11 de março de 2023

Malditas redes sociais! Benditas redes sociais!

 Por Sierra

Imagem: Internet
Para o bem ou para o mal é nas redes sociais onde tem sido discutidos temas importantes da sociedade, entre os quais a própria representatividade do eu de cada um tomada a partir do que ele expõe ali seja em imagens, seja em fala, seja em textos de produção pessoal ou de copiar e colar de produções alheias. As redes sociais podem ser um inferno e um céu, podem ser malditas e benditas a depender de como mantivermos nosso comportamento nelas


Quem acompanha o que eu venho escrevendo aqui há vários anos sabe o quanto eu já demonstrei pouco ou nenhum interesse pelas chamadas redes sociais. Durante muitos anos eu mantive uma relação conflituosa com esses espaços por enxergá-los como territórios onde predominam uma exacerbada e quase doentia glamourização da vida, de um modo geral, e da juventude, em particular; a exibição e a proliferação de bobagens de todo tipo; a prática de crimes por quem pensa que tudo pode dizer e mostrar com o fito de ganhar audiência, enterrar reputações e ser monetizado por isso; e a disseminação de mentiras em escala ciclópica.

Na minha relação conflituosa com as redes sociais eu, mais de uma vez, registrei um perfil querendo participar dessa aldeia virtual global e caí fora em menos de um mês de estada nelas. Eu não conseguia me adaptar a elas. Eu não tinha traquejo para lidar com elas. Eu não me permitia aceitar que eu poderia, sim, entrar ali e ali, de alguma forma, marcar presença, dizer o que eu sou, o que eu penso e o que eu sinto num vasto mundo de diversidade que é este em que nós vivemos. Mas eu não conseguia. E pesava muito contra isso, também, o fato de, no mais das vezes, indivíduos começarem a querer interagir comigo naquele ambiente imaginando que nada mais eu tivesse que fazer na vida. E então eu caía fora sem dar nem sequer um tchau.

Outra coisa que pesava contra a minha presença nas redes sociais era e é o fato de eu ser prolixo. Nossa, não se pode ser prolixo em texto ou em fala num ambiente em que o que realmente é valorizado é a imagem, é a brevidade, é a concisão e a fantasia de que tudo no mundo e/ou na vida de quem se mostra ali, é lindo e maravilhoso. As redes sociais não admitem fracassados. Não admitem perdedores. Não admitem quem nunca viajou para fora nem que seja do seu estado natal. Não admitem gente feia. Não admitem quem não usa filtros para melhorar a aparência. Não admitem quem não tenha uma companheira belíssima ou um companheiro gatão. Não admitem quem nunca tenha feito pelo menos dez sessões de aplicação de botox ou meia dúzia de cirurgias plásticas. Não admitem textões. Não admitem quem não exibe os bens patrimoniais que possui. E, sobretudo, não admitem, não admitem em hipótese alguma, alguém que queira dizer que neste nosso vasto mundo o que não falta é gente pobre e feia, desempregada, que nunca saiu do seu estado natal, que nem sequer conhece marcas famosas disso e daquilo, que não sabe ler e por isso só se comunica por mensagens de áudio, que mal tem o que comer e que sobrevive sabe-se lá como.

Do final do ano passado para cá eu fiz mais uma tentativa de adentrar e de permanecer em algumas das redes sociais. E saí. E voltei de novo. Eu estou, a bem da verdade, procurando um modo e um meio de eu me encaixar também no mundo virtual das redes sociais sem distorcer e nem alterar o que eu sou e o que eu penso fora daquele ambiente. E saí. E voltei de novo. Eu estou, a bem da verdade, procurando um modo e um meio de eu me encaixar também no mundo virtual das redes sociais sem distorcer e nem alterar o que eu sou e o que eu penso fora daquele ambiente. Eu não quero e nem tenho interesse em permanecer ali na figura de um personagem e nem escondido num perfil fake, falso. Eu não pretendo negar o que eu sou estando no mundo virtual; mas eu sei que, de alguma maneira, eu terei de me adaptar para caber nele, para circular por ele e, principalmente, para fazer parte dele.

Não sei se eu demorei a ter consciência disso. Talvez tenham sido os embates que eu travei ao longo dos anos com as redes sociais que tenham me feito ver, ao fim e ao cabo que, por mais que eu seja resistente e refratário a muitas ideias e conceitos que circulam no ambiente virtual dessas redes que eu tantas vezes chamei de antissociais, eu não posso deixar de admitir que ficar fora delas é ficar de fora do maior espaço de debates do mundo contemporâneo. Para o bem ou para o mal é nas redes sociais onde tem sido discutidos temas importantes da sociedade, entre os quais a própria representatividade do eu de cada um tomada a partir do que ele expõe ali seja em imagens, seja em fala, seja em textos de produção pessoal ou de copiar e colar de produções alheias. As redes sociais podem ser um inferno e um céu, podem ser malditas e benditas a depender de como mantivermos nosso comportamento nelas.

Como produtor de conteúdo. Como amigo fiel dos livros. Como intelectual. Como alguém que se julga – pretensiosamente – possuidor de capacidade de dizer algo minimamente relevante, eu, ao menos por ora, resolvi ser mais um entre os bilhões de participantes das chamadas redes sociais. E, acredito, o mundo virtual não irá ficar melhor ou pior do que ele é por causa disso.

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