12 de setembro de 2020

Bolsonaro, canastrice, arroz, queimadas e remorso

 Por Clênio Sierra de Alcântara

 

Imagem: Internet
Bom, se não tem arroz coma macarrão. E encerra o papo


I

 Ouvi dizer por aí que devido à alta do preço do arroz, os evangélicos apoiadores do chefe-supremo da República Antidemocrática Bolsonariana estão formando uma grande corrente de oração para clamar aos céus pedindo que volte a chover maná, porque a coisa não está boa por aqui, não.

Essa gente em tudo vê maldade. Pessoal veja o lado bom: sem comer arroz cada um de vocês ficará com o corpo sequinho de um guará. Guará? Sim, aquele bicho que puseram na cédula de R$ 200,00.

 

II

 

Eu até que tentei imitar o senhor Mário Frias: decorei uma por uma aquelas falas e circulei pelos cômodos de minha casa, como se elas fossem as dependências de um museu. Fiz caras e bocas, empostei a voz, mas não deu certo. Cheguei à conclusão de que, mesmo com a minha total falta de experiência no ramo da atuação, eu jamais conseguiria ser tão canastrão como o senhor Mário Frias.

 

III

Ah, gente, por favor, se não tem arroz, faz macarrão. Pronto, falei.

 

IV

Tenho um amigo que figura na ala dos idealistas; e que acredita que a humanidade ainda tem jeito; e que isso será notado quando a pandemia acabar, ocasião em que, segundo ele, as pessoas mudarão os seus hábitos. Não sei que merda de alucinógeno esse meu amigo anda consumindo.

 

V

Estava num supermercado hoje cedo e ouvi este diálogo travado entre duas mulheres, digo, duas pessoas do sexo feminino:

- Bolsonaro deu o auxílio e agora tá tirando com essa carestia danada.

- E não é. Tá tudo caro, minha filha.

- Quero só ver quando esse auxílio acabar. A fonte tá secando e os preços das coisas subindo. Quem aproveitou, aproveitou.

- E então.

 

VI

Com toda a roubalheira que andam descobrindo nos gabinetes e noutros recintos do Rio de Janeiro, não duvidem se qualquer dia desses uma megaoperação policial encontrar fortes indícios de que o Cristo Redentor desviou a maior parte do valor dos ingressos que se paga para ir visitá-lo.

 

VII

 

- Para, criatura. Que coisa irritante! Agora tu só fala em arroz, arroz, arroz...

- É porque feijão só presta com arroz.

- Ah, é? Então vai ficar com fome, porque eu não vou gastar o restinho do meu auxílio pra comprar arroz, não.

 

VIII

 

Enquanto almoçava eu acompanhei a milésima reportagem sobre os incêncios que vêm acabando com o Pantanal mato-grossense. De repente, um fazendeiro da região apareceu na tela com os olhos lacrimejados; e, quando o repórter quis me fazer crer que aquele era um semblante de tristeza pela devastação que o fogo estava causando, eu cá comigo desconfiei que, na verdade, aqueles olhos estavam marejados era por remorso.

 

IX

- Se tu me pedires arroz de novo, eu solto a mão bem no meio do teu focinho, peste. Eu já disse que não tem arroz e que não vou comprar porque o dinheiro não dá?!


X

 

- Vem cá, tu és evangélico de qual tipo: Jair Bolsonaro, Flordelis, Pastor Everaldo, Valdemiro Santiago, Edir Macedo,  Damares Alves, Romildo Ribeiro Soares, Marcelo Crivella ou Eduardo Cunha?

- Não tem outros exemplos, não?

- Piores do que esses, não.

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