Por Sierra
Quem acompanha o que eu
venho escrevendo aqui há vários anos sabe o quanto eu já demonstrei pouco ou
nenhum interesse pelas chamadas redes sociais. Durante muitos anos eu mantive
uma relação conflituosa com esses espaços por enxergá-los como territórios onde
predominam uma exacerbada e quase doentia glamourização da vida, de um modo
geral, e da juventude, em particular; a exibição e a proliferação de bobagens
de todo tipo; a prática de crimes por quem pensa que tudo pode dizer e mostrar
com o fito de ganhar audiência, enterrar reputações e ser monetizado por isso;
e a disseminação de mentiras em escala ciclópica.
Na minha relação conflituosa
com as redes sociais eu, mais de uma vez, registrei um perfil querendo
participar dessa aldeia virtual global e caí fora em menos de um mês de estada
nelas. Eu não conseguia me adaptar a elas. Eu não tinha traquejo para lidar com
elas. Eu não me permitia aceitar que eu poderia, sim, entrar ali e ali, de
alguma forma, marcar presença, dizer o que eu sou, o que eu penso e o que eu
sinto num vasto mundo de diversidade que é este em que nós vivemos. Mas eu não
conseguia. E pesava muito contra isso, também, o fato de, no mais das vezes,
indivíduos começarem a querer interagir comigo naquele ambiente imaginando que
nada mais eu tivesse que fazer na vida. E então eu caía fora sem dar nem sequer
um tchau.
Outra coisa que pesava
contra a minha presença nas redes sociais era e é o fato de eu ser prolixo. Nossa,
não se pode ser prolixo em texto ou em fala num ambiente em que o que realmente
é valorizado é a imagem, é a brevidade, é a concisão e a fantasia de que tudo
no mundo e/ou na vida de quem se mostra ali, é lindo e maravilhoso. As redes
sociais não admitem fracassados. Não admitem perdedores. Não admitem quem nunca
viajou para fora nem que seja do seu estado natal. Não admitem gente feia. Não admitem
quem não usa filtros para melhorar a aparência. Não admitem quem não tenha uma
companheira belíssima ou um companheiro gatão. Não admitem quem nunca tenha
feito pelo menos dez sessões de aplicação de botox ou meia dúzia de cirurgias
plásticas. Não admitem textões. Não admitem quem não exibe os bens patrimoniais
que possui. E, sobretudo, não admitem, não admitem em hipótese alguma, alguém
que queira dizer que neste nosso vasto mundo o que não falta é gente pobre e
feia, desempregada, que nunca saiu do seu estado natal, que nem sequer conhece
marcas famosas disso e daquilo, que não sabe ler e por isso só se comunica por
mensagens de áudio, que mal tem o que comer e que sobrevive sabe-se lá como.
Do final do ano passado para
cá eu fiz mais uma tentativa de adentrar e de permanecer em algumas das redes
sociais. E saí. E voltei de novo. Eu estou, a bem da verdade, procurando um
modo e um meio de eu me encaixar também no mundo virtual das redes sociais sem
distorcer e nem alterar o que eu sou e o que eu penso fora daquele ambiente. E saí.
E voltei de novo. Eu estou, a bem da verdade, procurando um modo e um meio de
eu me encaixar também no mundo virtual das redes sociais sem distorcer e nem
alterar o que eu sou e o que eu penso fora daquele ambiente. Eu não quero e nem
tenho interesse em permanecer ali na figura de um personagem e nem escondido
num perfil fake, falso. Eu não
pretendo negar o que eu sou estando no mundo virtual; mas eu sei que, de alguma
maneira, eu terei de me adaptar para caber nele, para circular por ele e,
principalmente, para fazer parte dele.
Não sei se eu demorei a ter
consciência disso. Talvez tenham sido os embates que eu travei ao longo dos
anos com as redes sociais que tenham me feito ver, ao fim e ao cabo que, por
mais que eu seja resistente e refratário a muitas ideias e conceitos que
circulam no ambiente virtual dessas redes que eu tantas vezes chamei de
antissociais, eu não posso deixar de admitir que ficar fora delas é ficar de
fora do maior espaço de debates do mundo contemporâneo. Para o bem ou para o
mal é nas redes sociais onde tem sido discutidos temas importantes da
sociedade, entre os quais a própria representatividade do eu de cada um tomada
a partir do que ele expõe ali seja em imagens, seja em fala, seja em textos de
produção pessoal ou de copiar e colar de produções alheias. As redes sociais
podem ser um inferno e um céu, podem ser malditas e benditas a depender de como
mantivermos nosso comportamento nelas.
Como produtor de conteúdo. Como
amigo fiel dos livros. Como intelectual. Como alguém que se julga –
pretensiosamente – possuidor de capacidade de dizer algo minimamente relevante,
eu, ao menos por ora, resolvi ser mais um entre os bilhões de participantes das
chamadas redes sociais. E, acredito, o mundo virtual não irá ficar melhor ou
pior do que ele é por causa disso.
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