1 de outubro de 2022

Vermelho, agora, é a cor da esperança

 Por Sierra


Imagem Internet
Nós precisamos envidar forças para tirar da governança do país essa gente autoritária, preconceituosa, falso moralista, mentirosa, retrógrada, obscurantista, feroz, estúpida e covarde. Lula pode não ser o nome ideal para que consigamos suplantar as instâncias da crueldade, do ódio e da barbaridade que, no momento, tem o seu epicentro no Palácio do Planalto, mas é o que apresenta por ora maior chance de derrotar Bolsonaro e de começar a dar um passo nessa direção


Quem acompanha o que eu escrevo aqui certamente sabe que não foram poucas as vezes em que eu expressei o meu repúdio tanto ao atual desgovernante deste país, o execrável e abjeto Jair Bolsonaro, como ao petista Luiz Inácio Lula da Silva.

Nunca nutri outro sentimento por Bolsonaro que não fosse execração, repúdio, rejeição, objeção e total e completa abominação. Eu tinha um mínimo de conhecimento – mínimo e suficiente, diga-se de passagem – sobre a sua repugnante pessoa para reprovar a sua candidatura à presidência da República quatro anos atrás. Bolsonaro é um animal político da pior estirpe. É um indivíduo cujos valores – se é que se pode denominar o que ele pensa e propaga como valores – éticos e morais são eivados até o tutano de crueldade e perversidade; e só não vê isso quem não quer e/ou quem é da mesma espécie que ele. Bolsonaro é um ser perverso que não respeita absolutamente nada e nem ninguém; e que anseia a todo custo instituir ao seu gosto e vontade um governo autoritário apelando o tempo todo para a negação e o descrédito das instituições e das pessoas que o enfrentam e se contrapõem aos seus anseios malignos e persecutórios. Não pode ser o dirigente de um país alguém que não tem sequer respeito pela pluralidade de ideias quanto mais alguém que, como se isso não bastasse, ataca constantemente minorias, encobre e protege malfeitores, incita confrontos e faz disseminação desenfreada de notícias falsas.

Não foram as investigações que resultaram na prisão de Lula que me afastaram dele. Eu me afastei dele, eu cheguei mesmo a sentir raiva dele, quando veio à tona o escândalo do mensalão; o que se seguiu a partir dali me deu em grande medida o entendimento de que Lula e os seus correligionários do Partido dos Trabalhadores se perderam na selvagem engrenagem da política brasileira cheia até aqui de pessoas que não pensam de fato no engrandecimento e no progresso deste país e sim em locupletarem-se, em se dar bem, em defender lobbies de setores comerciais e em abrigar os seus em alguma boquinha estatal. Mais do que isso, porque seria ingenuidade pensar que os petistas foram enganados e se deixaram levar pelo canto da sereia brasiliense, eles se deslumbraram com o poder, eles como que esqueceram dos ideais basilares que os movia; em suma, eles perderam as rédeas e os rumos do destino que um dia eles almejaram conscientemente, corajosamente e honestamente para o Brasil; e Lula, como líder de todos, pagou o preço maior por tantas arbitrariedades.

Assim como milhares, milhões de brasileiros, eu desacreditei da potencialidade dos governos petistas à medida que as suas figuras proeminentes foram caindo em desgraça e o governo da presidente Dilma Rousseff foi mergulhando numa tragédia econômica. Assim como milhares, milhões de brasileiros eu também me deixei levar pelo enredo de que tudo o que as instâncias da Justiça revelavam sobre Lula eram verdades absolutamente inquestionáveis e que ele precisava ser punido. E ele de fato foi punido. Punido e preso.

Mas como os fatos e as verdades uma fora vêm à superfície, todos nós tomamos conhecimento das artimanhas, das ações combinadas, das arbitrariedades e, por que não dizer, das ilegalidades que, à surdina, autoridades judiciárias até então tidas como heróis da pátria e convertidas em ídolos nacionais, praticaram, porque eram elas mesmas figuras e personagens abjetos que queriam a todo custo prender Lula recorrendo à submissão da Justiça e dos ideais da democracia aos seus intentos e às suas supostamente redentoras motivações moralizantes e protetoras da grandeza da nação, atuando como xerifes de um verdadeiro faroeste caboclo. O que o então juiz Sergio Moro fez em conluio com membros do Ministério Público e sabe-se lá com quem mais, demonstrou que não era, por assim dizer, sede de justiça o que lhe movia; o que se viu nas mensagens trocadas pelo Telegram foi que ocorreu uma orquestração, uma articulação bem urdida e uma parcialidade desmedida para condenar Lula e, quiçá, bani-lo para sempre da vida pública. Tudo se revelou ser um claro e odioso plano de poder. Na esteira disso – e antes que as mensagens do Telegram fossem reveladas - veio a eleição do desprezível Jair Bolsonaro, estando o impoluto e honesto Sergio Moro alinhado e integrando, como ministro, um desgoverno de caráter autoritário e desagregador da sociedade.

Lula é inocente em todos os processos nos quais ele foi condenado? Talvez não seja. O que restou comprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ainda que depois de vários anos, o que nos faz pensar que também os seus membros de algum modo foram cúmplices e/ou vítimas do engodo da chamada República de Curitiba, é que o então juiz Sergio Moro, além de não ter competência enquanto instância judiciária para julgar Lula, agiu de forma deliberadamente parcial contra ele; e, por conta disso, o STF anulou todos os processos.

Visto tudo em seu conjunto a leitura que eu e tantos outros fizeram foi de que houve uma implacável perseguição ao petista com o fito de deixá-lo fora da disputa do pleito de 2018, tendo havido, inclusive, pronunciamento do então comandante das Forças Armadas no sentido óbvio  de intimidar os ministros do STF.

Os que cegamente apostaram num futuro benfazejo para o Brasil votando em Bolsonaro, viram um endemoniado e despreparado presidente diuturnamente atacar a democracia juntamente com os seus sequazes, numa sucessividade de atos e declarações dignos de uma distopia. Bolsonaro e os seus cupinchas trataram de querer transformar este país num imenso curral, como se falassem para seres irracionais que eles pudessem tanger para onde bem entendessem. Foi um horror. Está sendo um horror a bem dizer. E quem continua defendendo a legitimidade e a capacidade Jair Bolsonaro é porque lhe caiu bem o figurino e a designação de gado preso ao cercadinho do curral.

Sinceramente eu esperava que outro nome surgisse entre os dois polos antagônicos Lula versus Bolsonaro. Esperei que aparecesse alguém que conseguisse projetar e encarnar uma ideia de sociedade que suplantasse a polarização doentia e feroz que há anos se implantou por aqui. Infelizmente isso não aconteceu. Os indivíduos que apareceram não conseguiram ver seus nomes crescerem e caírem nas graças do povo. Talvez isso tenha acontecido porque as feridas continuam abertas e ainda nos domina um ânimo beligerante, uma vontade danada de derrotar o outro lado que apontamos como inimigo.

Nós precisamos envidar forças para tirar da governança do país essa gente autoritária, preconceituosa, falso moralista, mentirosa, retrógrada, obscurantista, feroz, estúpida e covarde. Lula pode não ser o nome ideal para que consigamos suplantar as instâncias da crueldade, do ódio e da barbaridade que, no momento, tem o seu epicentro no Palácio do Planalto, mas é o que apresenta por ora maior chance de derrotar Bolsonaro e de começar a dar um passo nessa direção.

O meu voto em Lula amanhã não será apenas um posicionamento contra os males que Bolsonaro implantou e/ou exacerbou neste país, será, sobretudo, um voto de confiança de que, uma vez eleito, ele não repetirá erros de sua gestão e de alguma forma conseguirá devolver a este Brasil alguma alegria. E eu digo isso temendo pela vida do Lula, porque pessoas do lado de lá já deram várias demonstrações de que são capazes de praticar toda e qualquer maldade em nome de seus torpes e autoritários princípios ultradireitistas.

Não concordo com tudo o que a esquerda defende e propõe; assim como não repudio tudo em que a direita acredita e aspira; e me recuso terminantemente a me associar a qualquer desses lados, porque o que me rege, como intelectual, como artista e como cidadão, são os fundamentos da liberdade mais plena que for possível e os princípios da discordância.

Quem defende de verdade a democracia não vota em tiranos.

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