13 de junho de 2020

Autoritarismo, negacionismo, mau-caratismo, idiotismo, banditismo e outros ismos ou Por favor, ministros do Tribunal Superior Eleitoral, estiquem logo a corda e desapontem os generais

Por Clênio Sierra de Alcântara

Nada como a resistência aos tiranos para nos encorajar a seguir em frente determinados a não baixar a cabeça e nem nos deixar submeter. Recalcitrar, resistir desobedecendo, é um exercício de sobrevivência contra o autoritarismo, as arbitrariedades, os abusos, os descasos, o mau-caratismo e o banditismo



I

Como eu venho dizendo nos artigos das últimas semanas, desde que nos vimos mergulhados na pandemia do coronavírus, os domingos em Brasília, principalmente, e em algumas outras capitais brasileiras, têm sido de muitas movimentações, de muitos teatrinhos, enfim, de muitas ações que ficam a testar os limites das instituições democráticas.

Ocorre que, desde o domingo 31 de maio, as hordas da República Antidemocrática Bolsonariana perderam o protagonismo nas ruas e praças com seus protestos. A ala contrária às intimidações e às ameaças à democracia promovidas pelas hostes bolsonaristas perdeu o medo da pandemia e resolveu também ela ocupar as ruas e praças para marcar terreno e dizer que a democracia é um bem inegociável; e que, quem aspira a viver sob um regime ditatorial, arrume as malas, saia do Brasil e tome o rumo da Coreia do Norte, por exemplo. E bye, bye, so long farewell.

Para mim o fato marcante do domingo passado nem foram as manifestações pró e contra o senhor Jair Bolsonaro e o seu desgraçado desgoverno, e sim a boca suja do nobilíssimo guru do clã do avestruz, que é o filósofo, astrólogo e tudo mais Olavo de Carvalho. Com a mesmíssima disposição e língua ferina de sempre, Mr. Carvalho não poupou “sábias” e “elegantes” palavras para se dirigir aos avestruzes que o endeusam e seguem. O guru disse em um vídeo – por favor, vejam o vídeo no YouTube; e controlem-se para não atingir o orgasmo – que há tempos existe um Gabinete do Ódio contra ele e o senhor Jair Bolsonaro não faz nada, não move um dedo para ajudá-lo. Afirmou que o presidente se “aproveitou dele” e que o sujeito nunca foi seu amigo.

Venerado e sábio guru Olavo de Carvalho, o que foi que realmente de bom o presidente Jair Bolsonaro fez para o senhor? “Bosta nenhuma. Chega lá e me dá uma condecoraçãozinha. Enfia a condecoração no cu”. Calma, Mr. Carvalho. Agora me diga, e o Luciano Hang, aquele feioso, lhe deu uma mãozinha? “Esse seu Havan vem aqui dizer: ‘ah, vou ajudar’. Vai ajudar o caralho, você vai comprar aviãozinho e se vestir de Zé Carioca, você é um palhaço”. Mr. Carvalho, cá para nós, eu quero lhe dizer, com toda sinceridade, que vibrei quando o senhor disse assim, se dirigindo a todo o clã do avestruz e seus comparsas: “Gente que não tem cultura e não gosta de quem tem”, porque o senhor foi quase preciso em sua definição. Mr. Carvalho, para terminar, me diga, o que o senhor gostaria de falar neste exato momento para o asinino presidente da República Antidemocrática Bolsonariana: “Continue inativo, continue covarde, eu derrubo essa merda desse seu governo”.

Como diria aquele travesti que foi estuprado e fizeram tudo com ele numa noitada inesquecível em um motel – o depoimento dele também está no YouTube -: “Foi óooootimo!”.

II

É do jogo sujo do poder negar as evidências de suas malfeitorias e arbitrariedades. Constantemente o senhor Jair Bolsonaro e membros do seu desgoverno cometem desatinos e dizem absurdos contra a ordem democrática e, ao serem confrontados, se põem a dizer que a imprensa e os olhos vigilantes da sociedade ficam a criar narrativas que os colocam como partidários de regimes autoritários. Ah, e não o são?

O senhor Jair Bolsonaro já participou de vários protestos nos quais as palavras de ordem eram coisas do tipo “Intervenção militar já” e “Vamos fechar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional” e ele não é autoritário? Vossa Excelência confunde o tempo todo governo com Estado quando, por exemplo, diz que vai indicar para o Supremo Tribunal Federal (STF) pessoas alinhadas com o seu pensamento e com as diretrizes do seu desgoverno e ele não é autocrático? O impoluto e irascível presidente da República repetidamente declara para quem queira ouvir que não pretende renovar a concessão da Rede Globo e ele não acena para uma postura ditatorial?

E o que dizer de alguns dos seus ministros e secretários que se comportam como se estivessem lidando com animais aos quais eles podem dar o tratamento que quiserem e não ser contestados? E suas manifestações de caráter nazifascistas? Na sua mais recente movimentação, o ministreco da Deseducação, Abraham Weintraub, que tudo sabe e nada de muito relevante fez no ministério que ocupa, certamente em conluio com o mandatário da nação, quis ter o direito de nomear reitores e vice-reitores temporários para as universidades federais caso os mandatos deles se encerrassem durante a pandemia. Para que isso? Por que querer mexer na autonomia universitária? Qual é o propósito não declarado dessa intenção? Felizmente, numa atitude pouquíssima usual no parlamento, o presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre, pisou na cabeça da cobra antes que ela desse o primeiro bote e devolveu a Medida Provisória 979/2020 ao desgoverno que, quase simultaneamente, a revogou (Eulina Oliveira. “Alcolumbre devolve ao governo MP que permite que Weintraub escolha reitores na pandemia”. In Valor Econômico: https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/06/12/alcolumbre-devolve-ao-governo-mp-que-permite-que-weintraub-escolha-reitores.ghtml. Publicado em 12 de junho de 2020. Acessado em 12 de junho de 2020).

O conjunto da obra vista até aqui desse desgoverno é mais do que suficiente para que nos mantenhamos vigilantes às manobras autoritárias e perniciosas que os seus componentes elaboram e querem pôr em prática, caso contrário, a exemplo do que planejava o desprezível ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, eles não pensarão duas vezes em tanger os “bois” com leis permissivas e prejudiciais aos ecossistemas e a tudo que for possível; e todos nós sabemos que, por onde passa boi, passa boiada.

III

Em meio aos protestos contra o racismo estrutural que desde sempre vigora aqui e alhures contra a população negra, nesta semana a porção retrógrada e criminosa de nossa sociedade mostrou novamente a sua face delinquentemente desavergonhada neste Brasil brasileiro que não consegue de forma alguma se livrar dos resquícios infames do seu passado escravocrata.

Todos os anos fiscais do Governo Federal desmontam esquemas de empresas e de pessoas que mantêm indivíduos em condições de trabalho análogas à escravidão. A quase certeza da impunidade, o arrivismo sem freios e a maldade e a crueldade pura e simples fazem com que pessoas inescrupulosas ajam dessa maneira, explorando mão de obra, em praticamente todo o país.

Eis um fato revelado dias atrás: em dezembro de 2017, a partir de denúncias, o Ministério Público do Trabalho (MPT) empreendeu diligências na cidade de Santo Antônio de Jesus, na Bahia, e confirmou que uma senhora, já de idade avançada, trabalhava na casa de Arlinda Pinheiro de Souza há trinta e cinco anos – isso mesmo, trinta e cinco anos – sem receber qualquer tipo de remuneração, apenas moradia, alimentação e vestuário, como se isso bastasse e fosse correto fazer. Para mim essa é uma realidade muito chocante; e quando se pensa na quantidade de casos como esse que devem existir por aí, nós podemos imaginar quão dramática deve ser a existência de pessoas que são vítimas desse tipo de crime (“Patroa é condenada a indenizar mulher que trabalhou 35 anos sem salário”. In UOL Notícias: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/06/11/trabalho-escravo-bahia-empregada.htm. Publicado em 11 de junho de 2020. Acessado em 11 de junho de 2020).

IV

Nada como a resistência aos tiranos para nos encorajar a seguir em frente determinados a não baixar a cabeça e nem nos deixar submeter. Recalcitrar, resistir desobedecendo, é um exercício de sobrevivência contra o autoritarismo, as arbitrariedades, os abusos, os descasos, o mau-caratismo e o banditismo.

Como a maldade que emana do Palácio do Planalto e arredores não tem limites, os seus malfeitores devem crer que, aqui fora, nós todos sejamos uns cegos, uns idiotões, uns estúpidos, uns desavisados, uns incapazes e uns medrosos que, por isso, não podemos reagir contra tudo o que de nefasto é dito e/ou protocolado e/ou publicado no Diário Oficial da União.

Ao anunciar, na semana passada, que mudaria a forma de divulgação dos dados sobre a pandemia bem como o horário em que essas informações eram tornadas públicas, o Ministério da Saúde, que continua sendo interinamente comandado por um general de nem sei quantas estrelas que, além de não ter formação na área da saúde, não sabe delimitar num mapa onde ficam os hemisférios norte e sul, as incompetentes autoridades talvez tenham pensado que os órgãos de imprensa, principalmente aqueles que o desgoverno da República Antidemocrática Bolsonariana tem como inimigos, ficariam a ver navios e/ou esperando a banda passar. E quebraram a cara, mais uma vez, o presidente e os seus cupinchas.

Fazia já várias semanas que o Grupo Globo divulgava em seus veículos de comunicação tanto os dados sobre a pandemia do coronavírus disponibilizados pelo Ministério da Saúde bem como recorria aos balanços que as secretarias estaduais faziam e fazem diariamente. Pois bem, para o negócio ficar com mais feição ainda de firmeza de propósito e de compromisso social, algo que está em falta nos gabinetes do Palácio do Planalto, o Grupo Globo, em parceira com a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e o UOL, estabeleceu e instituiu um consórcio para que todos esses veículos divulgassem e fizessem uso dos mesmo dados fornecidos pelas secretarias estaduais, escanteando o inoperante Ministério da Saúde.

V

É realmente um número muito elevado:  42.720 mortes provocadas pelo coronavírus; mas, considerando projeções que têm sido feitas por epidemiologistas e matemáticos a respeito do avanço da curva de contágio e o comportamento irresponsável de grande parte da população brasileira no enfrentamento da pandemia em curso, mais do que assustar, essa estatística fúnebre ainda vai continuar em escala ascendente.

Eis aqui mais dois episódios para o capítulo do livro imaginário Tudo será como antes no pós-pandemia.

Na noite da quarta-feira, a Guarda Municipal de Sorocaba, em São Paulo, com o apoio da Polícia Militar, interrompeu uma festa, que acontecia numa chácara, da qual participavam cerca de mil pessoas, algo totalmente contrário às determinações sanitárias em vigor com vistas a tentar frear a aceleração do contágio pelo coronavírus (“Coronavírus: polícia acaba com festa clandestina de mil pessoas em SP”. In Metrópoles: https://www.metropoles.com/brasil/coronavirus-policia-acaba-com-festa-clandestina-de-mil-pessoas-em-sp. Publicado em 11 de junho de 2020. Acessado em 11 de junho de 2020).

Outra festa clandestina foi terminada com a ação da Polícia Militar na cidade mineira de Esmeraldas, na madrugada da quinta-feira. O evento ocorria num sítio; no local, além de duas armas de fogo, os policiais apreenderam maconha, cocaína, LSD e loló (“PM termina com festa em condomínio em Esmeraldas; evento custava R$ 100 por pessoa”. In Estado de Minas: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/06/11/interna_gerais,1155864/pm-termina-com-festa-em-condominio-em-esmeraldas-evento-custava-r-10.shtml. Publicado em 11 de junho de 2020. Acessado em 11 de junho de 2020).

Não é que nós, brasileiros, sejamos todos uns canalhas empedernidos que só pensam no próprio umbigo. Mas muitos de nós agimos de modo inconsequente por não termos a mínima noção do que significa bem comum. Como bem diz um meu conhecido, nem todos os animais podem ser domesticados.

VI

Na manhã da quarta-feira, ali, diante da Tribuna do Escracho e do Deboche, o asinino senhor Jair Bolsonaro foi confrontado por uma sua eleitora. Vossa Excelência teve de ouvir a senhora Cris Bernart dizer o seguinte em um tom muito claro e compreensível: “Nós temos hoje aqui 38 mil mortos do covid. E, realmente não são 38 mil estatísticas, são 38 mil famílias que estão morrendo neste momento. O senhor, como chefe da nação, eu votei no senhor, fiz campanha para o senhor, acho até que o senhor me conhece. E eu sinto que o senhor traiu a nossa população”.

Calado e com certo ar de espanto de quem se acostumou a ser ovacionado pelos apoiadores, o mandatário da nação se irritou com a mulher. A sua claque amestrada vaiou a falante e ainda afirmou que ela estava dizendo, pasmem, “uma bobagem”. E, brabo que só um siri na lata, o senhor Jair Bolsonaro pediu à apoiadora – será que a esta altura dos acontecimentos ela ainda o apoia? – que ela cobrasse aos governadores a culpa pelas mortes; e, “educadamente”, disse: “Sai daqui” (André Siqueira. “’Sai daqui’, diz Bolsonaro a [sic] apoiadora que o cobrou por mortes na pandemia”. In Veja: https://veja.abril.com.br/politica/sai-daqui-diz-bolsonaro-a-apoiadora-que-o-cobrou-por-mortes-na-pandemia/. Publicado em 10 de junho de 2020. Acessado em 10 de junho de 2020).

Como já deu inúmeras demonstrações de que não está nem aí para os dramas pessoais – R$ 600,00 não ressuscitam ninguém, presidente! – e existenciais da população gerados e/ou agravados pela pandemia, porque ele é da mesma natureza maligna de Justo Veríssimo, o personagem criado por Chico Anysio cujo bordão era “Eu quero que pobre se exploda”, o senhor Jair Bolsonaro continua dando de ombros para tudo o que foi e está sendo feito para combater o coronavírus.

Como se não bastasse ser, desde o início da pandemia, contra o isolamento social, provocar aglomerações e participar de protestos, pouco ou quase nunca usar máscara, defender o uso da cloroquina, um medicamento sem amplo respaldo científico para tal finalidade, e atrapalhar a divulgação e/ou dificultar e/ou obscurecer os dados referentes ao número de mortos e contaminados pelo coronavírus, o asinino chefe-supremo da República Antidemocrática Bolsonariana, em uma live transmitida na quinta-feira, luciferiana e criminalmente estimulou o seus apoiadores a invadir hospitais públicos para filmarem e divulgarem se os leitos estão mesmo ocupados, como vêm dizendo governadores e prefeitos.

Não demorou para que um rebanho inconsequente e irresponsável que, eu não duvido, talvez apoie o senhor Jair Bolsonaro, atendesse à sua convocação; e já no dia seguinte à live, um pequeno grupo invadiu dependências do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, na cidade do Rio de Janeiro, causando tumulto, chutando portas e derrubando computadores. Eis aí mais um retrato de nossa indigência moral e ética e do nosso atraso civilizatório (Arthur Leal. “Grupo chuta portas e derruba computadores em alas de pacientes com covid-9 no Ronaldo Gazolla”. In O Globo:  https://oglobo.globo.com/rio/grupo-chuta-portas-derruba-computadores-em-alas-de-pacientes-com-covid-19-no-ronaldo-gazolla-24477088. Publicado em 12 de junho de 2020. Acessado em 12 de junho de 2020).

Que o senhor Jair Bolsonaro é um sujeito burrão de marca maior, todos os que não o apoiam, sabem. Agora, pensar que o presidente de um país é capaz de estimular seguidores a invadir hospitais e ainda mais sob a vigência de uma gravíssima epidemia que até agora já ceifou a vida de mais de 40.00 pessoas, a mim me parece que, muito mais do que burrice, esse é um caso claro de insanidade mental e a comprovação – mais uma – de que os brasileiros estamos sendo representados por um governante altamente irresponsável, insensível e letal. Ai de nós, ai de nós que estamos conseguindo sobreviver a esse estado de coisas enquanto esperamos que esse quadrúpede engravatado seja defenestrado do Palácio do Planalto junto com o seu rebanho o quanto antes.

VII

Mais de uma vez eu escrevi aqui que acredito que, embora as manifestações que eles fazem, que ora pendem para a dubiedade, ora para a negação, os militares das Forças Armadas brasileiras estão, sim, alinhados com o senhor Jair Bolsonaro com o objetivo de, qualquer hora dessas, mergulhar este país de novo nas trevas de uma ditadura militar. Como não acreditar nessa possibilidade se, a cada dia que passa, em que pesem os sucessivos movimentos do presidente da República em atos escancaradamente inconstitucionais e antidemocráticos – em pelo menos dois deles, ministros militares estiveram presentes -, eles, os militares, permanecem integrando esse desgoverno que aí está, eles continuam, comandando ministérios e se multiplicando por onde podem, como se vê na ocupação maciça do Ministério da Saúde, onde eles já somam vinte e cinco indivíduos?

Sim, aqui e ali, vemos manifestações de um e outro militar de alta patente afirmando sem, claro, mostrar o rosto e nem dizer o nome, que não concorda com essa participação de membros das Forças Armadas no primeiro escalão de um desgoverno que, ainda por cima, ataca tanto as demais instituições, porque sabidamente compreendem que isso provoca um desgaste ao Exército, à Marinha e à Aeronáutica, embora sejam componentes do primeiro que mais apareçam. Mas isso não é tudo; os militares que não concordam com a postura autocrática do presidente da República precisam fazer isso chegar à população, uma fez que o mandatário da nação fica praticamente o tempo todo dizendo não apenas que tem o apoio amplo das Forças Armadas como também que é a ele e somente a ele que elas devem obedecer. Bem, se isso não é uma clara declaração de propósitos autoritários e intimidatórios eu sou um idiotão que fica a enxergar pelo em ovo.

Notem a disparidade de postura que se observou ainda há pouco no comportamento dos militares das Forças Armadas brasileiras e no do Chefe do Estado Maior dos Estados Unidos: enquanto o general Mark Milley, a maior autoridade militar do seu país, fez, anteontem, um pedido público de desculpas por ter aparecido em um evento fardado ao lado do presidente Donald Trump, dizendo, num vídeo, que “Devemos defender o princípio de um Exército apolítico que está tão profundamente enraizado na própria essência de nossa República”, o chefe da Secretaria de Governo do presidente Jair Bolsonaro, o general Luiz Eduardo Ramos, numa entrevista à edição da revista Veja que chegou às bancas neste fim de semana, entre outras coisas, por assim dizer, assustadoras e inquietantes, declarou que “é ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas em particular o Exército, vão dar golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático. O próprio presidente nunca pregou o golpe. Agora o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda”.

Você que chegou até aqui comigo compreendeu o recado do general Luiz Eduardo Ramos? Eu, particularmente, compreendi perfeitamente; o nobre militar deixou claro que, se o “outro lado” esticar a “corda”, as Forças Armadas com certeza agirão; e agirão, eu pressuponho, não para defender a soberania do país e sim o desgoverno do senhor Jair Bolsonaro. Para mim também ficou claro que esse “outro lado” que o general apontou somos todos e cada um de nós, bem como as instituições que compõem os demais poderes que constituem a ordem democrática e que venham a continuar apontando as arbitrariedades praticadas pelo mandatário da nação e de alguma forma barrando as suas determinações autoritárias. Na entrevista, que eu considero uma peça de cunho altamente autoritário, o senhor Luiz Eduardo Ramos, que não apontou nem sequer uma malfeitoria cometida pelo seu chefe-supremo e nem pelos seus apoiadores, disse ainda algo que para mim ficou como uma intimidação: ele afirmou que não “é pertinente para o momento que estamos vivendo” que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impugne a chapa Bolsonaro/Mourão. Atenção, ministros do TSE, o aviso já foi dado: por favor, desapontem os generais.

Um adendo a este espantoso e desafiador ponto: ainda há pouco, rebatendo um entendimento do ministro do STF, Luiz Fux, de que as Forças Armadas não podem funcionar como um “poder moderador”, porque isso significaria aumentar o poder do mandatário da nação e, por conseguinte, enfraquecer os demais que constituem a ordem democrática, o asinino e autocrático senhor Jair Bolsonaro declarou, em nota, que as Forças Armadas não “cumprem ordens absurdas” e também “não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República” – a nota foi assinada pelo presidente, pelo vice-presidente e pelo ministro da Defesa, sendo os dois últimos, como todos nós sabemos, generais.

Vamos pensar um pouco, só um pouco mais: considerando tudo de ruim e todos os absurdos que esse sujeito já fez, por exemplo, contra o combate à pandemia do coronavírus, o que será que ele entende por coisas e/ou ordens absurdas, alguém pode me dizer?

VIII

Os castelinhos de verdades e de honestidades erguidos e defendidos pelo senhor Jair Bolsonaro começaram a desmoronar um a um assim que ele se pôs a defender as tão divulgadas ilicitudes praticadas por seus filhos.

Nesta semana, em mais um movimento certificador de que o excrementíssimo senhor presidente da República é a lesma lerda que ele tanto aponta e critica no cenário político, ele não só recriou o Ministério das Comunicações, como o fez, vejam só, para repassá-lo para o “centrão”, grupo formado pelos partidos políticos mais dados ao fisiologismo do Congresso Nacional. É a aposta dele para se garantir no Palácio do Planalto, uma vez que é provável que um processo de impeachment caia no seu lombo e sua popularidade role ladeira abaixo tão logo a fase severa da pandemia passe e o auxílio emergencial chegue ao fim, e empresários falidos junto com a massa de desvalidos se vejam num cenário de terra arrasada, sem emprego, sem renda e sem futuro e comecem a gritar clamando que ele desapareça o mais depressa possível de Brasília, a terra das ilusões de poder inconteste vendidas a preço de ouro.

Um comentário:

  1. Brasil, um país de moralista que está afundado no extremismo que pede a volta da ditadura. Os apoiadores do fascismo, os protetores dos bons costumes espalham e disseminam o ódio, em todos os canais sustentado por uma milícia da comunicação. O mais surpreendente é que o "perfume" que exala espinho, desrespeito, continua sendo aplaudido por toda a escala do militarismo e de seus apoiadores.O racismo que de longe nunca teve fim neste país, continua ainda mais presente sob um regime de uma maioria da casa Branca. A frase " que basta , acabou, será mais uma ameaça à democracia? Ou será mais um capricho do bozo lixo, ou melhor verme. Incitar o ódio, contra ao STF, querendo estrupar filhas dos ministro, atingindo suas famílias , será que isso, é liberdade de expressão ou seria, um estupro a constituição. Mas uma vez, parabéns pelo texto que expressa exatamente minha indignação.

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