23 de maio de 2020

Nem misturando cloroquina com tubaína: Brasília é um cancro incurável

Por Clênio Sierra de Alcântara



Mais do mesmo: estamos realmente muito necessitados de governantes realmente sensatos e que consigam olhar para além dos seus próprios umbigos e interesses. Quem votou em Jair Bolsonaro pensando que ele seria um remédio contra o petismo de Lula e de seu grupo de malfeitores quebrou a cara 


 I

Brasília, domingo, 17 de maio de 2020. Mais uma vez, de novo e novamente demonstrando que estão absolutamente nem aí para o bom senso e menos ainda para as leis, o senhor Jair Bolsonaro, presidente da República, e vários ministros do seu desgoverno, estiveram ali na rampa do Palácio do Planalto apoiando e vibrando com a patriotada que seus apoiadores faziam na Praça dos Três Poderes. Desta feita, diz-se, agentes do Estado circularam entre aquela gente desocupada recolhendo algumas faixas e pedindo que de outras fossem retiradas palavras de protesto e afronta contra a democracia, daí por que várias delas apareciam esburacadas, porque tiveram dizeres recortados. Mas não adiantou, porque em outras foram vistos ataques verificados também nos pandemônios anteriores: pedidos de saída dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; além, é claro, de pedir a intervenção dos militares, o fim do isolamento social e a liberação do uso da cloroquina no tratamento contra o coronavírus (Pedro Henrique Gomes, Brenda Ortiz e Pedro Borges. “Bolsonaro e pelo menos 11 ministros participam de ato pró-governo”. In G1: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/17/bolsonaro-e-ao-menos-11-ministros-participam-de-ato-pro-governo-no-palacio-do-planalto.ghtml. Publicado em 17 de maio de 2020. Acessado em 17 de maio de 2020).

É esse tipo de gente que diz que quer promover a mudança para melhor deste país. Como pode querer melhorar uma sociedade alguém que não consegue conviver com o aparato da lei e que tripudia e que não aceita a existência dos poderes que regem toda a nação?

Ainda naquele domingo de patriotada inconsequente e feroz, veio um sopro de civilidade: ex-ministros da Defesa divulgaram uma nota exortando as Forças Armadas a ignorarem os pedidos por intervenção militar em favor do governo do senhor Jair Bolsonaro. Diz um trecho da referida nota: “Diante das imensas dificuldades decorrentes da crise imposta pela pandemia do coronavírus, cujos efeitos se alastram, de forma trágica, pelo Brasil, as Forças Armadas cumprem um importante papel no enfrentamento das adversidades e na manutenção da unidade e do ânimo da população. A democracia no Brasil, aproxima-se com um destino incontornável, que necessita da contribuição de todos para o seu aperfeiçoamento” (“Ex-ministros da Defesa lançam manifesto e rechaçam pedidos de golpe militar a favor de Bolsonaro” In Seleções Readers Digest: https://www.selecoes.com.br/plantao/ex-ministros-da-defesa-lancam-manifesto-e-rechacam-pedidos-de-golpe-militar-a-favor-de-bolsonaro/. Publicado no dia 18 de maio de 2020. Acessado no dia 18 de maio de 2020).

Compreendo que manifestações como essa de ex-ministros da Defesa, como Aldo Rebelo e Raul Jungman, podem significar muito pouco diante da ação de um mandatário que, ao mesmo tempo que apoia discursos que gritam por uma intervenção, trata de ir militarizando instâncias do seu desgoverno, escolhendo ministros militares e fazendo-os ocupar vários outros postos, como temos visto no Ministério da Saúde. E essa movimentação, essa aparelhagem me faz crer – e tomara que eu esteja enganado – que a militarização do desgoverno de Seu Jair caminha para um golpe militar silencioso. Daqui a pouco toda e/ou a maioria dos cargos da administração estará sob o controle dos militares e o presidente se sentirá ainda mais apoiado para continuar praticando os seus diabolismos em nome da ordem, da moral e dos bons costumes ditos cristãos,.

II

As movimentações que aqui e ali se verificam no desgoverno do asinino presidente da República Antidemocrática Bolsonariana deixam ver como a vontade autoritária e o apego e a ânsia de tudo dominar e moldar à visão que essa gente animalesca tem de como deve ser o mundo ideal em que todos nós deveríamos viver, se associam para fazer a distopia ser estabelecida.

O apoio incondicional à ação dos militares, os discursos apologéticos que mesmo os membros civis do desgoverno fazem à Ditadura Militar que vigeu neste país no longo e tenebroso período de vinte e um anos e a referências que aparecem num e noutro setor da administração à ideologia nazista – e eles, claro, negam sempre as evidências, como se nós fôssemos uns grandissíssimos cretinos que estão vendo pelo em ovo -, demonstram de modo inconteste que esse pessoal não tem um mínimo que seja de crença nos fundamentos daquilo que se entende por democracia. Essa gente age levada por impulsos autoritários tão severos e eu diria que quase incontroláveis, que não percebem – e creem que não percebemos – que os evidenciam, como se o autoritarismo, com suas sugestões e engrenagens, fosse algo naturalmente aceito num ambiente democrático.

Recordemos que o senhor Roberto Alvim foi rechaçado da Secretaria Especial da Cultura depois de encarnar uma versão, digamos, tupiniquim, cabocla do nazista Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler. Agora o, por assim dizer, “neonazista” da vez, é o senhor Fábio Wajngarten, chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social da presidência da República (Secom).

O Ministério Público Federal (MPF) determinou a abertura de um inquérito civil contra Wajngarten por conta de uma publicação feita pela Secom, nas redes sociais, no último dia 5, na qual os militares que atuaram na Guerrilha do Araguaia foram chamados de “heróis”, incluindo aquele que é considerado o mais cruel de todos eles, o tenente-coronel do Exército, Sebastião Curió. Diz um trecho da postagem: “A Guerrilha do Araguaia tentou tomar o Brasil via luta armada. A dedicação deste e de outros heróis ajudou a livrar o país de um dos maiores flagelos da história da humanidade: o totalitarismo socialista” (“MPF vai investigar postagem de Wajngarten com elogios à [sic] militares na Guerrilha do Araguaia”. In Diario de Pernambuco: https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/politica/2020/05/mpf-vai-investigar-postagem-de-wajngarten-com-elogios-a-militares-na-g.html. Publicado no dia 15 de maio de 2020. Acessado no dia 15 de maio de 2020).

Sim, o senhor Fábio Wajngarten é, vejam vocês, um dos paladinos dos “ideais democráticos” que trabalham para o mandatário da República Antidemocrática Bolsonariana. Pois ele, que é também apologeta daqueles homens que lutaram contra um dos maiores “flagelos da história da humanidade”, recebeu uma reprimenda da Confederação Israelita do Brasil (Conib) por ter a Secom do judeu – isso, ele é judeu – Wajngarten utilizado num vídeo com informações sobre o combate à pandemia de coronavírus a mensagem “O trabalho, a união e a verdade nos libertarão”, quando se sabe que a frase “O trabalho liberta” está inscrita na entrada do campo de extermínio nazista instalado em Auschwitz, na Polônia. O secretário disse em sua defesa que toda medida do Governo é deformada “para se encaixar em narrativas” (“Confederação Israelita repudia mensagem do governo que remete a lema nazista”. In Deutsche Welle: https://www.dw.com/pt-br/confedera%C3%A7%C3%A3o-israelita-repudia-mensagem-do-governo-que-remete-a-lema-nazista/a-53403487. Publicado em 12 de maio de 2020. Acessado em 20 de maio de 2020).

Quando li essa notícia procurei ver o tal vídeo. Ao longo de quatro minutos, a Secom rebate acusações de parte da imprensa que só mostra um presidente da República indiferente às agruras provocadas e/ou agravadas pela pandemia; ali são exibidas ações governamentais como o pagamento do auxílio emergencial e a liberação de crédito para micro e pequenas empresas. Sim, Fábio Wajngarten, tudo o que aparece no vídeo é mais do que uma obrigação do Estado fazer, afinal, o governo de uma nação serve para que, se não for para amparar de algum modo os seus cidadãos?!. Secretário Wajngarten, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. A imprensa que, segundo o senhor, só ataca o nobilíssimo presidente, não põe frases na boca dele e nem o incentiva a descumprir o isolamento social e menos ainda a participar de protestos antidemocráticos e inconstitucionais, como temos visto. Quanto às ilações e deformações que o senhor diz que são feitas sobre tudo o que sai do desgoverno do qual a sua respeitável e incontestável pessoa faz parte, elas são, sem dúvida alguma, decorrentes do histórico de canalhices que são praticadas por inúmeros dos seus integrantes, com ênfase no seu chefe-supremo que, dia a dia, com a sua presença e atuação, faz do Palácio do Planalto e adjacências, uma imensa cloaca.

III

Nesta semana em que eu tomei conhecimento de que o espertalhão Luciano Hang – o feioso proprietário da rede de lojas Havan, que é um superapoiador de Seu Jair – vem tentando ludibriar as autoridades colocando feijão e arroz para vender em suas lojas de departamento a fim de que elas sejam enquadradas na categoria de serviços essenciais, vimos, mais uma vez que, apesar de tanto se acusarem e trocarem desaforos e farpas, a dita esquerda e a dita direita deste país se equivalem e são constituídas de uma mesmíssima matéria fecal.

Sorrindo um sorriso bestial de escárnio e de deboche que lhe é tão característico, o senhor Jair Bolsonaro disse na terça-feira, durante uma entrevista ao jornalista Magno Martins: “Quem for de direita toma cloroquina, quem for de esquerda toma tubaína”. Talvez tenha sido o modo que ele, que é tão contrário às recomendações no tocante ao enfrentamento da pandemia, encontrou para “comemorar” os milhares de mortos que o coronavírus já fez neste país. O excrementíssimo senhor presidente é de um sadismo e de uma crueldade nada hilariantes. “E daí?”, não é, Seu Jair?

E como nesta infeliz nação direita e esquerda disputam o tempo todo e incansavelmente o posto de quem é o lado mais obscuro e retrógrado da história, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao site da revista Carta Capital, também ocorrida na terça-feira, fez o seguinte e infame comentário: “Ainda bem que a natureza [...] criou esse monstro chamado coronavírus, porque está permitindo que enxerguem que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises”. Mesmo carregando um monte de processos nas costas em virtude dos tantos negócios escusos com os quais se meteu durante o período em que esteve ocupando o Palácio do Planalto, o senhor Luiz Inácio, o socialista que de tudo fez para enricar, como se diz por aqui, continua acreditando, coitado, que é uma voz confiável. E ele ainda teve o desplante de pedir desculpas, no dia seguinte, pela fala grosseira. Pô, Seu Lula, vá tomar sua cachaça e comer sua polenta que é o melhor que o senhor faz.

Nessa disputa infeliz de fraseados, a sensatez e a clarividência dos fatos veio nas palavras do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandettta, na quarta-feira, na GloboNews. Mantendo o compromisso com a ciência ele declarou: “Quem é de direita usa cloroquina. Quem é de esquerda, tubaína. E quem é de juízo, escuta a medicina”.

Não estamos doentes só por causa da pandemia do coronavírus que está nos atacando. A sociedade brasileira está doente faz tempo. E essa irresponsável disputa ideológica que vem sendo travada tem nos deixado ainda mais vulneráveis, porque faz muitos creem que problemas graves e/ou gravíssimos podem ser resolvidos como que por um movimento de prestidigitação de governantes irresponsáveis, malfeitores e bufões.

IV

Para mim é um exercício de ficção acreditar que o pós-pandemia fará de nós seres humanos menos maus do que somos. Basta ver como a realidade tem se mostrado desde já para que eu não creia em nenhuma mudança para melhor. As pessoas não conseguem se comportar pensando no bem comum. Recorre-se a uma série de medidas visando o alcance do respeito, mesmo que forçado, às determinações sanitárias de combate ao coronavírus, e muita gente segue se comportando como se isso não lhes dissesse respeito; as pessoas continuam indo na contramão do que é seguro, negando que exista uma ameaça invisível às suas vidas; e indo de lá para cá e de cá para lá por entre becos, ruas e avenidas, como se a persistência de suas teimosia e desobediência de alguma forma pudesse lhes dar uma resistência física e aumentar a sua imunidade.

Quando alguém sente uma dor de cabeça, por exemplo, ingerir um analgésico costuma trazer um alívio quase que imediato. Mas a ciência até agora não foi capaz de elaborar e de sintetizar em laboratórios com as mais avançadas das mais avançadas tecnologias algum fármaco, alguma substância que consiga fazer dissipar de imediato a indiferença e a ignorância. O único remédio que se conhece até o presente momento contra a indiferença e a ignorância é a educação, é a instrução; e isso requer tempo e dedicação, não é algo que se pode comprar na farmácia ali na esquina.

Em entrevista concedida ao El País, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, disse exatamente o que eu penso sobre o futuro que há de ser vivido por quem escapar, por quem sobreviver ao coronavírus. Disse ele: “Não vamos sair melhores dessa situação. Ninguém se comove em ver corpo jogado na vala. Quase 1.000 famílias perdendo gente por dia e ainda tem sujeito preocupado em abrir comércio”. (Breiller Pires. “Alexandre Kalil: ‘Politizou a coisa. Fica parecendo que quem não quer morrer é comunista’”. In El País: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-05-17/alexandre-kalil-politizou-a-coisa-fica-parecendo-que-quem-nao-quer-morrer-e-comunista.html. Publicado em 17 de maio de 2020. Acessado em 18 de maio de 2020).

Vejam vocês que nestes dias pandêmicos o número de divórcios aumentou em vários lugares, assim como os casos de conflitos familiares e violência doméstica. As pessoas não conseguem se suportar e conviver dentro de suas casas e ainda há quem acredite que seja possível alcançar paz no mundo.

V

Não nos descuidemos; os animais da República Antidemocrática Bolsonariana são autoritários, hipócritas, estúpidos e covardes; e estão por aí sempre dispostos a atacar e agredir e ferir e até matar, porque não aceitam de forma alguma ser contrariados em seus propósitos de tudo moldar à concepção deles, uma vez que só eles e apenas eles são corretos, honestos e querem o bem maior do país. Eles são cristãos, não esqueçam disso.

No domingo passado, naquela patriotada havida em Brasília, uma pitbull bolsonarista roxa até a medula, atacou com uma bandeira a repórter Clarissa Oliveira, da BandNews. A selvageria contra a imprensa continuou ao longo da semana. Na quarta-feira, em Barbacena, Minas Gerais, um endemoniado integrante das hostes bolsonaristas passou por uma rua onde se encontrava uma equipe da TV Integração, afiliada da Rede Globo, e gritou: “Globo lixo”. Só que isso não foi suficiente para ele descarregar a sua raiva e o seu ódio contra a emissora da família Marinho; então o delinquente desceu do carro e prontamente começou a agredir fisicamente o cinegrafista Robson Panzera, que resultou com dois dedos quebrados (“Bolsonarista é preso após agredir cinegrafista da Globo e chutar a câmera”. In Forum: https://revistaforum.com.br/comunicacao/bolsonarista-e-preso-apos-agredir-cinegrafista-da-globo-e-chutar-camera/. Publicado em 20 de maio de 2020. Acessado em 20 de maio de 2020).

O vídeo da agressão ao cinegrafista é mais uma prova inconteste da falta de civilidade e da incapacidade que tem os apoiadores, o verdadeiro rebanho do senhor Jair Bolsonaro, de aceitar a liberdade de expressão e a opinião de quem deles diverge. Lugar de animais selvagens é longe da civilização ou então atrás de grades.

VI

Na quarta-feira a grande notícia  do dia foi a saída de Regina Duarte da Secretaria Especial da Cultura. Mas ainda não foi o capítulo final do novelão porque ela não saiu completamente do desgoverno do seu ídolo Jair Bolsonaro; para continuar ganhando dinheiro do contribuinte sem fazer nada de relevante pela cultura do país, o seu chefe-supremo escalou-a para parasitar agora na Cinemateca Brasileira.

Diz-se que a senhora Regina Duarte não abandonara antes a tal secretaria porque estavam tratando de encontrar uma “saída honrosa” para ela. Parece uma piada. É cada coisa que inventam. Regina Duarte perdeu praticamente toda a honra que tinha – se é que tinha – ao ingressar nas hostes da República Antidemocrática Bolsonariana; e foi massacrada, hostilizada, repudiada e reprovada por uma grande leva de representantes da classe artística devido ao seu comportamento estúpido e insano naquela entrevista concedida à CNN Brasil que se somou à sua nulidade como secretária especial da Cultura.

Não sei se Regina Duarte já parou para pensar no quanto foi irrelevante dentro daquela secretaria e do tanto de desapontamento que causou em pessoas que, como eu, a tinha em grande conta.

Cotado para assumir a Secretaria Especial da Cultura, o senhor Mário Frias é, artisticamente falando, em minha opinião, nada ou quase nada se comparado à Regina Duarte, o que, a meu ver, só rebaixa ainda mais o papel da intérprete da corajosa Malu, do seriado Malu Mulher, nesse pandemônio que é o desgoverno do senhor Jair Bolsonaro. Embora em termos estritamente artísticos Regina Duarte e Mário Frias estejam em pontos diametralmente opostos, como pessoas e como cidadãos eles têm a mesmíssima natureza, porque quem apoia regime autoritário, autoritário é.

VII

O senhor Jair Bolsonaro se empenha tenazmente em defender com armas, unhas, dentes e mais alguns outros instrumentos os filhos que, vez e outra, são flagrados enrolados em malfeitorias. Não se sabe até quando o pai coruja conseguirá proteger suas crias; e há mesmo quem aposte que a sua prole será a responsável pela derrocada dele.

Nesta semana começamos a acompanhar o desenrolar de mais um capítulo da série Meus filhos, meu problema. No domingo passado, em entrevista concedida à Mônica Bergamo e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, um dos veículos de imprensa mais odiado pelo clã Bolsonaro, o empresário Paulo Marinho, que é suplente do senador Flávio Bolsonaro, revelou que este seu ex-parceiro de campanha recebeu informações privilegiadas de alguém da Polícia Federal sobre pelo menos uma das operações deflagradas por essa Corporação, notadamente a que envolvia o senhor Fabrício Queiroz, um dos personagens centrais da trama de negócios escusos que, segundo investigações em curso, envolvem o nobre senador.

Será, senhor Jair Bolsonaro, que estamos nós, mais uma vez, diante do que Vossa Excelência corriqueiramente classifica como perseguição, canalhice e patifaria da mídia?

VIII 

Até as vidraças das janelas do Supremo Tribunal Federal apostavam que o ministro Celso de Mello iria liberar para o conhecimento do grande público o vídeo da reunião ministerial ocorrida no último dia 22 de abril, doravante, o Dia do Canalha. Peça-chave da acusação do ex-ministro Sergio Moro no inquérito que investiga uma possível interferência do presidente da República na Polícia Federal, o vídeo foi editado – segundo se disse, trechos que diziam respeito a falas sobre a China e outros países foram cortados – e liberado ontem.

Não se pode dizer que o país estava num verdadeiro frisson para assistir ao tal vídeo, como quem espera o capítulo final de uma série e/ou de uma novela muito acompanhada; isso porque a parte principal, a que interessava ao mencionado inquérito já havia sido divulgada; e também já eram muito comentadas as falas dos ministrecos doidos varridos – Brasília, gente, é muito parecida com um manicômio judiciário – Abraham Weintraub e Damares Alves, a louca da goiabeira.

Mas uma coisa é ler a transcrição de falas e a descrição de imagens; e outra é poder ver o modo como os indivíduos se comportaram durante a filmagem e ouvir o tom de seus pronunciamentos. E assim foi que eu pacientemente sentei para assistir às quase duas horas de duração da maldita reunião ministerial, do verdadeiro pandemônio que foi aquele encontro.

Vamos lá. Na minha avaliação, a reunião contou com algumas intervenções pontuais que, no meu entendimento, são dignas de louvor. Quais sejam: o ainda ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, destacou que no tal Pró-Brasil, o plano de desenvolvimento do país apresentado pelo ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, e razão de ser do encontro, não poderia deixar de contemplar a questão da segurança pública e nem medidas de anticorrupção; o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, falou de conclusão de obras; o então ministro da Saúde, Nelson Teich, disse da necessidade de controlar a doença provocada pelo coronavírus; Tereza Cristina, ministra da Agricultura, opinou que o Brasil deveria buscar a autossuficiência na produção de trigo; e o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, frisou o emprenho do banco na política de baixar juros.

No mais o que se viu na reunião foi um presidente da República soltando os cachorros contra meio mundo se valendo, para isso, de inúmeros palavrões; afirmando seguidas vezes que ele é quem manda em tudo; que tem fontes seguras de informação extra-Governo; que as Forças Armadas defendem a democracia, mas não um golpe para derrubar ele; e que o seu desgoverno se apoia nos pilares da família, do armamento da sociedade, da liberdade de expressão e de Deus. O vice-presidente Hamilton Mourão não disse sequer um piu. E foi perturbador, para mim, ver Sergio Moro nada dizer diante de algumas frases que foram ditas ali; e ele ainda abandonou o encontro antes do fim.

Do outro lado, além dos já mencionados Abraham Weintraub – ele parecia ter tomado um porre de cachaça vencida e ido à reunião de ressaca e cheinho de revoltas – e Damares Alves – a louca da goiabeira estava possessa e ansiosa para prender prefeitos e governadores -, quem negativamente também se destacou foi o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, que protagonizou o momento chutar o pau da barraca, na reunião, ao descarada e serenamente sugerir que fosse aproveitado o momento de “tranquilidade” provocado pela pandemia – não sei em que planeta ele está vivendo – para alterar legislações em várias frentes e setores que, sob a ótica dele, atrapalham o progresso do país.

Poderíamos esperar que somente coisas boas saíssem de um encontro que tem como chefe-supremo uma criatura que possui uma consciência moral, ética e cristã tão rasteira e desprezível? Claro que não. Essa gente em geral não presta. E vale ainda o que eu disse noutro artigo: quem, por escolha própria e não por necessidade de sobrevivência, se junta a seres dessa espécie, é da mesmíssima laia e também não vale nada. Tudo o que foi dito na reunião de grosseiro, estúpido, preconceituoso, abusivo e torpe me surpreendeu nem foi por mim visto como algo fora do padrão, porque eu nunca esperei e nem espero algo diferente disso advindo de um desgoverno que é cheio até o gogó de uma gente autoritária, hipócrita, estúpida e covarde. Agora, “porra”, “foda-se quem seja”, “merda”, “bosta”, “estrume”, “vagabundos”, poxa, “puta que o pariu”, a reunião chegou ao fim e ninguém lembrou de dizer amém.

Um comentário:

  1. E assim como muito bem comentado pelo escritor do texto, que a reunião parece uma reunião de moleques e que foi a oportunidade para todos eles soltarem seus demônios na fala dos secretários(a), como a fala da louça da goiabeira, kkkkk, que quer a todo preço a prisão de prefeitos e governadores , como se ela fosse o judiciário, a passagem da boiada pelo ministro do meio ambiente, que de qualquer forma quer legalizar a grilagem no Brasil, e que por último suspendeu as verbas do projeto de tamar, sorrateiramente aproveita na sua fala e diz; vamos agir e aproveitar enquanto a mídia se preocupa com covid 19 para dar passagem a boiada, senão é um absurdo, o engajamento dessa milícia de vermes asqueroso. O bozo como já se esperava, quer de qualquer forma blindar seus patetos dos filhos e amigos...
    E agora com os pedidos de investigação dos fake News, que promoveram a campanha desse desgoverno miliciano, o.presidente tenta de qualquer forma intimadar ministros do STF, com ofensas e ameaças, dizendo; que " chega" não admito mas isso. A democracia, uma conquista sofrida por um tempo sombrio, querem de qualquer forma, colocar em xeque essa conquista. Os bolsominions com seu discurso de ódios contra o STF, continuam as ameaças como; vou dar um tiro a queima roupa pelas costas nesses ministros fdp. É um absurdo onde chegamos, a ignorância se confunde com pedido de liberdade. E os capítulos dessa novela nazista tá só começando.

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