10 de fevereiro de 2024

Não hesite: escolha sempre a alegria

 Por Sierra



Foto: Arquivo do Autor
O Recife pegando fogo durante o desfile do Galo Madrugada neste sábado. Com sol, com chuva, com temperatura nas alturas ninguém deixou a folia de rua que continua sendo um grande atrativo para milhões de pessoas por este Brasil afora


Entra ano e sai ano e a magia do Carnaval permanece acesa como se fosse uma chama eterna que milhões de pessoas cuidam de aumentar a potência para que ela ilumine e intensifique a irreverência, a greia e principalmente a alegria.

Não há festa popular no Brasil que provoque tanta euforia e tanta animação como o danado do Carnaval. E ela mexe tanto com tanta gente que começa semanas antes do início estabelecido no calendário, porque, para aqueles que gostam do acontecimento, há um forte desejo de querer aumentá-lo quanto for possível.

Outra vez eu estive trabalhando durante o desfile do Galo da Madrugada, do pernambucaníssimo Galo da Madrugada, que invade diversas ruas dos bairros de São José e Santo Antônio, na área central do Recife. E pelos logradouros por que passei eu pude ver nos rostos de muitos foliões aquele brilho indescritível que a satisfação costuma produzir em quem a sente. De lá para cá e de cá para lá vinham e iam pessoas fantasiadas, grupos diversos superanimados, indivíduos entoando com fôlego a canção que estava sendo cantada pelo artista em cima do trio elétrico. E isso me encheu de um entusiasmo que vocês nem imaginam.

De fato, não é preciso ir a bailes nem acompanhar trios elétricos ou ir para a frente de um palco armado em praça pública para vivenciar o Carnaval. A magia e a alegria das folias de Momo podem ser experimentadas onde quer que nós estejamos, desde que queiramos e nos dispusemos para isso. Pode ser na vizinhança de casa ou dentro da própria casa curtindo um som, dançando, se divertindo e mesmo acompanhando os festejos pela televisão, porque, caso goste mesmo do Carnaval, cada um o vivencia e o exalta como pode e quer.

Não acredito que alguém possa ficar indiferente ao Carnaval - nem os que o repudiam ficam imunes a ele, porque o Carnaval é quase onipresente neste país. De modo que, mesmo falas como as que eu ouvi hoje no Recife, falas de uma kardecista, que disse que a escultura do Galo da Madrugada, montada na Ponte Duarte Coelho, está este ano com um símbolo do anticristo, e que o Homem da Meia Noite é um demônio, a festa acontece contagiando e envolvendo multidões que não dão ouvidos aos seus detratores e estraga prazeres como a tal mulher.

Onde uns e outros enxergam permissividade, outros veem irreverência. Onde uns e outros enxergam evocações demoníacas, outros veem culto às ancestralidades de quem as exibe. Onde uns e outros enxergam desperdício de tempo e dinheiro, outros veem um investimento justo e preciso na sua satisfação pessoal. Onde uns e outros enxergam promiscuidade e devassidão, outros veem a plenitude do existir em comunhão com seus prazeres. Onde uns e outros enxergam uma afronta aos valores morais e familiares, uns veem o extravasar da imensa vontade de fazer a vida vibrar na maior potência que for possível enquanto durar a folia carnavalesca.

No dia em que os detratores do Carnaval se derem conta do muito do bom que perderam da folia e resolverem pôr o Bloco dos Arrependidos na rua, eles constatarão, no meio da massa, que o verdadeiro inferno que existe é aquele repleto de gente ruim, antipática, falso moralista, intolerante, hipócrita, preconceituosa e contrária à alegria, ao prazer e à satisfação alheia do qual eles faziam parte. Poucas coisas são tão desagradáveis nesta vida do que pessoas que ficam o tempo todo dizendo que nós vamos para o inferno. Essas criaturas não caem na real e não percebem que elas é que são o nosso inferno.

Na vizinhança da minha casa, na Ilha de Itamaracá, o clima de festa está em alta voltagem. O pessoal não cede espaço para o desânimo e nem para a tristeza. A alegria toma um energético e outros estimulantes e aditivos para se esbaldar até a Quarta-feira de Cinzas chegar. Ligam os aparelhos de som, organizam bloquinhos e saem por aqui defendendo a dimensão do prazer que querem alcançar.

Todos os anos as cenas de euforia se repetem e deixam sempre um gostinho de quero mais, porque, caso isso fosse possível e o nosso organismo suportasse tanta dose de alegria e adrenalina, atravessaríamos todo um mês curtindo a folia momesca dizendo a quem quisesse ouvir que viver sem alegria é outra coisa e não propriamente vida, porque é nas estâncias da alegria que todos e cada um de nós quer realmente viver. Sim, é claro que a alegria não reside unicamente no acontecimento Carnaval. É óbvio que não. Tem gente que encontra uma alegria tamanha se isolando completamente da folia carnavalesca e fazendo de conta que ela não existe. Ora, cada um é cada um. A minha escolha tem sido pelo Carnaval. E quem quiser que busque outra alternativa para a obtenção de alegria, só não hesite e nem abra mão dela - e nem condene a minha.

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