17 de fevereiro de 2024

Carnaval, sim! Apocalipse, não!

 Por Sierra


                                                                  Especialmente para André Araújo, o Bebê, folião que já se fantasiou até de Smurf e que aniversaria hoje


Fotos: Arquivo do Autor
Seguindo para o Largo do Amparo a ordem é tocar o sino dos cornos. Só toca quem já levou gaia, visse? Agora tu não vais fazer de conta que não levasses, por favor, que mentir é feio


No Carnaval deste ano eu fui inteiramente contagiado pelo samba enredo da Escola Mocidade Independente de Padre Miguel. "Prepare o seu coração/ Vem aí a escola da emoção/ Vem aí...". Esta introdução era e é por si mesma uma alegria. Aí vinha um José Paulo Sierra - um Sierra, um xará - esfuziante e vibrante comandando  o canto e chamando a bateria de Mestre Dudu. Foi maravilhoso isso. "Meu caju, meu cajueiro/ Pede um cheiro que eu dou...". Cantei a valer cheio de entusiasmo. A Mocidade não ganhou o desfile, mas ganhou, informalmente, escolhida pelo grande público, a certeza de que apresentou, na quarentona Marquês de Sapucaí, um samba enredo que caiu na boca do povo como há muito não se via. Foi arretado demais isso.


Primeiro dia no Largo do Amparo: alegria, alegria. Oba!





A princípio eu estava borocoxô e sem disposição para sair, pegar os busões da vida e ir curtir o Carnaval nas ladeiras de Olinda e no Bairro do Recife. No domingo eu fiquei em casa chocando os ovos ao mesmo tempo em que dava conta da feitura de um texto e acompanhava a folia pela TV e pelo telefone celular. Mas no dia seguinte. Ah, meu nego, ah, minha nega,  no dia seguinte não teve borocoxô certo: eu almocei, me aprontei e caí no meio do mundo, porque sete vidas quem tem é gato.



Eu no meio do Bloco Quase Que Não Sai na Rua do Amparo





Peguei dois ônibus para chegar a Olinda já decidido a só ficar por ali mesmo e não ir ao Recife. Não tive problemas com os busões. Pelo contrário. Foi tudo tranquilo. Não peguei nem ônibus cheio.

Muita gente subindo e descendo ladeira, porque Seu Rei mandou dizer que quem não gosta do Carnaval de Olinda vai para outro lugar...


... Não foi, Dona Florinda?


Como eu tenho feito nos últimos anos, quando vou sozinho para o Carnaval de Olinda, eu  adentro o sítio histórico e o espaço da folia pelo Largo do Amparo. Olinda possui vários pontos  marcantes no que diz respeito aos festejos de Momo - Quatro Cantos, Rua de São Bento, Rua do Amparo, etc. - e o Largo do Amparo é certamente um deles, porque, além de ser um espaço que fica pertinho da sede do Clube Carnavalesco Vassourinhas, é o lugar por onde passam muitos blocos e troças, o Homem da Meia Noite e outros gigantes da festa.


Com a turma do Grupo Grheia: pense num divertimento bom da gota!








Seguindo em direção ao Largo do Amparo, na Rua Nossa Senhora de Guadalupe,  eu toquei o sino dos que já levaram gaia na vida. Ri o riso bom dos que entram logo no clima da irreverência. E me detive por um tempo ali, no adro da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, cantando e dançando junto a uma pequena orquestra que estava animando o povo.

Daí a pouco eu segui o Bloco Quase Que Não Sai, que tomou a direção da Rua do Amparo. Pense numa coisa boa que é se deixar levar pela alegria e pela euforia estando onde se quer e como se quer.



Meu segundo dia no Carnaval de Olinda: de novo começando pelo Largo do Amparo









Dali eu me dirigi até o Alto da Sé. E, junto ao Observatório Astronômico, eu me deparei com uma turma danada que cantava e dançava na maior zorra, acompanhada por uma plateia para lá de entusiasmada à qual eu tratei logo de me integrar, que eu não sou besta. Era o Grupo Grheia (  Grupo Recreativo Hedonista Irreverente de Amigos Percussivos Alto da Sé), que estava  ali. Gente, como foi divertido cantar e dançar celebrando Reginaldo Rossi e outros cantores marcantes do brega . E teve mais do que isso, visse? Lá pelas tantas nós entoamos até um "Sem anistia!" para lembrar que nós esperamos que a Justiça não dê nenhuma colher de chá ao traste do Jair Bolsonaro.

Mantendo o pique e caminhando por entre milhares de foliões, eu fui curtir uma parte do show do Siba, no Polo Erasto Vasconcelos, na Praça do Carmo. E assim eu preenchi o meu primeiro dia de aproveitamento do Carnaval.

No dia seguinte, na chamada Terça-feira Gorda, lá fui eu novamente me acabar no sobe e desce das ladeiras de Olinda. Ufa! O negócio é bom, mas cansa que só, visse?! Cansa e mesmo assim quem gosta do negócio não quer arredar o pé da agitação e nem sair do meio da multidão.

Ainda mais do que no dia anterior, eu me demorei no Largo no Amparo. Estava tão bom ali. A mesma orquestra da segunda-feira marcou presença e pôs todo mundo que a cercou para cantar e dançar. Mascarados. Caras limpas. Homem. Mulher. Uns já turbinados, cheios de álcool. Outros fumando um baseadozinho. Nada como o prazer, não é? Nada mesmo.


Na concentração à espera da saída da Troça Carnavalesca Ceroula: foi bom que só!









Andando que só a má notícia eu tomei o rumo da Praça do Jacaré, passando pelo Alto da Sé e descendo pela Ladeira de São Francisco para ficar na concentração, esperando pela saída da Troça Carnavalesca Ceroula. Uma multidão acompanhou a troça que celebrou esse mestre de todos nós que é o educador Paulo Freire.

Depois disso, eu fui prestigiar a muitíssimo boa e empolgante apresentação da banda Mestre Ambrósio, um dos grandes nomes da cena e do Movimento Manguebeat, na Praça do Carmo. Foi muito massa.

E assim eu cumpri a minha breve agenda de folião e súdito do rei Momo, tendo consciência de que o bom, o muito bom de toda e qualquer festa é a festa interior que ela provoca dentro da gente, pondo em ebulição uma variedade de sensações e sentimentos.

Enquanto isso, lá na Bahia, Baby do Brasil resolveu bancar a profetisa e anunciar o fim do mundo. Poxa, Baby do Brasil querida, apocalipse numa hora dessa não dá, mulher. Deixa esse apocalipse para lá porque o bom da vida pode começar e recomeçar, é só querer. Aproveita, visse?!

Um comentário:

  1. Sinto-me completamente lisonjeado pela homenagem, saudoso e até um pouco melancólico por não estar em Recife / Olinda por estes dias, e feliz em saber que o Rei Momo continua encantando seus súditos. Até aqueles mais rabugentos!!

    Ah, daqui do Rio também cantei a plenos pulmões: "Meu caju, meu cajueiro Pede um cheiro que eu dou O puro suco do fruto do meu amor..."

    Beijos, Sierra!

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