17 de junho de 2023

Sobre não desistir

 Por Sierra

 


Foto: Arquivo do Autor
Os obstáculos, as portas fechadas, as falas desmotivadoras, os erros, os fracassos, as quedas, os tombos, as reprovações e os nãos não conseguiram e nem irão me fazer desistir, porque eu me recuso terminantemente a interromper a minha jornada


Ontem à noite, após o jantar, enquanto lavava a louça eu me vi tomado por uma súbita tristeza por ter tido conhecimento, ainda durante a refeição, que algo que eu planejara e me esforçara e fizera de tudo para que acontecesse simplesmente não aconteceu. E, enquanto chorava, eu fui me dizendo que lamentava por tudo aquilo e que não fora ainda daquela vez, mas haveria de ser qualquer dia desses que eu lograria êxito.

Não é fácil se reerguer de fracassos sejam eles de que natureza for. Não é um exercício simples se recompor, realinhar rota, refazer o projeto, redirecionar o destino daquilo que foi planejado, repensar estratégias, redefinir propósitos e, sobretudo, continuar acreditando que, sim, vai dar certo, porque a ideia é boa e o propósito de conquista é legítimo.

Quantas foram as vezes que você apresentou um projeto para alguém e esse alguém não lhe encorajou a seguir adiante, seja porque o seu interlocutor não entendeu bem o que você propôs, seja porque ele não deu a mínima para você, porque ele só estava fazendo de conta que lhe ouvia, seja porque, enfim, o indivíduo considerou que você estava era “viajando na maionese”, apresentando a ele algo que não tinha a mínima chance de dar certo? Eu já me deparei com todos esses tipos de interlocutores. Foram pouquíssimos os que se entusiasmaram com o meu entusiasmo e que me incentivaram a manter o foco no meu ideal de conquista.

Por vezes nós olhamos ao nosso redor e o que mais enxergamos são obstáculos e portas fechadas para os propósitos que traçamos para a nossa caminhada. E são esses obstáculos e essas portas fechadas que podem fazer com que abandonemos nossos planos, que paremos de produzir o que acreditamos fazer tão bem e que deixemos para trás e/ou enterremos para sempre tudo aquilo que fomos capazes de conceber e de imaginar labutando solitariamente durante horas, dias, semanas, meses e anos a fio.

O pior dos instantes do fracasso é quando você não tem uma maturidade e nem um autoconhecimento suficientemente fortes e robustos para suportar o baque do momento e levantar a cabeça depois do choro e da tristeza. Tempo houve em que, nessas horas, eu chegava a reduzir em mil pedaços o que foi reprovado e o jogava na lixeira; ou então o punha no terreiro para nele atear fogo, vendo se consumir nas chamas o que eu construíra com tanta dedicação.

Felizmente esse tempo ruim passou. E deixou cicatrizes em minha memória. E isso não foi de todo ruim, porque foram justamente essas cicatrizes que me ensinaram a ter outro comportamento diante do fracasso, da reprovação e do “eu não estou nem aí para o que você faz”. Eu ainda choro nesses momentos, mas não tenho mais ataques de fúria e nem promovo destruição dos testemunhos do meu fracasso. Eu aprendi a guardá-los para outra tentativa de acerto, para outro plano de voo e para outra meta de conquista.

Eu aprendi com meus erros e com toda essa vivência de empenho em querer acertar que é claro que, uma vez que eu me exponho mais e que eu faço mais projetos, eu aumento a quantidade de vezes tanto de acertos como de erros, porque só erra e/ou acerta quem sai em campo para enfrentar a incerteza. É o óbvio ululante: num jogo em que não vale o empate, você vai ganhar ou vai perder. Simples assim.

Sinceramente eu não tolero mais o “eu tenho de vencer a todo custo” que uns e outros proclamam por aí como um ideal de existência. De verdade, eu nunca nem sequer cogitei “vender a alma ao diabo” para que os meus propósitos fossem alcançados. Não tenho vocação para me submeter a pessoas e a situações que eu repugno para atingir os meus objetivos. O dito “os fins justificam os meios” não é a divisa do meu plano de alcance de reconhecimento e de conquista.

Os obstáculos, as portas fechadas, as falas desmotivadoras, os erros, os fracassos, as quedas, os tombos, as reprovações e os nãos não conseguiram e nem irão me fazer desistir, porque eu me recuso terminantemente a interromper a minha jornada, porque eu acredito muitíssimo no que eu faço, porque eu sei claramente dos meus pontos fortes e fracos e das minhas potencialidades e limitações, de modo que o meu choro e a minha tristeza se não são inevitáveis, por outro lado, eles não me exaurem, não tiram as minhas forças, não me desanimam, não corroem o meu processo criativo, não apagam os rastros que eu deixei em meu caminho para saber voltar e não roubam de mim a crença no triunfo.

Eu choro, eu fico triste, eu lamento, mas eu não desisto.

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