Por Sierra
Ontem à noite, após o
jantar, enquanto lavava a louça eu me vi tomado por uma súbita tristeza por ter
tido conhecimento, ainda durante a refeição, que algo que eu planejara e me
esforçara e fizera de tudo para que acontecesse simplesmente não aconteceu. E,
enquanto chorava, eu fui me dizendo que lamentava por tudo aquilo e que não
fora ainda daquela vez, mas haveria de ser qualquer dia desses que eu lograria
êxito.
Não é fácil se reerguer de
fracassos sejam eles de que natureza for. Não é um exercício simples se
recompor, realinhar rota, refazer o projeto, redirecionar o destino daquilo que
foi planejado, repensar estratégias, redefinir propósitos e, sobretudo,
continuar acreditando que, sim, vai dar certo, porque a ideia é boa e o propósito
de conquista é legítimo.
Quantas foram as vezes que
você apresentou um projeto para alguém e esse alguém não lhe encorajou a seguir
adiante, seja porque o seu interlocutor não entendeu bem o que você propôs, seja
porque ele não deu a mínima para você, porque ele só estava fazendo de conta
que lhe ouvia, seja porque, enfim, o indivíduo considerou que você estava era “viajando
na maionese”, apresentando a ele algo que não tinha a mínima chance de dar
certo? Eu já me deparei com todos esses tipos de interlocutores. Foram pouquíssimos
os que se entusiasmaram com o meu entusiasmo e que me incentivaram a manter o
foco no meu ideal de conquista.
Por vezes nós olhamos ao
nosso redor e o que mais enxergamos são obstáculos e portas fechadas para os
propósitos que traçamos para a nossa caminhada. E são esses obstáculos e essas
portas fechadas que podem fazer com que abandonemos nossos planos, que paremos
de produzir o que acreditamos fazer tão bem e que deixemos para trás e/ou
enterremos para sempre tudo aquilo que fomos capazes de conceber e de imaginar
labutando solitariamente durante horas, dias, semanas, meses e anos a fio.
O pior dos instantes do
fracasso é quando você não tem uma maturidade e nem um autoconhecimento
suficientemente fortes e robustos para suportar o baque do momento e levantar a
cabeça depois do choro e da tristeza. Tempo houve em que, nessas horas, eu
chegava a reduzir em mil pedaços o que foi reprovado e o jogava na lixeira; ou
então o punha no terreiro para nele atear fogo, vendo se consumir nas chamas o
que eu construíra com tanta dedicação.
Felizmente esse tempo ruim
passou. E deixou cicatrizes em minha memória. E isso não foi de todo ruim,
porque foram justamente essas cicatrizes que me ensinaram a ter outro comportamento
diante do fracasso, da reprovação e do “eu não estou nem aí para o que você faz”.
Eu ainda choro nesses momentos, mas não tenho mais ataques de fúria e nem
promovo destruição dos testemunhos do meu fracasso. Eu aprendi a guardá-los para
outra tentativa de acerto, para outro plano de voo e para outra meta de
conquista.
Eu aprendi com meus erros e
com toda essa vivência de empenho em querer acertar que é claro que, uma vez
que eu me exponho mais e que eu faço mais projetos, eu aumento a quantidade de
vezes tanto de acertos como de erros, porque só erra e/ou acerta quem sai em campo
para enfrentar a incerteza. É o óbvio ululante: num jogo em que não vale o
empate, você vai ganhar ou vai perder. Simples assim.
Sinceramente eu não tolero
mais o “eu tenho de vencer a todo custo” que uns e outros proclamam por aí como
um ideal de existência. De verdade, eu nunca nem sequer cogitei “vender a alma
ao diabo” para que os meus propósitos fossem alcançados. Não tenho vocação para
me submeter a pessoas e a situações que eu repugno para atingir os meus objetivos.
O dito “os fins justificam os meios” não é a divisa do meu plano de alcance de
reconhecimento e de conquista.
Os obstáculos, as portas
fechadas, as falas desmotivadoras, os erros, os fracassos, as quedas, os
tombos, as reprovações e os nãos não conseguiram e nem irão me fazer desistir,
porque eu me recuso terminantemente a interromper a minha jornada, porque eu
acredito muitíssimo no que eu faço, porque eu sei claramente dos meus pontos
fortes e fracos e das minhas potencialidades e limitações, de modo que o meu
choro e a minha tristeza se não são inevitáveis, por outro lado, eles não me
exaurem, não tiram as minhas forças, não me desanimam, não corroem o meu
processo criativo, não apagam os rastros que eu deixei em meu caminho para
saber voltar e não roubam de mim a crença no triunfo.
Eu choro, eu fico triste, eu
lamento, mas eu não desisto.
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