de que a pandemia é obra de empedernidos comunistas – chineses? – para dominar o mundo. Ó dúvida cruel: o que seria pior: um mundo dominado por comunistas ou por bolsonaristas? Melhor perguntar a Regina Duarte. Regina? Regina, onde é que tu estás criatura? Gente, alguém viu a Regina por aí? Será que ela foi abduzida? Deixa para lá; o que não serve, não faz falta.

VI

E não é que alguém de boa fé e juízo decidiu reagir contra as patifarias antidemocráticas ocorridas em Brasília no domingo passado? Na terça-feira foi divulgado, ou melhor, foram divulgadas duas alentadoras notícias: os advogados Thiago Santos Aguiar de Pádua e José Rossini Campos do Couto Corrêa protocolaram um pedido de impeachment contra o senhor Jair Bolsonaro, no Supremo Tribunal Federal, indicando que Seu Jair cometeu os seguintes possíveis crimes de responsabilidade: aglomeração social em contrariedade às recomendações da Organização Mundial da Saúde; incitação social da população pelas redes sociais a desrespeitar as medidas de prevenção e isolamento contra o coronavírus; sonegação de resultados de exames médicos sobre o possível contágio por covid-19; e a reiteração da existência falsa de dossiês contra integrantes dos demais poderes. Além do afastamento, eles pediram que o STF obrigasse o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a colocar em análise o pedido de impeachment.

No mesmo dia soube-se que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, acatou o pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, e determinou a abertura de inquérito para apurar as manifestações que clamaram pelo fechamento de instituições e o decreto de um novo AI-5. Em sua decisão, o ministro destacou a necessidade da verificação da existência de organizações e esquemas de financiamento de manifestações contra a democracia (“Ministro autoriza abertura de inquérito para investigar atos em favor do AI-5 e do fechamento de instituições republicanas”. In http://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=441751&ori=1. Publicado em 21 de abril de 2020. Acessado em 23 de abril de 2020). Inexplicavelmente, uma vez que o senhor Jair Bolsonaro participou e até discursou naquele evento, ele não teve o seu nome incluído no inquérito.

VII

A semana começou tenebrosa e o que estava por vir, no Planalto Central, era um terremoto político de enorme proporção. Outros pedidos de impeachment foram pedidos contra o presidente. E a vida seguia.

Enquanto isso, fazendo crer que ele continuava no controle, quando, o que se soube, foi que ele baixara a bola depois de uma reunião ocorrida ainda no domingo com os militares que integram o seu desgoverno, o senhor Jair Bolsonaro, num lance que se saberia a ser de traição, fez publicar na edição de ontem do Diário Oficial da União (DOU), a demissão do diretor-geral da Polícia Federal (PF) Maurício Valeixo, homem de confiança do senhor Sergio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, que só tomou conhecimento da tal demissão pela publicação do DOU. Pronto, o epicentro do terremoto fora a suposta traição do presidente ao seu mais popular e benquisto ministro. E o que se viu a partir daí foi o quanto de podre se desenrola nos bastidores do poder, longe, bem longe dos nossos olhos e ouvidos.

Às 11:00 h da manhã de ontem o senhor Sergio Moro, que foi alçado à condição de herói nacional por uma imensa multidão de brasileiros por ter condenado, enquanto juiz federal, grandes e poderosos figurões pegos pela Operação Lava-jato, anunciou, numa coletiva de imprensa, a sua saída do desgoverno do presidente Jair Bolsonaro. Mas não foi um mero ato protocolar porque, pelo menos para mim, que venho acompanhando a ascensão dele desde que a sua pessoa começou a ganhar vulto e importância com a mencionada Operação Lava-jato e me assombrei ao vê-lo aceitar tomar parte na equipe ministerial de um animal político como o senhor Jair Bolsonaro, nada do que ele faz é por simplesmente fazer; ele que, como há tempos se especula, tem pretensões de ser candidato a presidente da República, dada a boa avaliação de seu nome em rodadas de pesquisa de intenção de voto, fez do anúncio de sua demissão uma aula de como revidar puxadas de tapete e jogar merda no ventilador.

Ao anunciar a sua saída da equipe ministerial da República Antidemocrática Bolsonariana, o senhor Sergio Moro, aquele de quem o site The Intercept Brasil divulgou supostas conversas nada republicanas, despachadas pelo aplicativo Telegram, que ele teria mantido com investigadores da Lava-jato quando ainda era juiz, disse que só soubera da demissão através do DOU; que não assinou o pedido de demissão do delegado, como fazia ver a publicação; que o delegado não fizera o pedido de demissão como também vai dito ali; e o que foi considerado mais grave por uma série de analistas políticos e jurídicos – sim, o uso da assinatura de Moro à sua revelia foi um crime, como se sabe -, o senhor Sergio Moro afirmou que o presidente Jair Bolsonaro queria e quer fazer interferência política na Polícia Federal, o que foi interpretado como um modo de o senhor Jair Bolsonaro ter algum controle sobre o âmbito das investigações conduzidas pela corporação, principalmente se as diligências tiverem como alvo os seus filhos e os políticos que lhes são muito próximos.

O terremoto Sergio Moro provocou queda na Bolsa de Valores e o aumento do dólar. Esses foram os reflexos imediatos do seu pronunciamento. A sexta-feira ainda prometia outros lances no jogo de tabuleiro dos podres poderes. E ficou-se na expectativa do pronunciamento do senhor Jair Bolsonaro, anunciado para ter início às 17:00 h.

Quem acompanhou os mais de quarenta minutos de fala do Seu Jair, que levou consigo para o momento solene, ministros e papéis de parede como os deputados Eduardo Bolsonaro e Hélio Negão, viu algo que é típico dele: ora ele posa de coitadinho, de fracote perseguido por tudo e por todos  que quase foi morto por uma facada; ora ele é o super-homem, o chefe-supremo, o fodão que pode tudo. Ontem não foi diferente, fracote e super-homem se alternaram num discurso longo e verborrágico. O homem que no último domingo se juntou à parte de seu rebanho num ato criminoso e disse em alto e bom som que não negociaria nada, referindo-se, claro, aos outros poderes, ontem falou que sempre busca o diálogo; o sujeito que ofende repórteres e incita seus apoiadores a de alguma maneira atacá-los, ontem se mostrou adepto da liberdade de expressão e da democracia; o indivíduo que rebateu a acusação de Sergio Moro – Moro, em certos trechos do pronunciamento, foi mencionado como “essa pessoa” – de que não queria interferir nas operações levadas a cabo pela Polícia Federal, disse também que queria ter como diretor da instituição alguém que, vejam só, lhe desse relatórios diários sobre as ações de investigação em curso. Quer dizer que, por exemplo, se a Polícia Federal estiver investigando um de seus filhos, ele terá de ficar sabendo? E uma vez tendo essa informação o que ele faria com ela? E para não ficar por baixo, o senhor Jair Bolsonaro disse ainda que o senhor Sergio Moro condicionou a troca do diretor-geral da Polícia Federal para só depois que ele fosse indicado para ocupar uma vaga no STF.

Piadistas e escrotos de plantão – e escrotizar foi um dos verbos que o presidente utilizou em seu fraco pronunciamento – disseram que o ministro da Economia, Paulo Guedes, cotado na bolsa de apostas como o próximo a cair da equipe de Seu Jair, junto com Tereza Cristina, ministra da Agricultura, compareceu ao encontro de máscara para poder rir das falas do chefe-supremo.

Ainda era cedo e a sexta-feira parecia não ter mais fim. Instado pelo Jornal Nacional a provar que o presidente da República queria ou tinha intenção de intervir politicamente na Polícia Federal, Sergio Moro repassou para o telejornal mais assistido do país e da inimiga Rede Globo, ainda por cima, prints de troca de mensagens que ele e o presidente efetuaram pelo WhatsApp. Numa delas, o excelentíssimo senhor presidente da República enviou o link de uma matéria do site O Antagonista sobre uma investigação de deputados bolsonaristas que estava em andamento; e, se referindo à diretoria-geral da Polícia Federal, escreveu: “Mais um motivo para a troca”. Em seguida, o então ministro explicou ao seu chefe-supremo que a tal investigação era de competência do Supremo Tribunal Federal. Ainda no Jornal Nacional o ex-ministro Moro disse que não negociou com o presidente uma cadeira no STF.

São tantas as podridões, ops, emoções que emergem na República Antidemocrática Bolsonariana que eu às vezes fico aturdido. Quer dizer então que se não tivesse ocorrido a demissão do senhor Maurício Valeixo, aparentemente tudo iria continuar bem entre o presidente e o seu ministro da Injustiça, ops, Justiça e ficaríamos sem saber que Seu Jair queria e quer ter livre acesso, como chefe-supremo que é – ele próprio usou esse termo – às investigações da Polícia Federal?

Enquanto cabeças pensantes deste país e o mercado financeiro avaliavam o que poderia acontecer e ser feito com Seu Jair e se ontem o seu desgoverno começara a se desintegrar, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a abertura de um inquérito, ao STF, contra o nobre presidente Jair Bolsonaro para que sejam apuradas as acusações de interferência política na Polícia Federal, feitas por Sergio Moro.

Em uma longa narrativa publicada hoje em sua coluna no site UOL, Reinaldo Azevedo esmiuçou bem o caso e enumerou uma lista de crimes que, segundo ele, não apenas ontem, os senhores Jair Bolsonaro e Sergio Moro, já cometeram; e concluiu sua abordagem com uma afiada e contundente declaração: “Não sou do tipo que se ajoelha aos pés de mitos. De nenhum! Bolsonaro merece ser cassado. E Moro confessou crimes”. (Reinaldo Azevedo. “Moro acuso Bolsonaro, mas também fez confissão involuntária de crimes”. In https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2020/04/25/moro-acusou-bolsonaro-mas-tambem-fez-confissao-involuntaria-de-crimes.htm. Publicado em 25 de abril de 2020. Acessado em 25 de abril de 2020).

VIII

Não sejamos tolos, ingênuos e insensatos de acreditar nessa gente de vida pública que posa de honesta e íntegra, caso dos senhores Jair Bolsonaro e Sergio Moro, e que, nos bastidores e nos subterrâneos do poder, fazem e acontecem para de alguma maneira interferir na ordem e na justeza da legalidade para delas tirar proveito. Está bem visto que Sergio Moro é um arrivista inveterado para quem os fins justificam os meios. Já o senhor Jair Bolsonaro é uma pessoa mentalmente doentia, uma ave de mau agouro que reuniu em seu desgoverno alguns dos elementos que, como ele, são adeptos do retrógrado e do atraso. Não nos esqueçamos de que o vice-presidente Hamilton Mourão, que fica se comportando como se fosse de estirpe diferente da do presidente, também já chegou a defender – e não faz muito tempo – que ocorresse uma intervenção militar no país.

Eu olho para essa gente e recordo de um discurso feito pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici, que governou o Brasil de 1969 a 1974, período esse que é por muitos considerado o mais violento e desumano de toda a Ditadura Militar. No dia 21 de fevereiro de 1970, falando por ocasião do aniversário da tomada de Monte Castelo, Médici disse que as Forças Armadas interviram, em 1964, para interromper a subversão, mas que as “instituições democráticas não foram assaltadas pelos militares”; e que essa era “a verdade revolucionária que precisa ser compreendida, e de que não aceito e nem aceitarei contestação” (Emílio Garrastazu Médici. “Minha origem”. In Nova consciência de Brasil. Secretaria de Imprensa da Presidência da República, s. l., 1971, p. 28). É bem esse mundo de trevas e de verdades falsificadas e institucionalizadas que o senhor Jair Bolsonaro e parte do seu staff quer ver restaurado.

A ordem do discurso do presidente Jair Bolsonaro é fazer crer que ele é um homem probo e íntegro por, talvez, acreditar que a corrupção moral e ética diz respeito tão somente à participação de alguém em maracutaias,  negociatas e repartição de butins pecuniários, de dindin, dinheiro, bufunfa. Não, senhor presidente, não é só corrupto quem se lança em armações que visam ao enchimento de botijas; é tanto quanto e talvez mais corrupto o sujeito que trata de agir à revelia dos preceitos da ordem e da legalidade para auferir benefícios outros que não o dinheiro em si. O senhor entendeu?

No seu estudo A formação das almas, o historiador José Murilo de Carvalho nos esclarece que a elaboração de um imaginário “é parte integrante da legitimação de qualquer regime político”; e que o herói que se preze tem de ter, de algum modo, a cara da nação e “responder a alguma necessidade ou aspiração coletiva”, do contrário, na ausência de tal sintonia, o esforço de mitificação de figuras políticas será vão, e aí, os “pretendidos heróis serão, na melhor das hipóteses, ignorados e ridicularizados” (José Murilo de Carvalho. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998; citações por ordem de aparição: p. 10, 55 e 56).

Os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que costumam se referir a ele como um “mito”, sabem muito pouco das engrenagens da História e das arrumações e bastidores do poder constituído. Os bolsonaristas, os membros da República Antidemocrática Bolsonariana, que dizem querer salvar o Brasil de “tudo isso que está aí”, são idealistas de posse de conceitos ultrapassados arrumados num pseudoprojeto vanguardista de salvação. Não há progresso de fato, senhores, onde se manda calar. Não há progresso de fato, senhores, onde se manda reprimir o que diverge. Não há progresso de fato, senhores, onde não se negocia em busca de um consenso. Não há progresso de fato, senhores, onde imperam a autocracia e o estatuto do eu supremo e todo-poderoso.

Há quem diga que, depois de se reunirem em convenção, os demônios saem para praticar as suas maldades disfarçados de qualquer coisa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário